Lideranças petistas, integrantes da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aliados do ex-presidente se reuniram neste domingo, 2, em um hotel em São Paulo para acompanhar a apuração dos votos ao lado do candidato, que saiu na frente nas eleições presidenciais, mas não obteve votos suficientes para uma vitória em primeiro turno contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), como alguns esperavam.
No discurso, algumas lideranças falaram com mais cautela, mas havia um fio de esperança para que as eleições fossem decididas ainda neste domingo. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou no começo da tarde --logo que chegou ao hotel-- que o partido já havia conquistado uma vitória: a de Lula estar como candidato que, segundo ela, "arrebanha a maioria do povo brasileiro".
Questionada sobre uma vitória em primeiro turno, porém, Gleisi pareceu confiante e chegou a dizer que Bolsonaro teria que aceitar o resultado das urnas. "Bolsonaro não é maior que o Brasil, não é. Então o resultado que sai hoje Bolsonaro vai ter que aceitar como nós vamos ter que aceitar. Foi o processo democrático do Brasil que nós construímos", pontuou.
Também presente na reunião para acompanhar a apuração de votos, o líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede/AP), brincou com o clima de expectativas: "Temos o otimismo da vontade e o ceticismo da razão."
"Dessa forma, estaremos preparados se for [uma eleição] em segundo turno", acrescentou em frente ao hotel, onde no avançar na tarde começaram a se reunir alguns apoiadores de Lula, que usaram bandeiras, camisetas e adesivos do PT para apoiar o candidato.
Quando as apurações começaram, por volta das 18h, Bolsonaro largou na frente, já que os Estados aonde o atual presidente vai melhor iniciaram as apurações primeiro. Integrante da campanha, o deputado estadual Emidio de Souza (PT) pareceu não se abalar com esse início.
"A apuração está muito no início, né? Não dá pra ter ideia nenhuma ainda”, disse ao Terra, com um discurso ainda mais cauteloso. "É uma coisa que não dá pra cravar, está muito no limite", acrescentou ao ser questionado sobre uma vitória em primeiro turno. "Eu acho que ganha por pouco ou vai para o segundo turno também por pouco."
Dentro do hotel, as lideranças ficaram em uma sala reservada, onde a imprensa não tinha acesso. Em outros espaços, convidados do partido se reuniram apreensivos acompanhando a apuração em TVs instaladas no espaço. O acesso também era restrito, mas a reportagem flagrou duas comemorações: no momento em que Lula alcançou os números de Bolsonaro, e quando o petista ultrapassou o atual presidente.
Conforme a apuração das urnas foram avançados e o resultado foi se encaminhando para um segundo turno, o clima ficou mais silencioso. Com cerca de 98% de urnas apuradas, Lula apareceu em um auditório do hotel, montado para receber a imprensa, e discursou tentando elevar a moral. "É só uma prorrogação", afirmou em um palco cercado por aliados, como seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), o candidato a governador de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), entre outros.
Eleito deputado estadual por São Paulo, Eduardo Suplicy (PT) falou com o Terra após a disputa em segundo turno ter sido confirmada. O parlamentar mencionou o discurso de Lula e acrescentou: "Estamos avançando em direção ao resultado positivo que não se conseguiu ainda no primeiro turno, de maneira completa, mas, felizmente, o presidente Lula tem todas as condições de chegar à vitória no dia 30 de outubro."
Já o ex-prefeito de São Bernardo do Campo e deputado federal Luiz Marinho precisou mudar o tom de sua fala. Na parte da manhã, quando acompanhou o voto de Lula na cidade, o deputado disse confiar na vitória de Lula já neste domingo. "Senti muita esperança de resolvermos [essa eleição] ainda no primeiro turno", disse. Após as apurações, no entanto, ele lamentou um resultado "diferente" daquele que apontavam as pesquisas eleitorais.
"Alguma coisa aconteceu nos últimos dias", afirmou. "Agora nós sabemos o que está em disputa e, como disse o presidente Lula, agora é o momento de ‘tête-à-tête’, de buscar os sensatos democráticos do Brasil."
Na avaliação de Marinho, a campanha de voto útil feita em favor de Lula pode ter "favorecido o bolsonarismo". "Todos que não queriam o Lula, migraram logo no primeiro turno para Bolsonaro. Isso facilitar enxergar um diagnóstico para o segundo turno. Vamos para cima, cabeça erguida para ganhar essa eleição", completou o parlamentar já no final da noite, com um hotel mais esvaziado e com menos apoiadores do que no início do dia.