O pecuarista Cyro Fagundes de Toledo Junior, conhecido como Nelore Cyro, foi proibido pela Vara do Trabalho de Gurupi (TO), do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, de prometer ou conceder benefícios a seus funcionários em troca de votos ou em decorrência de resultados eleitorais. Decisão foi dada neste mês, após vídeo vazado que mostra o pecuarista prometendo salários extras a seus funcionários se Jair Bolsonaro (PL) for reeleito presidente nestas eleições.
A gravação mostra Nelore Cyro explicando para cerca de dez funcionários de sua fazenda em Araguaçu (TO) sobre supostas “metas” e salários extras. Os bônus aos resultados teriam início com um 14º salário, pago no meio do ano. Mas não para por aí. Na sequência, o pecuarista afirma que “se o Bolsonaro ganhar eu dou um 15º salário. Se ele ganhar no primeiro turno, eu dou um 16º salário. Eu quero gente que pense igual a mim e vista a camisa da fazenda”.
A gravação foi obtida inicialmente pela Folha de S. Paulo em agosto e serviu como indício para o Ministério Público do Trabalho, que instaurou um Procedimento Preparatório (PP) a fim de investigar os fatos denunciados. É evidenciado que há mais de uma versão da gravação, com segundos de duração diferentes, pois se trata de um vídeo com cortes.
De acordo com decisão de tutela de urgência tomada pelo juiz titular da vara, Denilson Bandeira Coelho, Cyro é considerado réu por assediar eleitoralmente seus empregados, querendo induzir e influenciar suas escolhas de candidato à Presidência da República no pleito eleitoral em curso.
“É fato que a cena filmada e parcialmente divulgada impõe a pronta intervenção estatal, pelo Judiciário Trabalhista, no âmbito exclusivo da relação de trabalho, pois pode demonstrar a influência do empregador na liberdade individual de seus empregados, na escolha de seus candidatos para o pleito eleitoral de 2022”, ressalta o juiz, no documento.
Foi determinado que, se o pecuarista Nelore Cyro descumprir a decisão que barra suas promessas de bonificações em favorecimento à reeleição de Jair Bolsonaro (PL) à Presidência, será aplicada multa de R$ 100 mil, além de outras medidas necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial.
O documento, firmado no último dia 22, determinou a intimação do réu por mandado, através de cartas enviadas com urgência a varas em Araraquara (TO) e São Paulo (SP). Ele tomará ciência da decisão e, após isso, terá 15 dias para apresentar uma defesa escrita. Além de Cyro, há outros dois réus no processo que não foram identificados.
Procurado pelo Terra, Nelore Cyro disse por meio de chamada telefônica à reportagem que ainda não foi intimado e que, por enquanto, prefere não se pronunciar. “Não sei sobre o que se trata”.
Questionado sobre a data de gravação do vídeo, Cyro afirmou que a situação ocorreu neste ano mas que “não está com essa bola toda” para recordar o mês específico.
Nas redes sociais que divulgam sua fazenda "Água Fria", em Araguaçu (TO), Cyro já fez publicações que mostram a bandeira do Brasil colocada na entrada do local e montagens de bois estampados com as cores verde e amarelo. Em posts de 2021, chegou a afirmar que "Brasil é agro" e que "agro é Bolsonaro".
Voto é secreto
À frente do caso, o juiz titular do trabalho Denilson Coelho reafirma a importância do voto secreto e que não é possível obter acesso à posição do eleitor na urna. Em meio a isso, ele complementa que não pode ser afirmando que os trabalhadores presentes na situação denunciada, em fazenda de Nelore Cyro, seriam realmente influenciados pelo empregador.
“A população brasileira, nos dias atuais e em todos os rincões do País, busca informações, sabendo muito bem distinguir e escolher. Não se pode presumir a ignorância da população e a subserviência política ou laboral. Não é esse o retrato da população brasileira trabalhadora”, acredita o juiz, otimista com a realidade política.