A candidata do Psol à Presidência da República, Luciana Genro, disse nesta quarta-feira, em São Paulo, que achou “muito divertidos” os memes – montagens bem humoradas – que circulam, desde a noite passada, nas redes sociais a respeito de sua participação no debate dos presidenciáveis na Band. Por outro lado, a candidata negou que, como explicitado em alguns memes, tenha ficado “chateada” pelo formato do debate ter privilegiado candidatos mais bem colocados nas pesquisas – sobretudo Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB).
Luciana participou de uma panfletagem na esquina da avenida Paulista com a rua Augusta, um dos cruzamentos mais diversos e movimentados da capital paulista. Mesmo assim, não mais que 50 pessoas, entre curiosos e militantes, pararam para ouvir o breve discurso da candidata ao microfone - enquanto outros preferiram fazer selfies e fotos com ela.
Indagada sobre o que achou dos memes pós-debate, Luciana riu. “Vi alguns e achei muito divertidos. Não estava chateada, mas claro que não gostei do primeiro bloco do debate, porque ninguém me perguntou”, disse, para complementar: “Até entendo que ninguém quisesse me perguntar, porque não querem que eu bote o dedo nas feridas que pretendem esconder. Mas não podia deixar de me manifestar e ficar calada ouvindo aquilo tudo”, afirmou, referindo-se ao momento em que se declarou “frustrada” ante o "gelo’" dos candidatos em um bloco no qual Dilma, Marina e Aécio podiam fazer perguntas. O apresentador Ricardo Boechat frisou que as regras haviam sido estabelecidas em conjunto com as assessorias de campanha.
“O meme é uma ótima expressão da forma como as pessoas enxergam o debate, e o humor sempre foi um ótimo veiculo de comunicação”, avaliou.
Com 1% das intenções de voto na pesquisa Ibope divulgada na terça-feira à noite, Luciana, indagada a respeito, ainda fez questão de se classificar como “mais radical” que outro nanico em pesquisas, Eduardo Jorge (PV), cujas respostas e reações no debate acabaram o colocando no topo dos piadistas que o elegeram alvo preferido dos memes na internet.
“Sou mais radical que Eduardo no sentido de ser a única candidata que vai à raiz dos problemas. Ele não se manifestou sobre política econômica e se recusou a falar sobre o problema da falta de democracia da mídia”, definiu.
A exemplo de outros militantes psolistas que discursaram ao microfone, na Paulista, a candidata não poupou críticas aos três primeiros colocados nas pesquisas e os classificou como representantes do que chama de “velha política”.
“Tive a oportunidade de confrontar a presidente Dilma e a Marina e de mostrar as semelhanças entre elas e o candidato Aécio”, afirmou. Sobre Marina, recém-alçada à condição de presidenciável e já em segundo lugar na disputa, resumiu: “A Marina tem uma aparência que não corresponde à sua essência, porque, no momento em que ela defende o tripé macroeconômico e a independência do Banco Central, demonstra que está muito mais próxima de ser uma segunda via do PSDB do que efetivamente uma terceira que represente algo estruturalmente diferente”.
Panfletagem no horário de almoço não empolga pedestres
A panfletagem na Paulista durou cerca de duas horas, das 11h às 13h – Luciana ficou metade do tempo, já que, segundo sua assessoria, tinha entrevistas na sequência. Durante esse tempo, porém, a cena predominante não foi a do eleitor receptivo, mas sim, avesso à publicidade eleitoral.
“A maioria nem para, mas alguns ainda dizem ‘vai trabalhar, comunista’, ou coisa até pior”, contou o estudante e militante do Psol Felipe Simoni, 19 anos. “Por mais incrível que pareça, panfletar no centro ou perto de universidades é mais fácil, pois as pessoas parecem mais conscientes. Aqui (na Paulista), há uma dificuldade de fazer o sujeito não jogar na mesma vala todos os partidos políticos”, lamentou o engenheiro alimentar e candidato a deputado federal pelo Psol Luís Guilherme Campos de Oliveira, 51 anos.
Defensora da desmilitarização das polícias e, entre os candidatos, da que mais cita os protestos de junho na campanha – muitos deles, com a Paulista de palco principal -, Luciana avaliou que a recusa em aceitar a panfletagem pode ser algo positivo.
“É difícil realmente esse processo de diálogo, porque há uma repulsa grande das pessoas em relação aos partidos tradicionais, o que não é de todo negativo. Nossos espaços são muito restritos, mas os debates são oportunidades importantes para o nosso partido mostrar que não é uma sigla das tradicionais”, opinou.
Panfletagem atrapalha outros ‘caçadores’ de pedestres
A poucos metros da panfletagem partidária, representantes comerciais da Unicef tentavam aproveitar os pedestres que sobravam da abordagem eleitoral. “Esse tipo de ação atrapalha a gente, porque, se eu consigo parar alguém, vem outro sujeito e oferece um panfleto. Aí a pessoa se desvencilha do militante e de mim”, comentou o representante comercial Ayrton Sgalla, 19 anos. “Quem não pega panfleto de campanha aí é que não para mesmo com a gente”, arrematou outra representante da Unicef, Núbia Garcez, 21 anos. “A gente já sai avisando ‘não é política, não!’, senão aí é que ninguém para”, completou.