Nas últimas semanas, algumas personalidades da música, da televisão e da literatura começaram a declarar apoio aos candidatos à presidência das eleições de 2014. O número de artistas que resolve abrir o jogo e colocar "a cara à tapa" atualmente, porém, é bastante pequeno se comparado com o de outros anos. Vai falar que você não se lembra do imenso incentivo que Lula recebeu de atores e cantores em seus dois mandatos? Ou do "medo" que Regina Duarte tinha do petista quando virou cabo eleitoral de Serra? Ou então do surpreendente leque de seguidores famosos que Marina ganhou em 2010?
Selecionamos aqui esses e outros casos. Alguns artistas continuam firmes e fortes ao lado dos mesmos partidos, outros tiveram motivos de sobra para pular fora. Confira!
Collor (PRN)
As eleições de 1989 merecem um capítulo à parte nos livros da história política nacional. E não é à toa: naquele ano foi realizada a primeira eleição presidencial direta no Brasil depois da ditadura militar (1964 - 1985). Disputada por 22 candidatos, ela costuma ser lembrada apenas por dois: de um lado, Fernando Collor de Mello (ligado a empresários, grandes latifundiários e meios de comunicação) e, do outro, Luiz Inácio Lula da Silva (queridinho de artistas, intelectuais, sindicatos e movimentos sociais).
Mesmo assim, existiam exceções à regra. Collor não era muito bem visto pela classe artística, mas recebeu declarações públicas de apoio das atrizes Cláudia Raia, Marília Pera e Teresa Rachel e da cantora Simone, por exemplo. Se elas imaginassem a quantidade de escândalos em que ele iria se envolver...
Lula (PT)
Lula lá, brilha uma estrela
Lula lá, cresce a esperança
Lula lá, o Brasil criança
Na alegria de se abraçar.
A estrofe faz parte do jingle de Luiz Inácio Lula da Silva também nas eleições de 1989. Na época, a música chegou a ser gravada por um enorme time de artistas composto por Marieta Severo, Caetano Veloso, Lucélia Santos, Gal Costa, Chico Buarque, José Mayer, Cláudia Abreu, Malu Mader, Betty Faria, Aracy Balabanian, Beth Carvalho, Elba Ramalho, Adriana Esteves e Gilberto Gil. Por essas e outras, ela é considerada ainda hoje uma das campanhas políticas mais aderidas por personalidades das artes no País. Até porque, cá para nós, não tem estratégia mais eficiente que colocar o Chico cantando e fazendo essa dancinha, né?
Na ocasião, o petista perdeu para Collor, mas continuou concorrendo nas eleições seguintes – e continuou recebendo apoio dos artistas – até que as vitórias vieram em 2002 e 2006. Em 2002, inclusive, Lula inovou na tática e passou a realizar enormes "showmícios" durante a campanha, sendo que boa parte deles foi protagonizada pela dupla Zezé di Camargo e Luciano. Em 2006, este tipo de evento começou a ser proibido no País.
FHC (PSDB)
Diferente de Lula, Fernando Henrique Cardoso sempre carregou uma imagem mais elitizada, ligada especialmente a empresários, acadêmicos e economistas. Na campanha de 1994, porém, surpreendeu. O tucano, até então afastado da classe artística, colocou um conterrâneo de Lula, o pernambucano Dominguinhos, para interpretar seu jingle no rádio e na televisão em ritmo de baião.
O cantor não apareceu nos vídeos (aqueles que tinham umas “mãozinhas” balançando de um lado para outro), mas sua voz podia ser facilmente reconhecida nos versos "Tá na sua mão, na minha mão, na mão da gente / Fazer de Fernando Henrique nosso presidente / Tá na sua mão, na minha mão, na mão da gente / O Brasil precisa muito da força da gente”.
Ao lado da extensa propaganda feita em cima do Plano Real, isso ajudou a alavancar de vez a campanha do PSDB. FHC foi eleito em 1994 e reeleito em 1998.
Dilma (PT)
Após cumprir dois mandatos (2002 e 2006), Lula não poderia mais concorrer à presidência. Para representá-lo em 2010, escolheu, então, uma companheira de sua equipe: Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil de seu último governo. Fortemente ligada à figura do ex-presidente, ela não precisou de muito para se popularizar. A maioria dos artistas que ajudou a campanha dele, por sinal, passou a torcer pela vitória da nova candidata. Chico Buarque, Ziraldo, Leonardo Boff, Alcione, Osmar Prado, Alceu Valença, Margareth Menezes, por exemplo, participaram de vídeos oficiais. O compositor Wagner Tiso chegou até a gravar Dilma Lá, nova versão de Lula Lá, mas a canção não alcançou a mesma popularidade que a original.
Curiosidade: vale lembrar que, em 1985, o mesmo Chico Buarque de Lula e Dilma havia composto um jingle (adaptado da sua canção Vai Passar) e feito campanha para FHC na disputa pela prefeitura de São Paulo.
Marina Silva (PV)
Marina Silva foi uma das surpresas das eleições de 2010. Na ocasião, mesmo já tendo sido eleita vereadora, deputada e ministra, a candidata ainda era desconhecida pelo grande público. Em pouco tempo, no entanto, começou a ganhar popularidade - não só entre anônimos, mas também no meio da classe artística. Caetano Veloso, Gisele Bündchen, Wanderléa, Bob Wolfenson, Fernando Meirelles, José Miguel Wisnik, Xis e Cris Couto foram alguns que se declararam seus admiradores.
Em 2013, quando Marina saiu do PV e arrecadou assinaturas para tentar criar a Rede Sustentabilidade, continuou contando com a ajuda de artistas para divulgar a causa.
Serra (PSDB)
Também em 2010, José Serra (que havia perdido para Lula em 2006) foi o escolhido do PSDB para concorrer com a petista. Seguindo a linha do “mestre” Fernando Henrique, ele não utilizou muitos famosos em suas propagandas eleitorais. No entanto, algumas personalidades – entre elas Arnaldo Jabor, Ferreira Gullar, Giulia Gam, Glória Menezes, Tony Bellotto, Mauro Mendonça, Nana Caymmi, Fafá de Belém, Paulinho Vilhena, Sandra de Sá, Tarcísio Meira e novamente Dominguinhos – fizeram questão de contribuir e assinaram um manifesto de apoio ao candidato.
Só faltou ela: Regina Duarte, cabo eleitoral do tucano, e seu lendário vídeo de 2006 em que declara ter "medo" de uma possível reeleição de Lula.