O avião da candidata ao governo de Mato Grosso pelo PSD, Janete Riva, foi roubado no último sábado, 20, supostamente para o uso do narcotráfico internacional, em uma espécie de zona livre de fiscalização, em uma região onde o controle do espaço aéreo é precário, segundo informou o delegado responsável pela investigação.
A aeronave King Air - modelo C90GTI, de 2006 (prefixo PR-ATY) - que vale mais de R$ 1 milhão, sumiu no ar, na região próxima à fronteira com a Bolívia. Minutos antes do sumiço, o piloto e o copiloto, Evandro Rodrigues de Abreu e Rodrigo Frais Agnelli, já estavam a postos, no aeroporto de Pontes e Lacerda (MT), para dar suporte à comitiva da candidata. Evandro e Rodrigo estão desaparecidos, desde então, e não se comunicaram de nenhuma forma, nem mesmo com a família.
O aeroporto, que se resume a duas pistas de terra, não tem torre e nem controle de aproximação, conforme informações de uma fonte do setor da aviação civil que não quis se identificar. Além disso, a fonte informa que um avião em muito baixa ou muito alta altitude pode não ser pego por nenhum radar do Centro de Operações Militares, que cobre o céu de todo o Brasil. Também não seria captado pelos centros de controle de área, localizados em Brasília, Curitiba, Manaus, Recife e no Atlântico.
O Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Mato Grosso (DTCEA) só faz monitoramento em um raio de 40 milhas, ou seja, a 80 quilômetros do aeroporto internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande, na região metropolitana da capital, Cuiabá.
“É isso mesmo, não tem nada aqui no aeroporto, nenhuma fiscalização, por isso o narcotráfico encontra facilidade para usar essa trilha aérea ”, confirma o delegado regional de Pontes e Lacerda, José Emílio Gadioli, que investiga o caso.
Há mais de 48 horas, a equipe dele está na Bolívia tentando rastrear por terra pistas da aeronave e não há nenhuma informação nova, segundo ele. Em uma camionete da Polícia Civil o delegado Gilson Silveira, titular da Delegacia Municipal de Pontes e Lacerda (MT), e dois investigadores, estão passando por várias pequenas localidades no país vizinho.
O delegado Gadioli avalia que é muito complicado perseguir pelo céu o rastro dos ladrões. “Claro que quem quer roubar não vai fazer a comunicação com o rádio e nem vai passar plano de voo”. O delegado diz que tentou entrar em contato com o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) mas não conseguiu fazer contato. O Sivam é um projeto das forças armadas do Brasil para fiscalizar o espaço aéreo da região de floresta.
O Terra tentou encontrar a administração do aeroporto de Pontes e Lacerda, mas, segundo informações de moradores da região, as pessoas apenas usam as pistas, principalmente, fazendeiros, governo, políticos e outros. Segundo a Força Aérea Brasileira (FAB), o aeroporto aparece no sistema como público e administrado pelo governo do Estado. Mas, conforme a assessoria de imprensa da Prefeitura, "um rapaz da cidade é que responde pela utilização da pista".
“Os 'malas' ficam sabendo que vai ter avião de político na região e já sabem da falta de estrutura de fiscalização no aeroporto e aí planejam o roubo, já sabendo que vão levar a aeronave de boa”, constata o delegado Gadioli, se referindo aos narcotraficantes. O delegado diz que está estudando casos recentes de roubo de avião para compreender o modo de operação desse tipo de quadrilha.
Gadioli informa que não conseguiu confirmar se o avião que um empresário do setor agrícola da região viu voando em baixa altitude próximo de sua fazenda era de fato o que foi roubado. Ele também informa que não procede a tese de que as duas camionetes vistas próximas ao aeroporto teriam dado suporte ao roubo. “Eram só fazendeiros que estavam por perto e que também iam usar as pistas”, acrescenta.
Questionada sobre a precariedade da fiscalização do espaço aéreo na região de Pontes e Lacerda, a Aeronáutica, por meio da assessoria de imprensa da Força Aérea Brasileira, informou ao Terra que "as rotas aéreas são definidas pelos pilotos por ocasião da apresentação de seus Planos de Voo, sejam elas em aerovias (pré-selecionadas) ou de acordo com seus planejamentos específicos".
A FAB também argumenta que "há de se esperar que uma operação ilícita, como o uso de aeronaves pelo tráfico, seja realizada sem que haja a notificação da intenção do voo".
O trabalho de vigilância da FAB para cobrir a fronteira seca e coibir o narcotráfico entre o Brasil e seus países vizinhos, segundo informa, conta com um sistema de defesa aérea no qual são empregadas aeronaves A-29 (super-tucanos) integradas a uma rede de radares. A Força Aérea participa, ainda, de operações conjuntas, coordenadas pelo Ministério da Defesa, envolvendo as outras Forças Armadas e diversos órgãos de segurança pública (Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, ANAC e IBAMA).
Além da Civil, a Polícia Federal também abriu inquérito para apurar o caso. A principal linha de investigação é a mesma: roubo do avião por narcotraficantes internacionais. Conforme a assessoria de imprensa da PF, toda a equipe da sede em Cáceres, que também fica na região de fronteira com a Bolívia, está acionada para trabalhar no caso. A PF já acionou também a adidância na Bolívia, um escritório que a PF mantém em diversos países.
O delegado Gadioli, no entanto, desconfia que a aeronave possa estar mais longe. “Havia combustível para dar autonomia de voo até a Colômbia”. Segundo ele, o avião tem sinalizadores acionáveis automaticamente em caso de acidente. Na opinião dele, isso elimina a possibilidade de queda.
(Ao contrário do que dizia uma versão anterior desta matéria, o aeroporto de Pontes e Lacerda é administrado pelo governo do Estado e não pela Prefeitura Municipal. A correção foi feita às 18h10 do dia 24.09.2014.)