Opinião: Campanha em SP está cada dia pior com “machões” querendo ser prefeito

A alegada defesa da “honra” na eleição de São Paulo está sendo utilizada como justificativa para violência física e verbal.

17 set 2024 - 13h01
Candidatos à Prefeitura de são Paulo participam de debate organizados pela Rede TV! e pelo UOL
Candidatos à Prefeitura de são Paulo participam de debate organizados pela Rede TV! e pelo UOL
Foto: Taba Benedicto/Estadão / Estadão

A alegada defesa da “honra” na eleição de São Paulo está sendo utilizada como justificativa para violência. Há agressões à honra? Sim. No entanto, parte dos ataques e xingamentos pessoais acontecem sob a justificativa de que a dignidade e a reputação estão sendo feridas pelos adversários e, por isso, contra-atacam na mesma moeda. Daí tantos pedidos de direito de resposta e o nível baixo da disputa que cada vez mais soa como um embate entre "machões".

A defesa da honra foi utilizada como manto de impunidade para muitos homens perseguirem e assassinarem mulheres. Essa desculpa, a "legítima defesa da honra", que livrou tantos criminosos da cadeia foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ainda que tardiamente, em 2023. Insistir nessa tese é ruim para sociedade.

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“Desculpa, pessoal, é que é muito difícil esse condenado atacando a honra da gente”, se justificou o candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB), depois de um bate boca de baixo nível com Pablo Marçal (PRTB) no debate da RedeTV!/UOL nesta terça, 17. Ambos descontrolados começaram uma troca de xingamentos com os microfones ligados, que se seguiu mesmo com o áudio cortado e o debate interrompido pela mediadora, Amanda Klein.

No início do programa, Datena (PSDB), citando o episódio da cadeirada em Marçal, disse que honraria a si mesmo e a sua família até a morte. O ex-coach atiça e provoca tentando fisgar pontos que possam desequilibrar os concorrentes, como fez com Datena. Para deixar registrado, a violência verbal não justifica a física.

No debate desta terça, Guilherme Boulos (Psol) em outro episódio já perdeu o controle e tentou tomar a carteira de trabalho provocativa de Marçal, se conteve. O mesmo comportamento, de mostrar alguma serenidade, também tiveram Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo), que já se mostraram assim em outros encontros.

Essa ideia de defesa da honra como subterfúgio para revidar com violência é um prato cheio para redes sociais, para viralização e engajamento. Isso serve para sanar gargalos no trânsito, violência e saúde da cidade? Não serve.

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O espetáculo, o meme e o conteúdo viral em redes sociais podem servir a muitos interesses e vários deles legítimos. Assim como a vida, a política foi levada para o ambiente virtual. Ali, se vê o debate, a discussão e a cobrança. Esses elementos são fundamentais para democracia. Acontece que nas redes, há direcionamento com algoritmos (o que desequilibra o jogo) e não há espaço para consensos, para equilíbrio, para o aperto de mãos entre os que pensam diferente - a chave para política triunfar na sociedade.

Marçal, que tem amplo domínio em rede social, sabe usar a política como espetáculo. No domingo, 15, após ser agredido fisicamente por Datena, fez postagens que davam a impressão de que estava debilitado, deitado na maca da ambulância e frágil. No dia seguinte, mudou de estratégia, dizendo que não é vitimista. No debate desta terça, dobrou a aposta no tom bélico com os adversários e falando que: “isso daqui, na verdade, é a turma do Chaves”, um deboche.

Como em uma partida de futebol, os jogadores em campo podem ser estimulados pela torcida, mas dependerá deles, na bola, mudar o jogo e vencer. Na política é semelhante, o eleitor pode pedir um ambiente mais sereno e racional, que seja efetivo para o sucesso de políticas públicas. Mas isso dependerá dos políticos e dos partidos também assumirem esse compromisso. A pergunta é: os candidatos querem? E os eleitores?

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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