BRASÍLIA - Mesmo com a vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Minas Gerais, onde ele tem 46% das intenções de voto contra 30% do presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo pesquisa Ipec, os candidatos apoiados pelo petista para governador e senador, ambos do PSD, têm enfrentado dificuldades e não são os favoritos para a vaga. Na disputa para o governo mineiro, o lulista e ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil tem 31% e o atual governador Romeu Zema (Novo) tem 47%, com chance de vencer no primeiro turno. Tanto Lula, quanto Bolsonaro tem tratado Minas como prioridade nas visitas de campanha.
Eleito na onda bolsonarista em 2018, Zema hoje mantém críticas a Lula, mas também procura se dissociar de Bolsonaro. Na contramão das críticas de Zema ao ex-presidente e ao PT, parte dos aliados do mineiro estimula um voto casado com Lula. É o caso do presidente do Avante, deputado Luis Tibé, que já falou em montar um comitê "Luzema". O Avante é o partido do deputado André Janones, também de Minas. Fenômeno das redes sociais, o parlamentar foi proibido pela direção do partido de fazer campanha para Kalil.
Bolsonaro tentou um acordo com o governador do Novo para ter um palanque forte em Minas, mas Zema resistiu e, como forma de ignorar os dois candidatos a presidente que mais pontuam nas pesquisas, disse que vai apoiar o seu colega de partido Luiz Felipe D'ávila, que pontuou apenas 1% no Ipec. Sem o apoio de Zema, Bolsonaro se viu forçado a lançar o senador Carlos Viana (PL) como candidato a governador, que tem apenas 2% das intenções de voto.
Sinal da prioridade que a campanha petista dá para o Estado, o ex-governador de São Paulo e candidato a vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), faz nesta semana uma série de viagens por cidades mineiras. Ontem, 13, o ex-tucano comentou sobre Kalil e avaliou que, mesmo com a atual desvantagem, ele pode crescer e vencer Zema em um segundo turno. De acordo com Alckmin, na reta final da eleição deve haver transferência de voto do ex-presidente para Kalil. Além da visita do candidato a vice, Lula também irá a Minas nesta quinta-feira, 15, quando fará um comício em Montes Claros.
"Kalil foi um grande prefeito de Belo Horizonte, foi reeleito com votação histórica. A campanha está crescendo, e muita coisa ainda se altera no final. Tanto que o Lula vem a Minas, na quinta, e com certeza, haverá crescimento, e Kalil estará no segundo turno. A melhor pesquisa é da dia 2 de outubro", disse em entrevista coletiva em Belo Horizonte. "Minas é muito importante para o país e deve ser valorizada. Tenho certeza que Lula fará parcerias com o Estado, com Kalil, em benefício da população", completou.
Já na disputa pelo Senado, o bolsonarista Cleitinho Azevedo (PSC) lidera a pesquisa, com 18% contra 13% do senador Alexandre Silveira (PSD). Cleitinho é deputado estadual e entrou na política em 2016, quando foi eleito vereador de Divinópolis. Com um perfil ligado a um movimento antipolítica, o favorito nas pesquisas para o Senado ganhou notoriedade ao publicar nas redes sociais vídeos parodiando políticos tradicionais.
Em 2013, com o apelido de "Cleitinho Elétrico", o deputado chegou a divulgar um vídeo em que uma foto do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, era amassada. Costa Neto é o presidente do partido de Bolsonaro, candidato que apoia Cleitinho para senador. Os ex-presidentes do PT José Dirceu e José Genoíno também foram alvos das críticas. Em 2012, um ano antes do vídeo, os dois petistas e o presidente do PL foram condenados no esquema do mensalão.
Silveira minimizou a situação e disse que está empatado dentro da margem de erro com Cleitinho. Eleito primeiro suplente de Antonio Anastasia em 2014, o mineiro assumiu o cargo de senador em fevereiro, após o titular ter renunciado ao mandato para ser ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Presidente estadual do PSD em Minas e secretário-geral do diretório nacional do partido, o parlamentar aposta na associação com Lula para se manter no cargo. Suas redes sociais estão repletas de postagens em que ele se apresenta como "senador de Lula". "Eu sou o único candidato com o apoio explicitado, claro, evidente do presidente Lula", disse ele ao Estadão.
Por indicação do então vice-presidente José Alencar, que era de Minas, Silveira já foi diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (DNIT) durante o primeiro mandato de Lula. Hoje ele é considerado o braço direito do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e apesar de ser aliado do PT, já foi cotado para ser líder do governo de Bolsonaro no Senado, algo que não se concretizou porque a ala lulista do PSD barrou a escolha.
Sem citar o nome de Cleitinho, Silveira criticou o estilo performático dele de fazer campanha. "Eu não sou um personagem, sou um candidato e estou me expondo como tal. O eleitor mineiro é muito qualificado, ele vai considerar os apoios, mas não só, ele quer mais do que isso, quer conteúdo", declarou.
O parlamentar também aposta na divisão da base bolsonarista para conseguir se manter no Senado. "O Bolsonaro tem quatro candidatos aqui, com voto declarado a ele. O Aro (do PP), que é o candidato do governador (Zema). Esse menino (Cleitinho) que não é nem candidato da coligação deles (de Zema), mas que foi a única opção que ele (Bolsonaro) teve para poder recebê-lo em Minas, já que o governador se negou a isso, e os dois pastores (Irani Gomes, do PRTB, e Altamiro Tavares, do PTB)", citou.
e que vai reforçar a associação com Lula. "A minha estratégia é demonstrar com quem a gente está andando, evidente que é o presidente Lula, e demonstrar minha história de vida".