Jantar de Lula e Alckmin reúne nomes de nove partidos; centro diz que 'frente ampla' é prematura

Presidentes do PSD, MDB, Solidariedade e a cúpula da CPI da Covid participaram de confraternização com petista e ex-tucano

20 dez 2021 - 16h39
(atualizado às 19h00)

BRASÍLIA - O jantar que marcou a aproximação entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (ex-PSDB), na noite de domingo, 19, reuniu integrantes de ao menos nove partidos, incluindo presidentes de siglas de centro, como MDB, PSD e até mesmo o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, aliado de João Doria no PSDB. O encontro foi uma sinalização do petista de sua intenção de formar uma aliança que vá além da esquerda para derrotar o presidente Jair Bolsonaro em 2022, mas dirigentes partidários afirmaram ainda ser prematuro falar em "frente ampla", como querem os petistas. Também estavam no evento nomes do PSB, PV, PCdoB, Rede, Solidariedade, além do próprio PT.

A aproximação de Lula com Alckmin, que foram adversários políticos por mais de 30 anos e duelaram na disputa presidencial de 2006, tem como objetivo fazer do ex-governador de São Paulo o vice na chapa petista, numa articulação que envolve também o PSB, provável destino do agora ex-tucano. Outros partidos também são considerados para receber o novo aliado do PT, como PSD ou Solidariedade.

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Presente ao jantar, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, afirmou que Lula "vai precisar de habilidade" para negociar o apoio de siglas de centro. "Tem que caminhar para o centro. Procurar alguém com esse perfil mesmo (de Alckmin). Vai precisar de pessoas com esse perfil", afirmou ele, que ficou pouco tempo no jantar e se esquivou de aparecer na foto em que Lula posou ao lado de outros dirigentes partidários. O ex-ministro dos governos de Dilma Rousseff e Michel Temer lançou o nome do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ao Palácio do Planalto.

Em pé, da esquerda para direita: Luciana Santos (PCdoB), Randolfe Rodrigues (Rede), Paulinho da Força (Solidariedade), Gleisi Hoffmann (PT), Bruno Salles (advogado), Marco Aurélio de Carvalho (advogado), Lula (PT) e Renan Calheiros (MDB). Agachados: Carlos Siqueira (PSB), Baleia Rossi (MDB), Bruno Dantas (ministro do TCU)
Em pé, da esquerda para direita: Luciana Santos (PCdoB), Randolfe Rodrigues (Rede), Paulinho da Força (Solidariedade), Gleisi Hoffmann (PT), Bruno Salles (advogado), Marco Aurélio de Carvalho (advogado), Lula (PT) e Renan Calheiros (MDB). Agachados: Carlos Siqueira (PSB), Baleia Rossi (MDB), Bruno Dantas (ministro do TCU)
Foto: Ricardo Stuckert / Divulgação / Estadão

Para Kassab, mesmo após Bolsonaro se filiar ao PL, sigla do Centrão, a chance de o atual presidente atrair legendas do centro em uma aliança para 2022 é nula. "Bolsonaro não tem possibilidade, já foi no limite com o Centrão", afirmou. Além do PL, fazem parte da base aliada no Congresso o Progressistas, Republicanos, PTB e PSC.

O jantar deste domingo foi organizado pelo Prerrogativas, grupo de advogados "antilavajatistas", e batizado como "Jantar pela Democracia". O evento reuniu em São Paulo cerca de 500 convidados, incluindo governadores e outros políticos, como o senadores Renan Calheiros (MDB-AL), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (sem partido-RJ).

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Após o encontro, Renan destacou a gama de partidos que foram ao jantar. "Uma representação enorme de todo o País, com partidos variados. Clima de que as coisas (alianças) estão andando muito bem", disse o senador, que foi presidente do Senado nos governos do PT. Embora tenha proximidade com Lula, ele evita dizer se haverá uma aliança formal com o petista em 2022. "Não está ainda definido, isso ainda vai começar. Por enquanto, o MDB ainda tem uma pré-candidata (a senadora Simone Tebet). No Nordeste a gente ainda tem uma proximidade muito grande com Lula, mas não tem nada ainda definido", afirmou o cacique emedebista.

Presente ao jantar, o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), disse que não conversou com Lula sobre alianças durante o encontro. "Fui porque tenho boa relação com o pessoal do Prerrogativas. (O evento foi) apartidário e não eleitoral. Nós estamos na campanha da Simone".

O presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP), disse ao Estadão que o clima do jantar era de "muita empolgação". "Eu tenho brincado que o meu negócio é levar o Lula para a direita, para poder ganhar no 1º turno", disse o parlamentar.

Além de Lula, outros pré-candidatos ao Planalto foram convidados para o jantar de ontem, mas não participaram. São eles o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT).

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Tucano. Adversário do PT durante o governo Lula, Arthur Virgílio também disse ter participado do encontro pela boa relação que mantém com advogados do grupo Prerrogativas. Após concorrer nas prévias que definiu Doria como o candidato do PSDB ao Planalto, o ex-prefeito disse que sua presença não simboliza qualquer apoio ao petista. "Da minha parte não tem nada a ver com meu voto, com o que vou fazer (nas eleições). Estou com Doria em qualquer circunstância, o que não impede relações razoáveis com as pessoas possíveis", disse ele, que afirmou apenas cumprimentado Lula no jantar. "É uma pessoa que me trata sem nenhum rancor, não tenho rancor dele", afirmou.

Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid e senador pelo PSD do Amazonas, Omar Aziz também esteve no jantar e declarou que o momento é de deixar para trás divergências antigas. "O presidente Lula fez um discurso para a nação e o Brasil. Acho que é um momento de união, esquecer desavenças, esquecer cutucadas que um possa ter dado no outro em relação a qualquer pessoa e unificar o país. Está na hora", disse ao defender a união do petista com o ex-tucano.

Aziz chegou ao jantar com Kassab. O parlamentar já havia estado com Lula na sexta-feira, 17, na sede do PT, em São Paulo, onde conversaram por mais de uma hora. O senador relatou ao Estadão que Lula elogiou o trabalho feito na CPI e afirmou que os senadores mostraram ao País que a condução da pandemia foi errada. De acordo com o parlamentar, o ex-presidente disse que apesar de o momento ser favorável à sua reeleição, é preciso "ter pés no chão".

O político do PSD também disse ao Estadão não ter visto "revanchismo" ou palavra de ódio por parte do ex-presidente. "(Segundo Lula) não é uma eleição para colocar o partido no poder, mas para a gente fazer uma união de forças, para reconstruir o país, trazer esperança para o povo. E, principalmente, penso de uma forma, Aziz, no mínimo cada brasileiro tem que ter três refeições no dia. Não dá para ser do jeito que está", afirmou.

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