MT: como Juruna, candidato quer ser 1º deputado indígena

Caiapó Matudjo Metuktire quer priorizar o direito dos mais de 40 mil "parentes"

17 set 2014 - 09h39
(atualizado às 11h16)
Metuktire é caiapó, mas quer ser a voz de mais de 40 mil "parentes"
Metuktire é caiapó, mas quer ser a voz de mais de 40 mil "parentes"
Foto: Téo Miranda / Especial para Terra

O caiapó Matudjo Metuktire, 35 anos, do Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso, é um dos três candidatos indígenas que disputam cargo eletivo no Estado nas eleições deste ano, porém o único nascido em aldeia. Ele quer ser deputado estadual, pelo PROS, para “priorizar o direito dos mais de 40 mil ‘parentes’ de diversas etnias que vivem no Estado”, com destaque para saúde e educação.

Outras candidatas se declararam indígenas no quesito raça/cor junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas nasceram na cidade. Eliane Silva Ribeiro, 33, natural de Cuiabá, do PRP, também quer ser deputada estadual, e Josefina Almeida, de Várzea Grande, saiu para federal, pelo PSDB.

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Se eleito, Matuktire será o primeiro deputado estadual indígena de Mato Grosso, que tem 8.846 eleitores índios aptos a votar de um universo de 2.183.201 eleitores, conforme dados do TSE. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) já informou que vai montar uma força-tarefa para levar urnas às aldeias, já que algumas estão entre os locais de mais difícil acesso.

Embora o TRE não tenha dados precisos sobre isso, há informações sobre alguns vereadores que também nasceram em aldeias e conseguiram ser eleitos.

Um deles é o próprio Matuktire que, com 96 votos, ocupa, desde 2012, uma das nove cadeiras da câmara municipal de São José do Xingu, um município pequeno, com apenas 5.267 habitantes, de acordo com a contagem do Censo 2010, que fica ao extremo Norte do Estado.

Matuktire é casado e tem quatro filhos. Está fazendo a campanha sem nenhum dinheiro, embora tenha declarado ao TRE que vai gastar R$ 1 milhão e 500 mil. O principal cabo eleitoral dele é a esposa, uma juruna de 29 anos, chamada Maria Imaculada Santana. “Eu, junto com ela, vamos à casa das pessoas, a gente faz reunião, mas não consegui percorrer as aldeias porque não tenho verba para viajar e o partido, que ia enviar apoio financeiro, ainda não mandou nada, só santinhos”, reclama.

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Ele entrou na política com o apoio de “parentes” indígenas, que acham importante ter representação nas câmaras municipais e na Assembleia Legislativa. “Conversei com meu povo, fizemos reunião e a gente decidiu que precisamos ter um representante político para defender os nossos direitos e buscar os nossos benefícios”.

Antes dele, duas outras lideranças xinguanas tentaram se eleger vereadores e outros dois deputados, mas não conseguiram.

Segundo ele, saúde será prioridade em sua possível gestão porque em boa parte das aldeias indígenas de Mato Grosso ainda há crianças que morrem de desnutrição e a tuberculose está fazendo muitas vítimas adultas. “A Funasa está ajudando, mas não em muitas coisas. Tem que ter estrutura dentro das nossas aldeias. Não longe, mas dentro”, reforça.

Ele reconhece que não basta vencer as eleições para aplicar suas propostas porque como vereador não tem conseguido apoio na Câmara e na Prefeitura para aprovar leis de sua autoria. “Gostaria que fosse feito para nós a construção de postos de saúde nas aldeias, mas até agora não consegui aprovar nada. Sou eu sozinho indígena para defender a causa”, justifica.

Como vereador, a prática é fazer reunião nas aldeias do município de São José do Xingu
Foto: Facebook / Reprodução

Matuktire promete ainda que, se for eleito, com relação à educação indígena, irá priorizar os estudantes que saem da aldeia para se formar na cidade. “Eles precisam tanto do nosso apoio, principalmente os que já estão na faculdade”.

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Ele ainda se lembra de quando, em 1992, começou a ir e voltar da aldeia para a cidade, já iniciando a vida política. Antes disso, forjou-se como líder atuando na associação dos caiapós e como diretor da escola indígena local.

A radialista terena Naine de Jesus, 34 anos, doutora em educação, é da aldeia Limão Verde (MS). Filha de mãe terena e pai mestiço (bororo e negro) sente vontade de votar em candidatos indígenas. “Sim, eles me representariam mais. Nos últimos anos não houve tantos representantes e essa articulação em prol de candidaturas indígenas tem sido uma demanda nacional”, observa. Ela lamenta que tenham tão poucos indígenas ocupando cadeiras eletivas.

Na opinião dela, faltam representantes que lutem pelos direitos dos povos tradicionais, como a demarcação de terras, a sustentabilidade e combate ao desmatamento. Além disso, a radialista destaca também que estão ocorrendo assassinatos de indígenas por questões de terras e ódio racial.

Juruna foi o primeiro deputado federal indígena do País, em 1982
Foto: Arquivo / Divulgação

Matuktire tem pelo menos uma liderança indígena mato-grossense que fez carreira política. O primeiro indígena deputado federal no Brasil, Mario Juruna, embora tenha sido eleito em 1982 pelo PDT no Rio de Janeiro, nasceu em uma aldeia xavante em Barra do Garças (MT).

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Juruna até os 17 anos nunca tinha tido contato com a sociedade não-índia. Ficou famoso pela defesa incansável da demarcação de territórios indígenas e por gravar tudo nos gabinetes em Brasília. O que ele queria provar com isso é que as autoridades brasileiras são demagogas, ou seja, prometem e não cumprem. Morreu em 2002, diabético.

Fonte: Especial para Terra
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