No poder há 30 anos, Alexander Lukashenko vence pleito visto como uma farsa pelo Ocidente. Autocrata diz não se importar que União Europeia e EUA não reconheçam vitória.O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, o que está há mais tempo no poder na Europa, foireeleito neste domingo (26/01) para um sétimo mandato com quase 87% dos votos, segundo a autoridade eleitoral do país.
Com a vitória, Lukashenko, que governa desde 1994, permanecerá no poder até 2030.
O voto contra todos os candidatos foi a segunda opção mais escolhida nas urnas, segundo pesquisas de boca de urna, com 5,1% dos votos. A oposição no exílio, que não reconhece Lukashenko como presidente legítimo, convocou seus apoiadores a marcar a opção "contra todos" na cédula eleitoral como a única forma possível de protesto pacífico.
apelando para a paz e a segurança com base nas armas nucleares instaladas pela Rússia na fronteira com a Otan.
Com políticos da oposição exilados ou presos, e os quatro candidatos alternativos vistos como figurantes num pleito fraudado, era dado como certo que Lukashenko, de 70 anos, receberia outra
vitória depois de já ter desfrutado de 30 anos no poder.
"Não dançaremos ao som de outra música. Não baixaremos a cabeça (...) Não permitiremos que as botas do invasor pisem em nossa pátria. Podem ter certeza absoluta!", afirmou ele num comício neste sábado.
No poder desde 1994, ele usou a campanha para prometer a seus compatriotas que nunca enviará seus homens para lutar na Ucrânia, apesar de ter liberado ataques da Rússia a partir do território bielorrusso contra o país vizinho.
O presidente russo, Vladimir Putin, parabenizou Lukashenko pela sua "vitória convincente" nas urnas. O autocrata belarusso é um dos grandes aliados internacionaisdo Kremlin, que via a eleição no país vizinho como vital para a estabilidade no espaço pós-soviético.
Sétimo mandato
Embora nas últimas semanas Lukashenko tenha falado sobre a necessidade de uma mudança geracional - especula-se que ele queira que seu filho Kolia o suceda -, o autocrata decidiu se candidatar à reeleição pela sétima vez.
"Manteremos as coisas mais importantes: a ditadura da ordem, da justiça, da bondade e do respeito pelo homem, especialmente pelo trabalho do homem", declarou ele na sexta-feira em Minsk, capital do país.
Ninguém duvidava, dentro e fora de Belarus, que ele seria reeleito com uma vitória esmagadora. Muitos belarussos - ente 2 milhões e 3 milhões dos quais votaram antecipadamente - concordam numa coisa: sem Lukashenko, o país já teria sido engolido pela Rússia.
"Tanto faz"
Ao votar numa escola em Minsk, Lukashenko disse a jornalistas que não se importa que os países ocidentais não reconheçam as eleições presidenciais belarussas.
"Se as reconhecem ou não, é uma questão de gosto. Para mim, tanto faz. O importante é que as eleições sejam reconhecidas pelos belarussos", afirmou.
Quanto às relações com o Ocidente, Lukashenko disse que Belarus "nunca" se recusou a tê-las.
"Estamos sempre prontos, mas vocês [ocidentais] não querem. Então, o que devemos fazer, abaixar a cabeça ou rastejar?", perguntou.
Ele acrescentou que Belarus está pronta para um diálogo com a União Europeia, "mesmo com aqueles que seguiram uma política agressiva" contra o país.
A alta representante da UE para Assuntos Externos, Kaja Kallas, disse no sábado que a proclamação de Alexander Lukashenko como presidente de Belarus após as eleições de domingo seria uma "afronta flagrante à democracia" e que ele não tem "nenhuma legitimidade".
"Lukashenko se agarra ao poder por 30 anos. Amanhã ele se proclamará novamente em outra farsa eleitoral. Isso é uma afronta flagrante à democracia. Lukashenko não tem legitimidade alguma", escreveu a chefe da diplomacia europeia em redes sociais.
"Candidatos da KGB"
A "farsa" eleitoral, como é definida pela oposição no exílio, pela União Europeia e pelos Estados Unidos, tem outros quatro participantes, sendo que três são simpáticos a Lukashenko, e a quarta, Anna Kanopatskaya, é crítica da gestão do presidente.
"Não importa. Todos eles são candidatos da KGB. Eles sequer têm as assinaturas necessárias (para viabilizar uma candidatura)", disse Pavel Latushko, chefe do governo belarusso no exílio, em entrevista à agência de notícias Efe.
A oposição se conforma em pedir votos contra todos os candidatos, uma opção prevista pela legislação eleitoral, e não se espera uma repetição dos grandes protestos de cinco anos atrás.
Para isso, as autoridades proibiram fotos das cédulas e a postagem de imagens em redes sociais, o que havia provocado os protestos massivos contra fraudes em agosto de 2020 que quase derrubaram Lukashenko.
"Era uma vacina muito importante que precisávamos. Nós a recebemos, e nossos inimigos devem entender: jamais repetiremos o que aconteceu em 2020", disse Lukashenko, que lembrou que os belarussos "são herdeiros do vitorioso povo soviético".
Medo
O medo é sentido nas seções eleitorais e nas ruas de Minsk, onde poucas pessoas querem falar sobre política, ou seja, sobre as eleições e a guerra na Ucrânia.
"Talvez seja por causa do que aconteceu há cinco anos? O medo de represálias", comentou Sasha, um homem de cerca de 30 anos.
Centenas de milhares de belarussos que foram para o exílio há cinco anos não poderão votar, pois as autoridades não instalaram seções eleitorais no exterior.
Observadores ocidentais da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) não foram convidados, deixando a avaliação da transparência da votação para deputados amigos, como os russos.
Após a última eleição presidencial em 2020, a comissão eleitoral concedeu a Lukashenko 80,1% dos votos, com uma participação de 84,4%. Isso desencadeou protestos pró-democracia em todo o país, que Lukashenko reprimiu violentamente com a ajuda da Rússia.
Durante a repressão brutal que se seguiu à votação, mais de 35 mil pessoas foram presas, milhares foram espancadas sob custódia policial e centenas de meios de comunicação independentes foram fechados.
As Nações Unidas estimam que 300 mil pessoas deixaram Belarus desde então. Ativistas de direitos humanos dizem que há mais de 1.200 prisioneiros políticos no país, que é o último da Europa a ainda usar a pena de morte.
Partes da oposição política no exílio pediram que os belarussos boicotem a eleição completamente, enquanto outros campos dizem que as pessoas devem selecionar a opção "contra todos" na cédula de votação.
md/gq/as (Efe, DPA)