Reconhecido até pelos adversários como um hábil articulador dos bastidores da política, o ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, de 62 anos, assumiu um papel central nos bastidores da campanha do candidato bolsonarista ao governo paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e foi o responsável por organizar politicamente um palanque que tinha a retaguarda de Jair Bolsonaro (PL), mas nenhuma estrutura política no Estado.
Após o desempenho surpreendente do ex-ministro da Infraestrutura no 1° turno, que ficou em primeiro lugar com 42,3%, ante 35,7% de Fernando Haddad (PT) - contrariando as pesquisas de intenção de votos que davam o petista na liderança -, Kassab vai intensificar ainda mais sua atuação na campanha nas próximas semanas e será, segundo aliados de Tarcísio, um personagem influente no governo em caso de vitória.
Apesar de ser filiado ao Republicanos e ser apoiado pelo PL, Tarcísio, que é carioca e morava em Brasília, não tinha conexão com prefeitos e lideranças políticas da sociedade civil de São Paulo. Além de promover mais tempo no horário eleitoral da TV e rádio no 1° turno, a aliança com o PSD abriu portas com os sindicalistas da União Geral dos Trabalhadores (UGT), associações comerciais e lideranças evangélicas.
"Por mais que o cenário em São Paulo tenha reproduzido a polarização nacional, sem Kassab o Tarcísio não chegaria ao 2° turno", disse o presidente da UGT, Ricardo Patah, integrante da executiva do PSD. Filiado ao partido, o ex-ministro Guilherme Afif Domingos assumiu o programa de governo de Tarcísio e tornou-se o principal formulador econômico da campanha.
Aliado no passado do governador Rodrigo Garcia, que não conseguiu votos suficientes para seguir para o segundo turno, e de seu antecessor, João Doria, ambos do PSDB, Kassab percorreu o Estado para fortalecer a rede de apoio ao candidato bolsonarista, mas sempre tomando cuidado de manter uma distância regulamentar da disputa presidencial.
Segundo turno
O ex-prefeito manteve pontes com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Bolsonaro no 1° turno e deve seguir a mesma linha na segunda etapa. O PSD vai dialogar com quem vencer a disputa e deve ajudar na governabilidade do próximo presidente, seja ele qual for.
Ao Estadão, Kassab deu uma longa e inconclusiva resposta quando foi questionado sobre quem vai apoiar na disputa presidencial. Lembrou que o PSD se esforçou para ter um candidato próprio viável à Presidência para fugir da polarização, mas o senador Rodrigo Pacheco (MG), presidente do Senado, preferiu se concentrar em outra missão. Sem um nome na arena, o partido, que se classifica "de centro", se dividiu regionalmente entre preferências mais à esquerda ou à direita.
"Qualquer decisão no 1° turno poderia gerar uma divisão. No 2° turno vamos ter uma deliberação. Qualquer manifestação minha neste momento iria provocar tensão no PSD. Eu, como presidente do partido, vou dar liberdade (nos Estados), Mais para frente vou anunciar minha decisão pessoal, que será desvinculada do partido", concluiu Kassab.
Cenário
Ao fazer uma avaliação sobre a estratégia adotada por Tarcísio na campanha, Kassab disse que o ex-ministro acertou ao deixar claro a lealdade e o reconhecimento dele ao presidente da República. "Tarcísio manteve a lealdade com um estilo moderado que agrada São Paulo. Essa lealdade causa boa impressão porque existem muitas traições e deslealdades na política.
Ele deixou isso claro, mas tem a sua identidade e uma maneira muito conciliadora e moderada de agir. Isso o ajudou a avançar no centro", disse Kassab. Outros aliados do ex-ministro da Infraestrutura concordam com essa análise do presidente do PSD e acreditam que Bolsonaro escolheu Tarcísio justamente por ter esse perfil em um Estado refratário ao discurso mais radicalizado.
O governador Rodrigo Garcia, que tentava a reeleição, também adotou um discurso moderado em busca do eleitor conservador e pragmático que, durante 28 anos, deu a vitória ao PSDB em São Paulo. Garcia, no entanto, acabou sendo emparedado pela polarização entre os candidatos de Lula e Bolsonaro.
Direita
"A polarização diminuiu o espaço do Rodrigo. Ele teve dificuldade em entrar no voto do Haddad e do Tarcísio. Quando ele acordou, o Tarcísio e o Bolsonaro tinham mais de 30%. E faltou um projeto nacional em uma eleição onde se discutiu a disputa presidencial", disse.
Sobre o resultado geral das eleições no 1° turno para a Câmara, Senado, governos estaduais e assembleias legislativas, o presidente nacional do PSD disse acreditar que, independente do resultado final, um legado já foi estabelecido no Brasil: a direita, cujo eixo de sustentação atual é o PL, está mais organizada e vai permanecer forte por um tempo razoável. "Essa direita tem 200 deputados, somando PL, PP, Republicanos e outros partidos", contabilizou o ex-ministro.