Maior reduto "marineiro" do País cobra posição de Marina

Sirinhaém, na região metropolitana do Recife, deu 74,19% de votos a Marina Silva - maior percentual dela no Brasil -; eleitores querem que candidata se posicione sobre o segundo turno

12 out 2014 - 07h48
(atualizado às 15h23)

No Recife, em frente à casa onde morava o ex-governador Eduardo Campos (PSB) com a família, no bairro Dois Irmãos, o taxista quer saber o destino da corrida. A memória da repórter falha por um instante, e vem apenas que vamos para uma cidade próxima e cuja inicial é a letra S. “Sairé? Santa Cruz do Capibaribe?”, enumera o sujeito, sem sucesso. Anotação checada, Sirinhaém logo é recebida por ele com uma expressão de quem entendeu o recado.

A aposentada Lindinalva (esq.) e a lavadeira Azanildes se dizem eleitoras do PT em reduto marineiro
A aposentada Lindinalva (esq.) e a lavadeira Azanildes se dizem eleitoras do PT em reduto marineiro
Foto: Janaina Garcia / Terra

Recado dado pela repercussão das urnas: o município empobrecido, localizado a cerca de 80 km ao sul da capital, tem sua economia baseada nas lavouras de cana de açúcar, em um comércio incipiente e um pólo industrial ainda tímido, mas ficou conhecido após o primeiro turno das eleições presidenciais, há uma semana, por ter dedicado a vitória com maior percentual de votos da presidenciável Marina Silva (PSB) em todo o País: 74,19%. O índice supera, por exemplo, os 48,05% de votos obtidos pela ex-senadora acreana em território pernambucano.

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Para o caseiro Otoniel, eleitor de Marina no primeiro turno, ela deve se manter neutra
Foto: Janaina Garcia / Terra

A reportagem do Terra esteve no município de pouco mais de 40 mil habitantes nesse sábado, no dia em que o candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB) participou de uma carreata pelas estreitas ruas de paralelepípedo ao lado de lideranças regionais do PSB e um dia antes de Marina finalmente se decidir pelo apoio ao tucano. Mais cedo, ontem, Aécio havia estado no Recife para, entre outras ações de campanha, obter o apoio oficial da família Campos a sua candidatura. O pessebista tivera Marina de vice até 13 de agosto, quando morreu em um acidente aéreo, com seis integrantes de sua equipe, em Santos, litoral sul de São Paulo.

Para os antigos eleitores de Marina, pareceu incompreensível a falta de definição da candidata neste segundo turno – ainda mais com o PSB pernambucano apoiando em peso a candidatura de Aécio. Para outros, porém, a incompreensão decorria de Marina salientar a origem humilde – assim como fazia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, padrinho político de Dilma que é respeitado na localidade.

A doméstica Rosileide (esq.) e a técnica de enfermagem Aldenes querem que Marina se poscione
Foto: Janaina Garcia / Terra

“Votei em Marina e queria que ela tomasse posição, sim, que falasse alguma coisa. Ela conhece bem a pobreza, sabe do que o povo está precisando. Acho que já demorou, até, para se manifestar”, opinou a técnica de enfermagem Aldenes Maria da Silva, 31 anos. “Aqui a gente tem posto de saúde, mas falta médico para atender o povo. Emprego, então, nem se fala. Optei pela candidata no primeiro turno, mas esses problemas continuam. Ela não vai dizer do lado de quem ela está?”, indagou a doméstica Rosileide Maria de Santo, 39 anos, vizinha de Aldenes. A qual, por sinal, pediu para fazer uma última observação: “Moça, nem em sonho que político vem aqui na cidade, eles nem lembram que a gente existe. Só em campanha mesmo, e olhe lá”.

Sirinhaém, a 78 km do Recife, tem pouco mais de 40 mil habitantes e é dependente das lavouras de cana de açúcar
Foto: Janaina Garcia / Terra

Para a agricultora Helena Maria de Melo, 40 anos, que também se disse eleitora de Marina no primeiro turno, a ex-presidenciável  “precisa tomar partido”. “Por que ela não quer mais se candidatar no futuro? Se quer, precisa estar agora ao lado de alguém”, analisou. Mas admitiu: “Isso não significa que eu vá votar em quem a Marina pedir para eu votar, entende?”

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Já segundo o caseiro Otoniel José de Santana, 22 anos, Marina deveria se manter neutra no segundo turno. “A gente sabe o que tem aí já acontecendo, de um lado, e, de outro, esse outro aí apareceu só agora. Se Marina ficasse na dela, seria melhor”, observou.

Crianças brincam nas ruas de paralelepípedo do município que deu a maior votação percentual a Marina Silva, no primeiro turno
Foto: Janaina Garcia / Terra
“O que o rico compra, a gente compra também”, diz eleitora do PT

Praticamente exceções na cidade, a aposentada Lindinalva Zacarias de Araújo, 60 anos, e a lavadeira Azanias Maria dos Prazeres, de 67, negaram a pecha de marinistas alegando ser, ambas, fãs confessas de Lula – e, por tabela, de Dilma.

“Votei em Lula nas duas vezes em que ele se elegeu (2002 e 2006). Ele apresentou a Dilma, e votei. E ele trouxe fábrica para a região, coisa que até então ninguém tinha feito muito”, constatou Lindinalva.

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Dona Azanildes se diz “maior eleitora de Dilma” no reduto de mairineiros.

Dona Azanildes, 60 anos, lava roupas, é viúva e tem dez filhos
Foto: Janaina Garcia / Terra

“Como que não vou ser? Meus filhos trabalhavam no corte de cana, saíam de casa às 4 horas todo dia, faziam semana cheia, um trabalho muito pesado, e no governo do Lula começaram todos a trabalhar no Porto de Suape (em Ipojuca, a cerca de 20 km de Sirinhaém). Com o dinheiro que ganham, compram o que precisam, o que eu preciso, e ainda constroem as casas deles – coisa que não tinha antes. Hoje, o que o rico compra, a gente compra também – nem que seja parcelado. E do contrário disso nenhum outro candidato vai me convencer”, concluiu a lavadeira, viúva e mãe de dez filhos.

Veja o cenário eleitoral nos estados

Fonte: Terra
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