BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidatos que estão respectivamente em primeiro e segundo lugar nas pesquisas, não escondem o desejo de aumentar o número de ministérios. A Economia, pasta hoje comandada por Paulo Guedes, é o principal alvo de mudanças e deve começar 2023 desmembrada. Caso o petista vença, a ideia é que o número de ministérios passe dos atuais 23 para 32. Já Bolsonaro, que na campanha de 2018 prometeu ter apenas 15 pastas e fazia uma forte crítica ao loteamento de cargos, hoje tem 23 e também deu áreas ao Centrão. Se reeleito, seus aliados também querem que o Ministério da Economia seja fatiado, e o total pode chegar a 28.
As ideias ainda não chegaram a ser colocadas no plano de governo, mas, de acordo com declarações dadas por Lula em eventos e entrevistas ao longo da campanha, a pasta da Economia seria fatiada em Fazenda, Planejamento, Pequena e Média Empresa e Indústria e Comércio. Nas outras áreas, seriam recriadas Cultura, Segurança Pública e Pesca, e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos seria desmembrado em três - Direitos Humanos, Mulheres e Igualdade Racial. Caso o petista volte ao Palácio do Planalto, também será criado um inédito Ministério dos Povos Indígenas.
Já Bolsonaro, que chegou a colocar no seu plano de governo em 2018 que lotear ministérios é "corrupção" e "toma lá, dá cá", hoje tem 23 e, assim como os governos anteriores, também deu pastas ao Centrão. Em 2020, o presidente recriou o Ministério das Comunicações para abrigar o deputado licenciado Fábio Faria, na época no PSD e hoje no Progressistas. No ano passado, com o objetivo de acolher o aliado Onyx Lorenzoni, Bolsonaro fez o primeiro fatiamento do Ministério da Economia para recriar a pasta do Trabalho e da Previdência.
Se reeleito, seus aliados querem que o Ministério da Economia seja fatiado mais vezes. O líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), já disse que o governo precisa "pensar se não é o caso de ter de novo o Ministério do Planejamento". De acordo com ele, a volta da pasta serviria "para a gente não só reagir, (mas) para a gente enxergar o Brasil para frente". O parlamentar sugeriu o general Walter Braga Netto, também filiado ao PL e candidato a vice de Bolsonaro, para a função.
Além disso, o presidente já disse em eventos da Federação de Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), em maio, e da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), em junho, que quer recriar o Ministério da Indústria. Bolsonaro chegou a indicar ter se arrependido de unificar as pastas da área econômica em uma só. "O Paulo Guedes pegou uma missão enorme, um adensamento de mais quatro ministérios. Já separamos o Trabalho e a Previdência de um lado e pretendemos, conforme foi sugerido na Fiemg há dois meses, em havendo uma reeleição, recriar o Indústria e Comércio, cujo ministro seria indicado pelos senhores, com o perfil dos senhores, para exatamente ter liberdade para trabalhar", disse durante sabatina na CNI.
O chefe do Poder Executivo também já deu mais de uma declaração pública em que menciona a possibilidade de voltar com os ministérios do Esporte e da Pesca. Em outra frente, Bolsonaro recebe pressões para desmembrar o Ministério da Justiça e criar uma pasta para a Segurança Pública.
Coordenador do plano de governo de Lula, Aloizio Mercadante, criticou a concentração de quase toda a área econômica do governo nas mãos de Guedes. "Outros ministros querem liberação de Orçamento e você sobrecarrega o Ministério da Fazenda e dá no que dá. Total descoordenação e falta de planejamento", disse ao Estadão.
Mercadante afirmou também que um eventual novo governo do PT não vai recriar uma pasta exclusiva para a Previdência Social, como existia até 2015. "O Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) é outra coisa, Indústria e Comércio. Tem um Ministério da Agricultura e não vai ter um da Indústria e Comércio? Vão continuar desindustrializando o País e perder comércio exterior como estamos fazendo? O Brasil perdeu mercado e veio uma desindustrialização sem precedentes, não faz sentido. Antes tínhamos um Ministério do Trabalho e um da Previdência, nosso governo juntou os dois, vamos manter a fusão."
Em 2015, quando Dilma Rousseff (PT) iniciou seu segundo mandato como presidente, o número de ministérios chegou atingir a marca de 39, grande parte deles loteados por aliados no Congresso. Além do próprio PT, indicados do MDB, Republicanos, Progressistas, PL, PSD, Pros, PCdoB, PDT e PTB comandavam os ministérios. Muitos dos chefes das pastas, principalmente do PT, do MDB e do Progressistas, se envolveram em casos de corrupção e foram alvos da Operação Lava Jato.
Segurança Pública
Criado durante a gestão Michel Temer (MDB), que assumiu a Presidência após o impeachment de Dilma, o Ministério da Segurança Pública existiu por apenas dez meses e foi reincorporado ao Ministério da Justiça quando Bolsonaro virou presidente em 2019. Apesar disso, uma parte da própria base bolsonarista pressiona pela recriação da estrutura desde o início do mandato do presidente. No início de 2020, secretários estaduais de Segurança Pública e o ex-deputado Alberto Fraga (PL-RJ) intensificaram a cobrança para que a Justiça fosse desmembrada. Bolsonaro não recriou o Ministério da Segurança Pública, mas já disse que não descarta fazer isso.
A ideia é defendida de forma mais explícita por Lula, que já declarou publicamente mais de uma vez que quer recriar a pasta. "Segurança Pública, que é nova, foi criada na gestão do Temer, mas é necessária porque hoje segurança é um tema central, precisa de coordenação, implementar um sistema único", disse Mercadante.
Outra proposta que o ex-presidente tem insistido em eventos e entrevistas é a criação de um Ministério dos Povos Originários, que atenderia o povo indígena. A pasta nunca existiu em nenhum governo. "É uma minoria, mas que está sendo massacrada e precisa de um espaço para se expressar. São os povos originários, os primeiros que habitaram o território, têm de ter reconhecimento que nunca tiveram. É o único em termos de novidade, os outros estamos recriando o que sempre existiu. Todos os governos tinham Mdic e Ministério do Planejamento", afirmou o coordenado do plano de governo do petista ao minimizar o impacto das mudanças na estrutura ministerial atual.
Ministérios caso Lula vença
- Ministério da Fazenda
- Ministério do Planejamento
- Ministério da Indústria e do Comércio Exterior
- Ministério da Pequena e Média Empresa
- Ministério da Justiça
- Ministério da Segurança Pública
- Ministério dos Povos Originários
- Ministério dos Direitos Humanos
- Ministério da Mulher
- Ministério da Igualdade Racial
- Ministério da Cultura
- Ministério da Pesca
- Ministério do Trabalho e da Previdência
- Ministério da Agricultura
- Advocacia-Geral da União
- Secretaria de Governo
- Casa Civil
- Secretaria-Geral
- Gabinete de Segurança Institucional
- Ministério da Saúde
- Ministério da Educação
- Ministério das Relações Exteriores
- Ministério da Defesa
- Ministério da Infraestrutura
- Ministério do Desenvolvimento Regional
- Ministério da Cidadania
- Ministério de Minas e Energia
- Ministério da Ciência e Tecnologia
- Ministério das Comunicações
- Ministério do Turismo
- Controladoria-Geral da União
- Ministério do Meio Ambiente
Ministérios caso Bolsonaro vença
- Ministério da Fazenda
- Ministério do Planejamento
- Ministério da Indústria e do Comércio Exterior
- Casa Civil
- Secretaria de Governo
- Ministério da Justiça
- Ministério da Segurança Pública
- Ministério da Pesca
- Ministério dos Esportes
- Ministério do Trabalho e da Previdência
- Ministério da Agricultura
- Advocacia-Geral da União
- Secretaria-Geral
- Gabinete de Segurança Institucional
- Ministério da Saúde
- Ministério da Educação
- Ministério das Relações Exteriores
- Ministério da Defesa
- Ministério da Infraestrutura
- Ministério do Desenvolvimento Regional
- Ministério da Cidadania
- Ministério das Minas e Energia
- Ministério da Ciência e Tecnologia
- Ministério das Comunicações
- Ministério do Turismo
- Controladoria-Geral da União
- Ministério do Meio Ambiente
- Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos