Ainda que não tenha provocado reação alguma dos três principais candidatos à Presidência, o discurso de intolerância contra homossexuais proferido pelo candidato Levy Fidelix (PRTB) no debate da TV Record não passou despercebido.
Em seu perfil pessoal no Facebook, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) comentou a declaração mais desastrosa de Levy, que, ao se posicionar contra a união homoafetiva, disse que “aparelho excretor não reproduz”. “Levy, de tão estúpido, não se dá conta de que ele mesmo - sua existência - contraria sua tese de que ‘aparelho excretor não reproduz’”, ironizou Wyllys.
Levy ainda pregou o "enfrentamento" aos gays. "Gente, vamos ter coragem, nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria", disse no debate. Para Jean Wyllys, Levy propagou um “discurso de ódio à população LGBT”, “motivado por uma mistura nauseante de estupidez, homofobia e demagogia vulgar”, o que justifica representações contra na Justiça. “O mais grave foi incitar a maioria a enfrentar a minoria", disse Wyllys ao Terra.
A assessoria jurídica do deputado informou que entrará com duas representações contra Levy: um inquérito civil no Ministério Público Federal, para que sejam investigadas a gravidade e as consequências do "crime de ódio"; e uma denúncia à Justiça Eleitoral, para exigir o pagamento de multa por propaganda que estimula a violência contra determinado grupo.
Além disso, Jean Wyllys exige um pedido público de desculpas. "Nós queremos a retratação, com um pedido público de desculpas. Discriminação e injúria não devem ser resolvidas com prisão, nossas prisões já estão um horror. A injúria e a discriminação têm que ser combatidas com penas socioeducativas. Ele deve ser obrigado a se retratar publicamente", afirmou.
As declarações de Levy foram dadas em resposta a uma pergunta da candidata Luciana Genro (PSOL), que lembrou que a comunidade LGBT é alvo constante de violência. “Por que as pessoas que defendem tanto a família se recusam a reconhecer como família um casal do mesmo sexo?”, questionou Luciana. Na réplica, a candidata do PSOL disse que o casamento civil igualitário é “fundamental para que possamos reconhecer como família qualquer tipo de família” e, assim, acabar com a homofobia.
Para Wyllys, o silêncio dos demais candidatos é tão grave quanto as declarações de Levy. "Grave também foi o silêncio dos candidatos, o silêncio do mediador e o riso da plateia. Isso demonstra que é uma violência socialmente aceita. Como seria a reação de Dilma, Marina e Aécio se a ofensa tivesse sido direcionada a outra minoria, como a comunidade judaica, as pessoas com deficiência e os negros? Será que eles continuariam fazendo cálculos eleitorais para saber e estão perdendo votos?", questionou.
Criminalização
Embora não tenha se manifestado durante o debate, o candidato Eduardo Jorge (PV) disse depois, pelo Twitter, que estava “chocado com as declarações do Levy”. “Hoje você viram o quanto é necessário uma legislação que criminalize a homo/lesbo/transfobia, equiparando-a aos crimes de racismo, né?”, continuou.
O candidato do PSTU à Presidência, Zé Maria, foi ainda mais duro e disse que Levy “deveria ter saído preso do debate”. “Foi um verdadeiro escândalo a fala deste candidato, uma verdadeira apologia à homofobia, chegando a misturar homossexualidade a pedofilia”, escreveu Zé Maria, no Facebook. “Atitudes como essas, em especial partindo de personalidades públicas, como é o caso, que precisam ser repudiadas por toda a sociedade, pois é esse tipo de coisa que alimenta a violência cotidiana contra as pessoas LGBT”, completou.
A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) informou hoje que acionará Levy Fidelix na Justiça. Para a entidade, que é a maior rede LGBT da América Latina, o candidato adotou um “discurso de ódio” e “só não saiu do estúdio da emissora direto para a cadeia porque a homofobia ainda não foi criminalizada”.