O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na noite desta quinta-feira, em comício no Distrito Federal, que não escolheu Dilma Rousseff para presidir o Brasil apenas por ser sua amiga, mas por competência. O petista fez a afirmação ao falar novamente que ama a candidata adversária Marina Silva (PSB), mas brincou que, se fosse por amor, escolheria sua mulher, Marisa Letícia, para ocupar o Palácio do Planalto.
“Ontem a imprensa me disse em Santo André (SP): ‘mas, Lula, a Marina chorou, disse que te ama’. Eu também amo ela, mas escolha para presidente não é caso de amor, se não eu chamava a Marisa para ser presidente, e não a Dilma”, declarou o ex-presidente em um comício em Ceilândia, maior colégio eleitoral do Distrito Federal, que não contou com a candidata do PT. Sem voz após viajar a Nova York para a Assembleia Geral da ONU, a presidente cancelou o compromisso.
“Na hora de escolher alguém para dirigir um barco desse tamanho, a gente não escolhe por amizade, mas por capacidade e competência. E por isso que ela (Dilma) não permitiu que esse País entrasse numa crise como entrou Espanha”, acrescentou Lula, aplaudido pelos presentes.
A referência à Marina, que foi sua ministra, foi a única durante todo o discurso feito no tradicional padrão “nós contra eles”, com críticas à elite e à imprensa brasileira. “Eles não toleram a presidente Dilma. Não tem explicação sociológica a bronca que eles têm da Dilma, não tem explicação econômica o preconceito”, afirmou.
O ex-presidente comparou as críticas de Dilma às sofridas por outros presidentes como Juscelino Kubitcheck, Getúlio Vargas, João Goulart e o americano Franklin Roosevelt, que cumpriu quatro mandatos nos Estados Unidos.
“É a mesma coisa que falam de você e da presidente Dilma. Eles nunca aceitaram neste País alguém que ousasse permitir que um negro virasse doutor nesse País. O máximo que aceitavam era que fosse jogador de futebol”, disse.
Lula também criticou propostas do presidenciável Aécio Neves (PSDB), que defende um "choque de gestão" na administração federal. "Quando alguém fala em choque de gestão significa arrocho salarial, diminuir direitos dos trabalhadores", disse.
"Militância não pode ter medo de usar camisa do PT"
Com o PT em baixa no Distrito Federal – o candidato Agnelo Queiroz corre risco de não ir para o segundo turno e Marina Silva lidera na região -, Lula conclamou a militância a se esforçar para reverter a tendência, sem ter vergonha de ostentar símbolos do partido. Ele disse ter sido aconselhado a não usar a camisa do PT em um vídeo de campanha, mas que evitou seguir o conselho.
“O dia que eu tiver vergonha de usar minha camisa vermelha e a estrela do partido que eu criei, não há nenhuma razão para fazer política. Numa família grande como o PT, tem gente que comete erro, comete abusos, tem gente que tem que pagar pelos abusos”, afirmou, em referência a escândalos de corrupção envolvendo partido.
Lula voltou a dizer que o governo do PT apurou denúncias, sem jogar para debaixo do tapete. "A Dilma tirou o tapete da sala, não tem mais como jogar para debaixo do tapete. E nossa militância não pode ter medo de usar sua camisa, usar o adesivo do Agnelo, e defender com muita honra aquilo que defendemos no nosso País", opinou.
Com o impedimento da candidatura de José Roberto Arruda (PR), barrado pela Lei da Ficha Limpa, as pesquisas no Distrito Federal passaram a ser lideradas pelo candidato do PSB, o senador Rodrigo Rollemberg. No último levantamento do Ibope ele aparece com 31%, enquanto Jofran Frejat, candidato substituto no PR, e Agnelo estão empatados tecnicamente na segunda colocação, com 21% e 19%, respectivamente.
“Agnelo, levanta a cabeça, vá pra rua, não tire sua camisa e sua estrela, e vamos enfrentar. Não acredito que alguém que defendeu o (ex-governador Joaquim) Roriz tem capacidade moral de falar de você, não acredito que alguém que defendeu o (ex-governador José Roberto) Arruda tenha capacidade moral de falar bem de você”, defendeu.