O delegado Gilson Silveira, titular da Delegacia Municipal de Pontes e Lacerda (MT), seguiu para a Bolívia por terra, com um veículo da Polícia Civil de Mato Grosso, com dois investigadores, para tentar rastrear o avião da candidata ao governo de Mato Grosso, Janete Riva (PSD), roubado no início da tarde do última sábado.
A equipe de investigação está fazendo contato com autoridades bolivianas para somar apoio nas buscas.
O piloto e o copiloto da candidata, Evandro Rodrigues de Abreu e Rodrigo Frais Agnelli, que já estavam a postos na cabine aguardando a comitiva chegar para seguir viagem, estão desaparecidos desde sábado.
O empresário Fernando Rezende, de 54 anos, é primo de Rodrigo. Ele mora em Maringá (PR), terra do copiloto. Segundo ele, a mulher do desaparecido acaba de ter um bebê, que está com 40 dias de vida. “Ela está bastante abatida e angustiada, aguardando notícias”, lamenta o primo. O casal mora em Várzea Grande, cidade vizinha à capital de Mato Grosso, Cuiabá, “mas por sorte, como ela teve bebê, está aqui em Maringá, com familiares”. Fernando assegura que o copiloto, que presta serviços aéreos no interior do Estado, não fez nenhum tipo de contato. “Ele nunca sumiu assim. Estamos rezando para ele aparecer”.
O delegado regional de Pontes e Lacerda, José Emílio Gadioli, disse que duas informações estão sendo investigadas e podem ter ligação com o roubo do avião. Um empresário do agronegócio da região de Pontes e Lacerda disse que viu uma aeronave parecida com a descrita pela polícia voando baixo, próximo à fazenda dele. “Mandei uma equipe para lá, mas não temos nenhuma confirmação de que se trata do mesmo veículo”, disse o delegado.
Gadioli falou com a polícia boliviana no sábado logo após o registro do crime, mas só nesta segunda-feira conseguiu se comunicar, com muita dificuldade, com a equipe da Polícia Civil do Mato Grosso que está no país andino. O delegado disse que “na localidade onde eles estão o sinal de celular é muito ruim. O que eles falaram é que as autoridades locais estão sendo solidárias”.
Conforme apurou o delegado Gadioli, a autonomia de vôo do avião modelo King Air, prefixo ATY, daria para os ladrões chegarem em Santa Cruz de La Sierra, que é a primeira cidade boliviana após a fronteira, onde poderiam aterrissar, abastecer e seguir viagem.
O delegado Gadioli disse ainda que não faz ligação entre o crime e motivações políticas, pelo menos não a princípio. “Não estou nem mexendo com isso. Ainda é tudo uma dúvida, nem o inquérito foi aberto ainda, está tudo muito tumultuado, mas acreditamos que o avião tenha sido sequestrado por narcotraficantes, apesar de que isso não é comum na região. O que é comum é roubarem aeronaves bem menores em outros lugares e usá-las no tráfico aéreo. Eles colocam 300 a 400 quilos de cocaína por exemplo na Bolívia nesses aviões e trazem para território brasileiro. Aqui é uma região de fronteira, tudo que não presta passa por aqui, aqui é o que o povo chama de curva de rio”, compara o delegado, atuante há seis anos na região.
Perguntado sobre como é feita a fiscalização do tráfego aéreo na região, o delegado responde que já entrou em contato com a Aeronáutica, em Cuiabá, para se informar a respeito e se há registro do trajeto aéreo do avião roubado. “Precisamos de uma informação mais técnica para eu te falar”.
O Grupo Especial de Fronteira (Gefron) está mobilizado nas investigações, assim como a Polícia Federal (PF).
Família Riva
O primo do copiloto Rodrigo explica que a família está em contato com a candidata Janete Riva e o marido dela, o deputado estadual José Riva. Ambos seguiriam em viagem de campanha eleitoral no avião roubado de Pontes e Lacerda para Vila Bela da Santíssima Trindade. Riva era o candidato a governo na chapa “Viva Mato Grosso”, mas foi considerado inimputável pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por ser “ficha suja”. Janete assumiu a chapa. A família Riva, conforme a Assessoria de Imprensa da candidata, estava utilizando duas aeronaves para fazer campanha eleitoral. A filha do casal, Janaína Riva, também é candidata a deputada estadual pelo mesmo partido (PSD).
A Assessoria de Imprensa da candidata Janete assegura que não tinha, dentro da aeronave, nenhum objeto de valor que pudesse interessar mais a um ladrão do que o próprio veículo, que vale mais de R$ 1 milhão. A comitiva levava consigo apenas alguns objetos pessoais, como celular e notebook, além de mala de roupas.
Nessa segunda-feira, a candidata, que havia cancelado a agenda eleitoral para acompanhar o início das investigações, já retomou as atividades, mas assegura que vai dar suporto às famílias do piloto e copiloto desaparecidos.