O anúncio do apoio de Marina Silva ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira, 12, teve por trás a costura do candidato ao governo de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad. Na campanha petista, o anúncio foi comemorado pela força da figura de Marina entre setores chave do eleitorado no Sudeste, onde o PT busca conquistar eleitores, e especialmente para a mensagem principal de Lula na disputa deste ano: a de que divergências políticas dão lugar a uma frente ampla de apoio a seu nome contra o de Jair Bolsonaro.
Mulher, evangélica e ambientalista, Marina fortalece o palanque de Lula entre três grupos que a campanha considera importantes. Primeiro, o eleitorado feminino, que já prefere o petista a Bolsonaro, mas que têm maior taxa de indecisão do que os homens na disputa atual, de acordo com o último Datafolha.
Segundo, os evangélicos, que apoiam majoritariamente Bolsonaro. Marina saiu em defesa de Lula hoje mesmo, ao dizer que é mentira a sugestão de que o petista fecharia igrejas. A declaração de Marina de que não faz do púlpito um palanque ou vice-versa dialoga com a estratégia de Lula para buscar o apoio dos religiosos. A campanha sustenta que religião e política não devem se misturar. Como evangélica, no entanto, acreditam que a voz de Marina pode ter maior ressonância.
Os principais aliados de Lula também afirmam que Marina pode ajudar com um segmento que fez Bolsonaro ganhar fôlego na última pesquisa de opinião: os jovens. Isso porque a questão climática aparece como preocupação entre diferentes faixas do eleitorado jovem. Vista nacionalmente e internacionalmente como uma "embaixadora da causa ambiental", Marina pediu que seu plano programático seja incluído em eventual programa de governo do petista.
O plano mais ousado, segundo interlocutores de Lula, é o de criar uma autoridade nacional da crise climática, para fazer o tema atravessar todo o governo. Ainda será discutido internamente se a autoridade seria vinculada à Presidência ou a algum ministério, por exemplo.
Haddad queria a ex-ministra e ex-colega de Esplanada dos Ministérios como candidata a vice na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, o que ela não topou. A sondagem, no entanto, colocou os dois em contato frequente desde o primeiro semestre, o que foi crucial para pavimentar o caminho de reaproximação com Lula. Ela vinha deixando em aberto voto em Lula ou Ciro Gomes (PDT).
Apesar do rompimento com o PT no passado, Marina se incomodava, segundo petistas, com o fato de Ciro ter contratado João Santana como marqueteiro - justamente o responsável pela campanha agressiva de Dilma Rousseff contra a ex-ministra em 2014. A aproximação entre Marina e Lula era considerada "precificada" pelos petistas nas últimas semanas, faltava o movimento público do ex-presidente.
Marina Silva, que concorre ao cargo de deputada federal por São Paulo e já tem participado de atos junto de Haddad, se colocou à disposição da campanha de Lula para participar de eventos ao lado do petista. Com ela no palanque, o ex-presidente contará com o apoio de quatro ex-candidatos ao Planalto a seu lado: Marina, Haddad, Geraldo Alckmin e Guilherme Boulos. O movimento é considerado na campanha de Lula o fato novo em uma reta final pré-eleição na qual pouca ou nenhuma novidade parece mudar o quadro de intenções de voto.