Após a saída do ex-ministro Sérgio Moro, dirigentes do Podemos começaram a calcular na ponta do lápis quanto foi o valor investido na pré-candidatura do ex-ministro à Presidência da República. Integrantes da legenda estimam ter custeado mais de R$ 2 milhões em pesquisas eleitorais, eventos, salários e viagens de Moro, sua mulher, Rosângela, e o staff da confiança do ex-ministro.
Moro se filiou ao Podemos em 10 de novembro do ano passado e vinha tentando articular sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto, mas enfrentava dificuldades dentro e fora do partido. Nessa quinta-feira, 31, o ex-juiz deixou o Podemos e se filiou ao União Brasil, e anunciou sua desistência de se candidatar à Presidência, "neste momento". O ex-juiz também transferiu seu domicílio eleitoral do Paraná para São Paulo e pode concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados.
Segundo apurou o Estadão com base em dados já levantados pelo Podemos, somente com Moro o partido gastou R$ 660 mil. O evento de filiação do ex-juiz, em Brasília, custou R$ 210 mil. Outros R$ 88 mil foram pagos em salários - Moro ganhava R$ 22 mil mensais -, R$ 248 mil com seguranças, e R$ 110 mil somente com passagens aéreas e hospedagens para a pré-campanha à Presidência.
Neste último tópico, das hospedagens, estão incluídas as diárias no hotel Intercontinental, na região da Bela Vista, em São Paulo. Segundo afirmaram integrantes da pré-campanha, o hotel foi usado como o QG de Moro em São Paulo. Era onde o ex-juiz fazia reuniões com aliados e mantinha encontros às segundas-feiras para discutir com o Podemos, o marqueteiro Pablo Nobel, e seu coordenador, o advogado Luis Felipe Cunha, questões estratégicas da campanha.
Como mostrou o Estadão, Moro também passou noites solitárias quando esteve mais isolado em sua articulação política, e ainda era filiado ao Podemos. Foi também no local que o ex-juiz se reuniu na manhã da quinta-feira com lideranças da União Brasil, como os deputados federais Junior Bozzella, Abou Anni e Alexandre Leite, que sacramentou sua migração de partido. Na quinta, havia uma sala de vidro fechada com cortinas dentro do restaurante somente para a reunião que selou a filiação de Moro.
O Podemos ainda trabalha para chegar à cifra dos gastos com o staff de Moro, que fazem a conta ultrapassar os R$ 2 milhões, quando somados a outras faturas, como as pesquisas eleitorais para testar o candidato e as qualitativas, para descobrir o que o eleitor esperava do ex-juiz. Também estão inclusos os custos com o coordenador da campanha, Luis Felipe Cunha, segundo o levantamento.
A conta também iria aumentar se Moro permanecesse no partido, já que a legenda ia passaria a pagar, a partir do fim de abril, um salário de R$ 20 mil à mulher do ex-juiz. Rosângela Moro chegou a se filiar à legenda para disputar a Câmara Federal, mas também migrou para o União Brasil.
Ao Estadão, o ex-ministro afirmou, por meio de nota, que o "Fundo Partidário serve para o financiamento de atividades da legenda e seus filiados, seguindo a legislação em vigor, o que foi feito em relação às despesas de pré-campanha".