Influenciadores bolsonaristas disputam eleitor jovem com a esquerda

Aliados de Bolsonaro reagem à ações de personalidades e artistas identificados com a esquerda pelo alistamento eleitoral

11 abr 2022 - 05h10
(atualizado às 06h53)
Título de eleitor
Título de eleitor
Foto: Roberto Gardinalli/Futura Press

Os jovens brasileiros de 16 a 17 anos, que têm direito ao voto facultativo, tornaram-se alvo de uma nova disputa entre direita e esquerda nas redes sociais. Com a aproximação do fim do prazo para a emissão de novos títulos eleitorais, influenciadores e políticos bolsonaristas criaram a campanha "Sou Jovem, Sou Bolsonaro".

Foi uma reação a ações pelo alistamento eleitoral e o voto contra o presidente de personalidades e artistas identificados com a esquerda, como Anitta, Pablo Vittar e Felipe Neto. Os dois lados disputam os cerca de 10 milhões de brasileiros de 16 e 17 anos. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 2022 é um dos anos de menor emissão de títulos das história. A Corte tem feito campanha para conquista do voto adolescente.

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Entre 1º de março e 6 de abril, foram identificadas 287,7 mil postagens no Twitter com hashtags convocando a participação de jovens nas próximas eleições. A informação foi apurada pela Diretoria de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP). A campanha encabeçada pelos influenciadores alinhados ao governo e por aliados do presidente Jair Bolsonaro produziu o momento de maior agitação em torno do assunto. Foi em 26 de março, quando o debate contabilizou 167 mil tuítes, com menções pelas hashtags #jovenscombolsonaro e #soujovemsoubolsonaro.

A ação contou com deputados federais, como Bia Kicis (PL-DF) e Carla Zambelli (PL-SP), a deputada estadual Ana Caroline Campagnolo (PL-SC) e o vereador por Belo Horizonte Nikolas Ferreira (PL-MG), um dos mais influentes nas redes sociais. Em um dos vídeos compartilhados pelo mineiro, influenciadores convocam os jovens para que eles tirem o título de eleitor e criticam a campanha promovida pelo TSE e pela esquerda.

 

"Nós temos visto pessoas públicas usarem da sua influência para corromper a nossa fé", diz um dos trechos da publicação de que Nikolas participa. "Figuras que desprezam a imagem de um Criador, repudiam a Bíblia e atacam a família. Esses artistas estão usando a sua inocência e inexperiência de jovem adolescente para articular seus planos maléficos esquerdistas. Nós já nos posicionamos na linha de frente para essa guerra. O exército já está posto e não vamos recuar. Nós te convocamos para fazer parte disso."

Alistamento

A reação dos bolsonaristas cresceu nas redes. O número de jovens que buscaram os Tribunais Regionais Eleitorais para a emissão do documento subiu. O alistamento na Justiça Eleitoral no mês de março registrou um salto de 45,63%, quando comparado a fevereiro, entre adolescentes de 15 a 17 anos. Os números foram divulgados pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin.

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Entre os jovens com 15 a 17 anos, o número de novos títulos passou de 199.667 em fevereiro para 290.783 em março, crescimento superior a 45%. Em 2012 houve mais de 4 milhões de pedidos de emissão do título entre os 15 e 18 anos. Já em 2022, havia 854 mil até 21 de março. O número era inferior ao registrado em 2020, ano da última eleição, com 1,36 milhão de solicitações.

Vanessa Lima é publicitária, ativista política e a responsável por reunir vídeos de jovens de todo o País que declararam apoio a Bolsonaro e divulgá-los nas redes. "A campanha foi uma ação voluntária. Fui procurada para liderar o movimento e viabilizar a divulgação dos vídeos. Foi uma campanha que partiu deles, não de adultos, em reação às ações do TSE e dos artistas. Os vídeos foram chegando pelas redes sociais, Telegram, pelas hashtags... Não importa a preferência do jovem. O que importa é que eles estão prestando atenção. Querem debater e opinar", afirmou.

Apoiadora do movimento, a influenciadora Jessica Seferin, presidente do movimento Jovens de Direita acumula cerca de 80 mil seguidores nas redes sociais. "Nas últimas décadas a esquerda doutrinou nossos jovens", disse. "A campanha foi uma resposta a esses artistas."

Após manifestações de Anitta, Bruna Marquezine e Zeca Pagodinho defendendo o alistamento precoce, pais e mães também passaram a compartilhar vídeos dos seus filhos. Neles, os jovens declaram apoio ao presidente com os novos títulos em mãos. A cantora, que recentemente chegou à primeira posição no Spotify Global com a música Envolver, é uma crítica contundente do governo Bolsonaro. "Então agora é isso, hein... me pediu foto quando me encontrou em algum lugar? Se for maior de 16 eu só tiro a foto se tiver foto do título de eleitor", afirmou Anitta no Twitter no dia 23 de março.

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Carla Zambelli foi uma das críticas ao movimento liderado pelos artistas. "Esses artistas não falam de outra coisa a não ser atacar a escolha da maioria do povo, é um presidente eleito, e divulgar a imagem de um criminoso descondenado", afirmou, em referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de intenção de voto.

Tik Tok

No Tik Tok, a influenciadora Julia de Castro acumula cerca de 600 mil curtidas em vídeos críticos ao PT e de apoio ao presidente, um deles sobre a campanha de emissão de títulos. "Jovens não entendem de política, jovens são fãs, jovens idolatram essas pessoas, jovens estão preocupados com a próxima dancinha do Tik Tok e com a música da Anitta chegar no top 1 global", disse Julia que encampou a campanha para que os jovens conservadores solicitem o primeiro título de eleitor.

Citado nas manifestações dos artistas, Lula figura nas campanhas de expedição do título de eleitor. A hashtag #lulapalooza aparece em postagens que convidam jovens a providenciarem o documento, de acordo com a FGV. As demais hashtags fazem apelos genéricos, como #roledaseleicoes, uma campanha do próprio Tribunal Superior Eleitoral; #tiraotítuloarmy, referente à fanbase do grupo musical Bangtan Boys; e #seuvotoimporta.

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