Sindicatos, coletivos e movimentos sociais de Cascavel, no Oeste do Paraná, emitiram uma nota conjunta nesta sexta-feira (30) repudiando as declarações preconceituosas do deputado estadual Paranhos (PSC), que disputa a prefeitura da cidade. Durante o debate da RPC TV, afiliada da Rede Globo no Estado, ontem, ele disse que defenderá “os valores da família”, entretanto, resumiu o conceito de família à união entre um homem e uma mulher. As falas rapidamente repercutiram nas redes sociais, gerando revolta. Usuários utilizaram as hashtags #ParanhosPreconceituoso e #Repúdio. No documento, as 19 entidades pedem que os eleitores não votem em “machistas, racistas e homofóbicos”.
"Eu sou contrário (ao casamento homoafetivo). É meu direito como cristão. Acho que Deus fez o conceito de família – homem e mulher. Aliás, diz isso na Bíblia e na Constituição. Então, eu respeito como cristão e como legislador. Esse é o formato de família. Homem casa com mulher. Não pode ser diferente. Esse é o meu conceito. Agora, eu respeito, desde que fique longe das crianças, desde que não aconteça isso no shopping. Eu não gosto dessas coisas”, disparou o parlamentar, na TV.
Paranhos respondia a uma pergunta de Aderbal de Mello (PT), sobre quais seriam suas propostas para a comunidade LGBT (formada por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). O petista chegou a mencionar frases do deputado federal Jair Bolsonaro, líder nacional do PSC, como “não te estupro porque você não merece”, proferida para a colega de Câmara Maria do Rosário (PT-RS). “Sabe, é necessário que a gente, na condição de um governo, seja municipal, estadual ou federal, possa resguardar os valores familiares, os valores que nunca podem ser abalados”, opinou o candidato cristão.
Na carta, as organizações lembram que, conforme dados do Grupo Gay da Bahia, apenas em 2014 foram registradas 326 mortes de LGBTs. "O Brasil segue como campeão de crimes LGBTfóbicos: cerca de 46% de todos os crimes no mundo foram cometidos em nosso país, prevalecendo o uso de armas de fogo, espancamento e esfaqueamento. Em outros termos, os crimes LGBTfóbicos são crimes de ódio, alimentados pelo discurso conservador". As instituições argumentam repudiar não apenas as falas de Paranhos, mas de todos aqueles que “querem tirar da mulher até mesmo o direito constitucional ao aborto em casos de estupro”. Neste trecho em específico, citam ainda Márcio Pacheco (PPL), também candidato e colega de Paranhos na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).
Membro da chamada bancada evangélica da Alep, o político do PSC ostenta a maior coligação, com 12 siglas, e é apontado como favorito para vencer as eleições no município paranaense. Além dele, de Aderbal e de Pacheco, estão na disputa o administrador Walter Parcianello (PMDB), que é irmão do deputado federal Hermes “Frangão” Parcianello; o professor Ivanildo da Silva (PSOL) e os empresários Hélio Laurindo (PP) e Marcos Vinícius (PSB). O último é apoiado pelo atual prefeito, Edgar Bueno (PDT), que não concorre à reeleição por estar no segundo mandato consecutivo.
Outro lado
Procurado hoje pela reportagem do Terra, o deputado Paranhos (PSC) enviou uma nota reafirmando que, como cristão, respeita “todas as pessoas, independente da cor, credo, raça ou orientação sexual, mas que, também como cristão, defende "os valores da família". "Eu acredito na família tradicional, a família criada por Deus e que está na Constituição. Mas jamais desrespeitei pessoas por sua orientação sexual. Sempre tratei a todas as pessoas com respeito e com carinho", justificou-se.
"Algumas pessoas pegaram uma frase que não pude concluir no debate e me acusam de homofóbico. Quem me conhece sabe que jamais em toda a minha vida tive qualquer manifestação de homofobia. Pelo contrário. No mesmo comentário, ontem, eu disse claramente que não concordava com a opinião do Bolsonaro. Mas essa parte parece que não interessa a algumas pessoas. Acho que todos merecem respeito. O próprio Jesus deu esse exemplo ao não fazer distinção de pessoas", prosseguiu.
Paranhos alegou que, como seu tempo acabou e o microfone foi cortado, não conseguiu completar a frase. "Não concordo que pessoas, homossexuais ou não, sejam obscenas em locais públicos, como um shopping, por exemplo. Mas isso vale tanto para homossexuais como heterossexuais e eu estava manifestando minha preocupação com as crianças. Além do mais, em nossa coligação, temos candidatos homossexuais, dos quais sou amigo de muitos anos e com os quais mantenho excelente relacionamento de amizade. Infelizmente a campanha tem sido assim, de acusações, distorções e muita mentira. Sou cristão e não sou homofóbico. Amo as pessoas, independente de cor, raça, credo ou orientação sexual".