Paes sobre aliado: 'se confirmado, tem que ir para cadeia'

Prefeito do Rio de Janeiro classificou como "absolutamente chocantes" as denúncias envolvendo o candidato a deputado federal Rodrigo Bethlem, por anos secretário em várias pastas de sua administração, e envolvido em caso de corrupção

26 jul 2014 - 17h43
(atualizado às 22h33)
Paes concedeu entrevista no Palácio da Cidade, na zona sul do Rio de Janeiro
Paes concedeu entrevista no Palácio da Cidade, na zona sul do Rio de Janeiro
Foto: André Naddeo / Terra

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, afirmou na tarde deste sábado que uma auditoria da Controladoria Geral do Município identificará, a partir da próxima segunda-feira, se houve irregularidades em todos os contratos firmados pelo deputado federal e candidato à reeleição Rodrigo Bethlem (PMDB-RJ). Ex-secretário de Paes, o parlamentar aparece em gravações de áudio e vídeo admitindo receber propina na prefeitura, além ter uma conta na Suíça.

Sobre as denúncias envolvendo Bethlem, que teria uma espécie de mesada junto a empresas que firmaram contratos ao longo de sua gestão (secretaria de Governo, Assistência Social, Ordem Pública, desde 2009), Eduardo Paes afirmou que "as denúncias são absolutamente chocantes" e que, na sua opinião, "quem comete casos de corrupção, se forem confirmados, tem que ir para a cadeia".

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Rodrigo Bethlem é amigo pessoal de Paes há muitos anos, e sempre foi seu homem de confiança dentro do governo, junto do também candidato a deputado federal Pedro Paulo (PMDB-RJ), secretário municipal da Casa Civil recém-licenciado. Paes afirmou que não conversou e nem recebeu ligações de Bethlem, que, de acordo com denúncias das revistas Veja e Época, foi flagrado relatando os casos de corrupção de suas gestões quando negociava a pensão a ser paga para Vanessa Felippe, filha do presidente da Câmara Municipal do Rio, Jorge Felippe.

"Sentimentos pessoais são diferentes, não se aplicam ao meu governo", afirmou Paes ao ser perguntado se sentia traído - ele afirmou desconhecer qualquer ato anterior de corrupção e disse que jamais houve qualquer tipo de investigação dos contratos assinados por Bethlem.

"Eu fiquei chocado e surpreso. Com o que vi e ouvi. Independentemente da proximidade que qualquer agente público tenha comigo, a nossa ação vai ser de punir. Não há qualquer tipo de conivência com o erro. Me resta apurar e informar a sociedade não vamos aceitar esse tipo de coisa", explicou ainda. "Não vou passar a mão na cabeça de ninguém."

Bombardeado por perguntas acerca do rombo que esses contratos ilegais possam ter causado aos cofres da Prefeitura, Paes limitou-se a dizer que "uma auditoria feita pela controladoria geral do município, em 2012, já tinha apontado uma série de irregularidades com essa empresa, o que levou ao cancelamento desse contrato", com a empresa ONG Casa Espírita Tesloo.

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Pela denúncia das revistas, a empresa fornecia em caráter de propina R$ 70 mil mensais ao então secretário de Assistência Social. Este valor representa 5% do que foi acordado (R$ 1,4 miilhão) por 30 dias. No total, por sete meses, a assinatura do acordo rendeu à Tesloo R$ 9,68 milhões.

Ao ser perguntado por diversas vezes sobre detalhes, números, e demais informações, Paes repetia que, "dado o tempo curto, foi sexta à noite que isso chegou", só prestaria as contas à sociedade a partir de segunda-feira. "Quero dizer a população do Rio de Janeiro que nós vamos às últimas. Não tenho dúvida nenhuma que o deputado Rodrigo Bethlem deve satisfações. As falas são muito contundentes", explicou.

"Agiremos sem isenção para levar às últimas consequências para punir o desvio e mal uso de dinheiro público", disse ainda. A suposta conta de Bethlem na Suiça, citada na reportagem, também será alvo de investigação.

Atualmente fora do governo Paes, justamente por estar em campanha para se reeleger ao Congresso Nacional, Bethlem foi flagrado em gravações telefônicas e em vídeos feitas por sua ex-mulher, Vanessa Felippe. As provas são contundentes e datam de 2012. Nas conversas, o deputado federal explica que tem ganho mensal de R$ 100 mil, frutos justamente das propinas que retiravas dos contratos firmados.

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Nas imagens em vídeo, José Carlos de Oliveira Franco, secretário parlamentar nomeado para o gabinete de Bethlem na Câmara, é flagrado entregando R$ 20 mil em dinheiro para Vanessa. O valor acertado inicialmente e que consta nas gravações, é que Bethlem acertaria um pagamento de R$ 45 mil, mas depois este valor foi reduzido unilateralmente. 

Betlhem ao lado de Paes, em evento no Rio das Pedras, em 2009
Foto: Mauro Pimentel / Arquivo / Terra

Sempre ao lado de Paes

Com 43 anos de idade, Bethlem é filho da atriz Maria Zilda e trilhou o caminho na política ainda muito cedo. Aos 22 anos, já era sub-prefeito da Lagoa, bairro da zona sul do Rio, na época em que o Rio tinha César Maia como prefeito. Entre os "prefeitinhos" de Maia, como eram chamados na época, estava também o Duda, o apelido de Eduardo Paes - ele foi sub-prefeito da Barra e Jacarepaguá. Nas eleições de 2000, ele foi eleito vereador.

Quando Paes venceu o pleito diante de Fernando Gabeira, em 2008, no ano seguinte Rodrigo Bethlem assumiu a pasta de Ordem Pública, e como secretário implementou o Choque de Ordem. O programa visou estabelecer normas de comércio na praia, por exemplo, e de ordenação urbana. Na mídia estrangeira, foi classificado como o "xerife do Rio".

Desde então sempre esteve ao lado de Eduardo Paes - atuou também na antiga secretaria de Assistência Social - parte da verba desviada, aliás, provinha de programas de auxílio a viciados em crack. Chegou também ao posto de secretário de Governo, antes de se licenciar para as eleições. Talvez por isso Paes tenha demorado tanto em responder a pergunta do Terra ao ser indagado se sentia traído pelo amigo pessoal. "Compete a ele prestar esclarecimentos. Ouvi (as ligações) e fiquei estarrecido", disse. 

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Fonte: Terra
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