Pablo Marçal fica pelo caminho após bagunçar disputa em SP e mostra nova força na extrema direita

Ex-coach ficou em terceiro lugar na disputa do 1º turno pela prefeitura da capital paulista

6 out 2024 - 21h08
(atualizado às 22h18)
Marçal chegou à escola 5 minutos antes do fechamento das urnas, que encerrou às 17h. O candidato apareceu descalço e vestindo uma camisa com estampa da letra inicial do seu sobrenome
Marçal chegou à escola 5 minutos antes do fechamento das urnas, que encerrou às 17h. O candidato apareceu descalço e vestindo uma camisa com estampa da letra inicial do seu sobrenome
Foto: RENATO S. CERQUEIRA/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Pablo Marçal está fora do 2º turno das eleições municipais em São Paulo. O candidato do PRTB ficou em terceiro lugar na disputa contra Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) após uma acirrada disputa eleitoral pelo comando da capital paulista --marcada por polêmicas, agressões, poder da internet na campanha e a divulgação de um laudo falso contra Boulos a dois dias do 1º turno.

Essa foi a eleição paulista mais acirrada em 12 anos, com o cenário semelhante ao da corrida eleitoral de 2012, quando José Serra (PSDB), Celso Russomanno (PRB) e Fernando Haddad (PT) disputavam voto a voto a vaga para o 2º turno. Marçal perdeu por uma diferença de 56.853 votos em relação a Boulos, que alcançou a segunda posição com 29,06% dos votos válidos. Nunes, que liderou a disputa com 29,49%, teve 81.865 votos a mais que o ex-coach.  

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Sem tempo de TV e rádio na propaganda eleitoral gratuita, Marçal apostou em sua força nas redes sociais e em uma postura combativa nos debates para conquistar o eleitor paulistano. O influenciador já tinha milhões de seguidores na internet pelo sucesso do seu trabalho como coach.

“Fala bem ou fala mal, mas fale de mim”. Esse tradicional ditado popular parece que guiou a campanha de Marçal. No começo da corrida eleitoral, ele aparecia com um dígito nas pesquisas eleitorais, longe de Boulos e Nunes, e atrás até de José Luiz Datena (PSDB). Porém, à medida que ficou mais conhecido, subiu nos levantamentos de intenções de votos e bagunçou a disputa pelo comando da principal cidade da América Latina.

'Divulgar laudo falso foi um tiro no pé do Marçal', avalia especialista
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Marçal lembrou a fórmula de gestor de João Doria e se vendeu como alguém de fora da política. Ele chegou a ser candidato a presidente em 2022 pelo Pros, mas teve a candidatura retirada pelo partido pouco tempo antes das eleições. Com isso, se lançou candidato a deputado eleitoral por São Paulo, foi eleito, mas teve a candidatura indeferida e perdeu a vaga para o petista Paulo Pimenta.

Na disputa municipal deste ano, Marçal tentou aliança política com Jair Bolsonaro (PL). Após doar dinheiro para campanha do ex-presidente em 2022, o ex-coach esperava ter o apoio para alavancar a sua campanha entre os bolsonaristas paulistanos. Porém, Bolsonaro optou por ficar ao lado de Nunes. Mesmo assim, o empresário foi capaz de ganhar notoriedade na extrema direita e mostrou a sua força.

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Pablo Marçal fez publicação nas redes sociais contra Guilherme Boulos
Foto: Tiago Queiroz/Estadão / Estadão

Problemas com a Justiça 

Agora, apesar do fim da campanha eleitoral, Marçal terá muito mais com o que se preocupar do que só dizer se vai apoiar algum dos dois candidatos no 2º turno. Ele deve enfrentar processo na Justiça Eleitoral e na Justiça Comum pela publicação de um laudo falso contra Boulos. Na postagem, o documento falsificado dizia que o candidato do PSOL teria sofrido um surto psicótico e testado positivo para cocaína, em 2021.

Após a divulgação, Marçal teve a conta reserva no Instagram derrubada –o perfil oficial já estava suspenso desde agosto por suspeita de abuso de poder econômico– e acabou fazendo publicações no X. A rede social está suspensa no Brasil. Com isso, o ministro Alexandre de Moraes cobrou explicações do empresário, que pode ficar até inelegível.

Com menos de 3 minutos para fim da votação, Pablo Marçal aparece para votar em SP
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Altos índices de rejeição

Todos esses fatores contribuíram para Marçal ser o candidato com maior rejeição entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo. De acordo com o Datafolha de sábado, 53% dos eleitores paulistanos afirmaram que não votariam no ex-coach de jeito nenhum.

Entre as mulheres, o indício de rejeição era 59%. Em embate com Tabata Amaral (PSB) durante a campanha, o influenciador, em fala machista, declarou que “mulher não vota em mulher porque é inteligente”.

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Para comparação, Guilherme Boulos (PSOL) era rejeitado por 38% dos eleitores, enquanto Ricardo Nunes por 25%, contra 39% de Datena e 15% de Tabata. 

Cadeira e soco

Marçal processa Datena e pede indenização de R$ 100 mil por cadeirada
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Entre as suas declarações polêmicas, o empresário afirmou que mostrou a “sua pior e melhor versão” ao eleitorado e que tentou fazer isso com os seus adversários também. Essa foi a justificativa ao comentar a motivação de relembrar a acusação de assédio sexual contra Datena durante o debate na TV Cultura. O apresentador acabou se descontrolando e agrediu o rival com uma cadeirada.

O caso ao qual fez referência Marçal aconteceu em 2019. Em janeiro daquele ano, Datena foi acusado por uma repórter do Brasil Urgente, programa apresentado por ele na Band, de assédio sexual. A jornalista chegou a registrar queixa, mas acabou recuando, e o caso foi arquivado.

Após o episódio de violência, o candidato do PRTB declarou que mostraria apenas a “sua melhor versão” dali em diante. Porém, não demorou muito para que ele voltasse a utilizar os apelidos jocosos para se referir aos adversários. Em um dos 11 encontros entre eles ao longo da campanha, dessa vez no debate do Flow, Marçal foi expulso por desrespeitar as regras faltando 10 segundos para acabar o programa. Na sequência, Nahuel Medina, cinegrafista dele, deu um soco em Duda Lima, marqueteiro de Ricardo Nunes, causando uma confusão generalizada.

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Vídeo inédito mostra advogado de Marçal segurando colarinho de assessor após soco em debate no Flow
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A rivalidade esquentou com Marçal questionando sobre o boletim de ocorrência registrado pela esposa de Nunes contra o atual prefeito da capital paulista, em 2011. No embate na Folha de S. Paulo, por exemplo, o influenciador questionou o rival em 10 oportunidades.

Regina Carnovale é casada com Nunes há 27 anos e, juntos, têm três filhos. De acordo com a polícia, na ocasião em que houve o registro do B.O. contra o marido, Regina afirmou que eles viviam em união estável há 12 anos, mas que estavam separados há sete meses por conta do "ciúmes excessivo" de Nunes, que na época era vereador. Posteriormente, ela retirou a acusação. Em 2020, quando o caso se tornou público, ela negou as agressões e disse que "estava em um momento difícil"

Calcanhar de Aquiles

O candidato Pablo Marçal caminha pelas ruas de comércio do Brás, região central de São Paulo. FOTO TABA BENEDICTO / ESTADAO
Foto: Taba Benedicto/ Estadão / Estadão

Se Marçal utilizou de artilharia pesada contra os adversários, o contra-ataque dos adversários não foi diferente. Eles trouxeram para os holofotes os problemas judiciais do ex-coach, que chegou a ser preso provisoriamente em 2005, aos 18 anos, por desvios e invasões a contas bancárias. 

Em 2010, o candidato do PRTB foi condenado por furto qualificado a quatro anos e cinco meses de prisão pelo TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região). Ele foi acusado de participar de um quadrilha que invadia contas bancárias pela internet. Porém, houve prescrição punitiva e ele não precisou cumprir a pena. 

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Atualmente, ele é investigado por suspeita de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita eleitoral e lavagem de dinheiro durante a campanha eleitoral de 2022. Ao lado do sócio, Marcos Oliveira, Marçal teria feito doações milionárias, e utilizado esses recursos para contratar as próprias empresas. 

A expedição ao Pico dos Marins, na divisa entre Minas Gerais e São Paulo, em janeiro de 2022, também rendeu uma investigação contra o ex-coach, que é acusado de colocar em risco a vida de 32 pessoas. O grupo foi resgatado pelo Corpo de Bombeiros após subir a montanha de 2.420 metros de altitude, mesmo com o alerta da Defesa Civil sobre as más condições meteorológicas.

As ligações de aliados e dirigentes do PRTB com o PCC, maior facção criminosa do Brasil, também foi explorada pelos adversários de Marçal. Áudios mostraram o presidente do PRTB, Leonardo Alves de Araújo, conhecido como Leonardo Avalanche, declarando vínculo com os integrantes da organização criminosa. 

Financiamento x Projetos

Durante toda a campanha, Marçal repetiu que a sua candidatura era a única que não recebeu dinheiro do Fundo Eleitoral e lançou um Pix para pedir doações para bancar o processo eleitoral. Em declaração ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o empresário declarou ter patrimônio de R$ 169.503.058,17 –o maior entre os candidatos em São Paulo.

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Esse valor foi atualizado, pois, antes, o candidato havia listado R$ 193.503.058,17 em bens. No montante há terrenos, bens imóveis, um espaço comercial, participações em empresas e investimento diversos. Porém, como mostrado pelo Terra, ele manteve a omissão de cerca de R$ 22,3 milhões à Justiça Eleitoral. Esse montante é referente a 'contas erradas' que minimizaram seus bens e também considera duas empresas que Marçal é sócio-administrador, que ficaram de fora da lista. Considerando o patrimônio listado em 2022, seus bens aumentaram em R$ 81.061.59.

O plano do governo do candidato do PRTB chamou a atenção por propostas nada tradicionais, como o objetivo de erguer o prédio mais alto do mundo, construção de cinturão de teleféricos e ensino de inteligência emocional nas escolas. A inteligência emocional, por sinal, foi tema recorrente do ex-coach em grande parte das suas falas nos últimos meses.

Fonte: Redação Terra
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