BRASÍLIA - A Igreja Universal do Reino de Deus, liderada pelo bispo Edir Macedo, convocou os fiéis para fazerem um jejum de informações e "notícias seculares" (notícias não religiosas) no meio da campanha eleitoral. A instituição não vinculou a iniciativa às eleições, mas acontece durante o período em que os eleitores decidem em quem votar na disputa.
A convocação foi feita por pastores nos púlpitos e pela igreja nas redes sociais. Edir Macedo incentivou publicamente os fiéis a adotarem a restrição. Essa prática é comum em igrejas evangélicas e geralmente envolve um período de devoção sem se alimentar. Desta vez, porém, a Universal elaborou um formato diferente e, em vez de tirar a comida, orientou os crentes a ficarem sem acessar notícias, redes sociais e até músicas entre 28 de agosto e 18 de setembro. Segundo a instituição, o objetivo é "receber o Espírito Santo".
"Em primeiro lugar, durante 21 dias, é preciso se abster de entretenimento, músicas e notícias seculares. Assim como Daniel não se alimentou de manjares e alimentos desejáveis, você vai deixar de consumir esse tipo de conteúdo, que são prazerosos à sua carne", diz o comunicado da igreja. O nome "Daniel" faz referência a um profeta do Antigo Testamento que se absteve de comer "manjares" (comidas prazerosas como carne e vinho) na Babilônia.
Em abril, a igreja havia convocado um jejum semelhante. Na ocasião, o bispo Edir Macedo deu orientações sobre como os fiéis deveriam agir. "É um jejum não de comida, nem de bebida, mas um jejum de informações, que é o mais difícil. É ou não é? É o mais difícil porque as pessoas são ávidas, são viciadas em informações. É ou não é verdade? Eu gosto de informações, eu gosto de estar atualizado também, mas eu vou abrir mão para me unir com vocês nessa fé", afirmou o líder da igreja.
Estamos na reta final do Jejum de Daniel. Até aqui você decidiu priorizar a voz de Deus, deixando todo o...
Posted by Igreja Universal on Wednesday, September 14, 2022
Edir Macedo é aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição. Nos governos do PT, ele já foi próximo a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal adversário de Bolsonaro na disputa. Em julho, Bolsonaro se encontrou com o bispo durante a inauguração de um templo da igreja no Distrito Federal.
O Republicanos, um dos partidos do Centrão que compõe a coligação do atual presidente, foi fundado por bispos da Universal e é base de Bolsonaro no Congresso. "Independe de eleição é uma campanha espiritual que acontece duas vezes por ano", afirmou o deputado federal e presidente do Republicanos, Marcos Pereira, afastando a relação do jejum com as eleições. Procurada, a Universal ainda não se manifestou.
O eleitorado evangélico é estratégico para Bolsonaro. A Igreja Universal calcula ter 7 milhões de fiéis no Brasil. Na prática, ficar sem ler notícias deixaria essas pessoas sem acesso às informações sobre os candidatos e os atos do governo em plena campanha. Pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira, 15, mostra que o atual presidente têm 49% de preferência entre os evangélicos para o primeiro turno da eleição presidencial, contra 32% de Lula. A diferença entre os dois caiu de 23 para 17 pontos em uma semana.