Há 25 anos, Silvio Santos tentou presidência; você votaria?

Apresentador lançou candidatura pouco antes da eleição e estremeceu o pleito

12 set 2014 - 08h04
Silvio Santos se candidatou à Presidência em 1989
Silvio Santos se candidatou à Presidência em 1989
Foto: Reprodução

Muitos não lembram, outros nem sabem, mas há 25 anos o apresentador Silvio Santos se candidatou à Presidência do Brasil. Após muitas especulações sobre se seria candidato ou não, o Homem do Baú decidiu lançar-se como postulante ao mais alto cargo da Nação e estremeceu o pleito, que até então era liderada com folga por Fernando Collor de Mello (PRN).

O curioso é que um ano antes, em depoimento no SBT, canal do qual já era dono, Silvio Santos negou qualquer envolvimento político. “Se o Silvio Santos um dia for candidato a qualquer cargo eletivo, e se o Silvio Santos apontar qualquer um candidato às eleições, não votem no Silvio Santos e nem em quem ele apontar, porque o Silvio Santos vai estar tapeando vocês. Não quero ser político e não vou apontar ninguém pra presidente da República”, afirmou em 1988.

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Um ano depois, contudo, o apresentador mudou de opinião. Silvio Santos recebeu convite de diversos partidos políticos para se candidatar, principalmente porque as pesquisas de intenção de voto o apontavam na liderança. Um dos levantamentos, divulgado pelo extinto Jornal da Tarde, mostrava Silvio Santos em primeiro lugar na corrida presidencial, com 34% das intenções de voto, mesmo com o apresentador não sendo candidato.

Veja o primeiro programa político de Silvio Santos na TV
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O primeiro partido a despertar realmente o interesse em Silvio Santos foi o PFL. Pouco menos de um mês antes da eleição, o Homem do Baú afirmou que se reuniu com o então senador Edison Lobão e com o presidente do partido, Hugo Napoleão, que o convidaram para assumir a candidatura, caso o então candidato Aureliano Chaves desistisse. “Se ele desistir, nós queremos contar com você”, teria dito Lobão a Silvio.

“Eu disse: podem contar comigo. Porque por mais de uma vez me ofereceram a candidatura para presidente da República. Podem contar porque alguma força está me ajudando nessa decisão. Minha mulher já foi preparando minhas filhas que são pequenas para mudar pra Brasília. Eu concordo, mas quero conversar com o Aureliano”, contou Silvio, na época.

Contudo, Aureliano Chaves decidiu manter a candidatura, mesmo com a contrariedade de parte da sigla. Apesar de não poder disputar o pleito pelo PFL, Silvio Santos se animou com a possibilidade de ser presidente e começou a buscar alternativas.

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Sem acordo com o PFL, os boatos chegaram. Foi aventada a possibilidade de Silvio sair candidato pelo PL, mas Afif Domingos também não renunciou - queria Silvio como vice. O apresentador não aceitou a proposta e passou a ser cortejado por vários partidos. A decisão sobre a candidatura saiu quando ele se reuniu com Armando Corrêa, presidenciável pelo “nanico” PMB (Partido Municipalista Brasileiro). Corrêa ofereceu a legenda e o lugar, mas queria que Silvio se comprometesse com as propostas do partido. Silvio aceitou a pouco mais de 20 dias para a eleição.

“Eu acho que tenho condições de ganhar. Vai depender do povo. Tenho muita sinceridade, tenho sensatez. Temos de nos assessorar com pessoas de bem. Eu vou me assessorar com bons ministros. Tenho muitas condições de fazer um bom governo”, afirmou Silvio logo após decidir pela candidatura.

O pleito de 1989 foi a primeira eleição direta para presidente desde o golpe militar de 1964. A última havia ocorrido em 1960, quando Jânio Quadros foi eleito. Portanto, os brasileiros não votavam para presidente havia 29 anos.

Candidato do povo

Já famoso por seus programas no SBT aos domingos, Silvio Santos apostava em seus fãs para vencer a eleição. Sempre que falava sobre a candidatura, o Homem do Baú agradecia ao “carinho do povo” e fazia questão de destacar que seu governo seria transparente com os eleitores.

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“Vou esclarecer ao povo tudo aquilo que fizer, mostrando ao povo meu trabalho. Tenho certeza que conversando com o povo, formadores de opinião e políticos, poderemos todos juntos fazer do nosso País um local mais próspero e o povo mais feliz”, disse na época. “Administrar um país não é difícil. Basta que nós sejamos sinceros, falemos com o povo, apresentemos os problemas para o povo e tentar resolver o problema junto com o povo”.

Sobre os apoios políticos na época, Silvio dizia não se preocupar e prometia se assessorar muito bem para conseguir resolver os problemas dos cidadãos. “Eu seria um candidato do povo, eu não me preocuparia com apoio de A, B, ou C. Claro que se todos me apoiassem eu não ficaria contrariado. Cada um tem uma forma de governar, cada um deles (candidatos) sabe sobre reforma agrária, divida externa, inflação, salário mínimo. Eu teria meus métodos. Iria me assessorar muito bem, como faço nas minhas empresas. Iria querer resolver e tratar de um assunto de cada vez e diante das alternativas separar as boas e as ruins e escolher”.

Em outra declaração, Silvio falou sobre o trabalhador brasileiro. “Não estou preocupado com direita, esquerda, centro. Estou preocupado com o bem viver do cidadão, das empresas, do País. Acho que o homem deve ter 8 horas por dia para trabalhar e 8 horas para descansar. Acho que isso é o suficiente para viver bem”.

Salário mínimo e inflação

Um dos maiores problemas enfrentados pelo Brasil em 1989 era a inflação alta, que chegava a fazer os preços variarem muito em um único dia. Além disso, o salário mínimo era baixo, comprometendo o poder de compra do brasileiro.

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“Meu primeiro assunto, no caso de me eleger, seria terminar com a inflação. O segundo seria resolver o problema do salario mínimo. O terceiro seria a saúde. A principal preocupação do homem simples, do homem que trabalha e tem dificuldade, é quando ele tem um problema de saúde. Ele não tem condições de pagar um médico, comprar um remédio, então seria um problema a resolver. O quarto seria habitação, o aluguel que vai subir e não temos onde morar. E o quinto problema que tratarei é a educação. Tenho que atacar um problema de cada vez. Não acredito que alguém possa atacar todos os problemas juntos. Temos de atacar um de cada vez”, falava o confiante Silvio Santos.

O salário mínimo era, de fato, uma das principais preocupações do dono do SBT na época. Silvio Santos não falava em valores, mas dizia que o salário deveria ser digno. “Acho que o salário mínimo no Brasil é ridículo. Acho que a pessoa que trabalha, independente da idade, quem trabalha 8 horas por dia, no final do mês tem que receber um salário mínimo que seja suficiente pra sustentar esposa e dois filhos. Agora se eu disser quanto, eu seria demagogo. Quanto? É estudar o valor que um chefe de família com esposa e dois filhos deve ganhar no fim do mês para trabalhar e viver com dignidade, ter prazer pelo trabalho. Eu tenho que estudar esse quanto”, afirmou.

Liderança nas pesquisas

A maioria das pesquisas na época apontava que Silvio Santos estaria no segundo turno. Com a candidatura do apresentador, alguns levantamentos mostravam que os que mais perdiam votos eram Collor e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que caiam até 5%.

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Logo após o anúncio da candidatura, Silvio Santos já desbancou Collor em uma pesquisa do Instituto Gallup – foi a primeira vez que o futuro presidente saiu da liderança do pleito. O Homem do Baú liderava as intenções de voto com 29%, seguido por Collor, que tinha 18,6%. Em terceiro lugar estava Lula, com 10,6% - Collor e Lula se enfrentaram no segundo turno, vencido pelo candidato do PRN.

Silvio Santos explica como o povo deve fazer para votar nele
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Contudo, a grande dificuldade de Silvio Santos era fazer o eleitor entender como votar nele. Como era candidato de última hora, o nome do apresentador não aparecia na cédula, e sim o do antigo candidato do PMB – Armando Corrêa – à época, não havia urna eletrônica, todos os votos eram em cédulas de papel e depositadas em uma urna. Algumas pesquisas que não colocavam Silvio Santos, mas sim Corrêa, mostravam a dificuldade do apresentador, que usava seus programas eleitorais de rádio e TV para explicar como votar nele.

Candidatura e cassação

Silvio Santos entrou com o pedido oficial de candidatura no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no dia 4 de novembro. Dois dias depois, o PRN, partido de Collor, entrou com pedido para a extinção do partido do apresentador.

Coligações e tempo de TV

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A alegação era de que o PMB não havia feito o número mínimo de convenções exigido pela legislação eleitoral. No mesmo dia, a menos de dez da eleição, o Ibope divulgou uma pesquisa apontando Collor na liderança, com 23%, seguido de Silvio Santos, com 18% e Brizola, com 14%. Após a divulgação do Ibope, o TSE recebeu mais 14 pedidos contra a candidatura de Silvio Santos.

No dia 9 de novembro de 1989, o TSE caçou, por unanimidade, o registro do PMB, e anulou a candidatura de Silvio Santos. O PMB deveria comprovar as convenções em nove Estados, mas fez apenas em quatro. Com isso, o TSE entendeu que o partido não existia, o que tornava inválida a candidatura do Homem do Baú, que decidiu não recorrer da decisão.

Assim terminou a aventura presidencial de Silvio Santos, que decidiu voltar aos programas de domingo com suas atrações e aviõezinhos para o auditório e deixar de lado a política. E você, votaria no dono do SBT para presidente da República?

Fonte: Terra
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