Propina na mochila e viagem para Disney: delator revela esquema de Cláudio Castro

Marcus Vinícius Azevedo da Silva detalhou recebimento de propina nas gestões de Castro como vereador e vice-governador

16 set 2022 - 10h23
(atualizado às 15h48)
Cláudio Castro
Cláudio Castro
Foto: Claudia Martini / Futura Press

O delator Marcus Vinícius Azevedo da Silva detalhou o esquema de recebimento de propina envolvendo o governador do Rio de Janeiro e candidato à reeleição, Cláudio Castro, durante suas atuações como vereador e também como vice-governador durante a gestão de Wilson Witzel, revela reportagem do Uol nesta sexta-feira, 16.

Marcus Vinícius relatou o esquema envolvendo o empresário Flávio Chadud. Entre as revelações estão pagamento de propina para uma viagem à Disney e a corroboração da suspeita de dinheiro transportado por Castro em uma mochila. O depoimento do delator foi colhido em julho deste ano pelo Ministério Público do Rio no âmbito da Operação Catarata, que investiga fraudes em projetos sociais no Rio de Janeiro.

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Defesa de Castro

A assessoria de imprensa de Cláudio Castro disse ao Uol que não irá comentar processos em segredo de Justiça e chamou o vazamento de informações de "criminoso".

"Não comento ações que estão em segredo de Justiça. O vazamento desse conteúdo é criminoso e visa única e exclusivamente interferir no processo eleitoral. Infelizmente no Rio de Janeiro há uma indústria de delações feitas por criminosos que querem se livrar da cadeia e acusam autoridades de forma leviana".

Vereador

Segundo Marcus Vinícius, como vereador, Cláudio Castro atuou junto a Marcelo Crivella (Republicanos), então prefeito do Rio, para incorporar contratos da ONG de Marcus Vinícius e de uma empresa de Chadud à Subsecretaria de Pessoa com Deficiência (SUBPD), que era comandada por integrantes do esquema.

Da esquerda para a direita, o ex-deputado Márcio Pacheco; Cláudio Castro, vereador à época; o ex-prefeito Marcelo Crivella; Geraldo Nogueira, ex-subsecretário de Pessoa com Deficiência, e o ex-deputado federal Otávio Leite
Foto: Prefeitura do Rio

Em troca, Castro votou a favor do aumento de IPTU na cidade do Rio, um projeto de Crivella que enfrentava resistências na Câmara Municipal.

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Com os contratos com a SUBPD, Castro ganhou - além de propina - capital político. Em 2018, ele foi eleito vice-governador de Witzel.

Vice-governadoria

De acordo com o delator, o esquema não só seguiu quando Castro assumiu a vice-governadoria do Rio, como já estava bem implementado. Desde 2015, o delator e Flávio Chadud se beneficiavam de um esquema que envolvia contratos de projetos sociais da empresa Novo Olhar (de Chadud) com a Fundação Leão 13.

Na gestão de Witzel, porém, a Leão 13 ficou sob a alçada de Fabiana Bentes, então secretária de Desenvolvimento Social, que não fazia parte do esquema. Sem conseguir tirá-la da fundação, Marcus Vinícius sugeriu um decreto para passar a Leão 13 à vice-governadoria, ou seja, para as mãos de Castro.

Em 9 de janeiro de 2019, Witzel publicou o decreto e a Fundação Leão 13 ficou sob o comando do vice-governador.

Viagem à Disney

Em um dos pagamentos de propina, o delator explicou que uma das remessas foi enviada na quantia de US$ 20 mil para bancar uma viagem de Cláudio Castro com a família para a Disney, em Orlando (EUA), entre os anos de 2018 ou 2019, afirmou o delator sem saber direito da data. Em 2018, porém, a mulher de Castro, Analine Castro, publicou fotos em suas redes sociais em que aparece nos parques da Disney.

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"O Cláudio foi fazer uma viagem com a família para Orlando. Levou ele, a atual primeira-dama, os filhos, levou o irmão dele, a cunhada, foi uma galera. Parte dos recursos que pagaram a viagem do Cláudio e da família lá em Orlando saiu dos cofres, da contabilidade do 'Novo Olhar', e foi direto para Orlando. Quando ele chegou lá, o dólar estava lá. Não precisou sacar aqui. A gente tinha como mandar recurso através de doleiro para o exterior, foi direto. Chegou lá, a pessoa só chegou e entregou para ele. Na época, acho que foi o equivalente a US$ 20 mil, se não me engano. Eu dei uma parte, Flávio [Chadud] deu outra", explicou o delator.

Propina na mochila

Marcus Vinícius também confirmou às autoridades a suspeita de esquema de proprina revelada pela GloboNews. Castro foi flagrado em imagens na sede da empresa de Chadud carregando uma mochila que, segundo Bruno Selem, ex-funcionário de Chadud, continha R$ 100 mil em propina.

Cláudio Castro carrega mochila com suposta propina dentro
Foto: Reprodução

"Aquela gravação que depois passou na mídia, em relação à mochila, que ele [Castro] foi na manhã da véspera da operação [Catarata], aquilo ali foi para ele receber o recurso que foi destinado, que foi pago, dias antes foi liberado pelo estado. Ele foi receber a parte dele lá no escritório, R$ 120 mil, uma parte dos recursos que haviam sido liberados atrasados. [...] Aquela imagem foi exatamente o Cláudio na véspera indo lá para poder pegar o recurso. Tanto que no dia da operação ainda tinha uns R$ 300 mil dentro do cofre porque o Bruno [ex-funcionário] e o Flávio ainda iam distribuir para mais agentes", afirmou.

Quem é o delator

Marcus Vinícius se aproximou de Cláudio Castro em 2015. Na época, ele assumiu a coordenação da campanha de Castro para vereador. Ele foi seu assessor na Câmara Municipal do Rio entre abril e agosto de 2017. Dono de uma das empresas investigadas na Operação Catarata, Marcus foi preso em 2019, mas hoje responde em liberdade.

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O delator disse ainda que apresentou Castro para Flávio Chadud, e que o empresário deu dinheiro para a campanha. "Quando eu trouxe um candidato em potencial a ser eleito vereador, o Flávio [Chadud] não perdeu a oportunidade. Ele tem um olhar como poucos. [...] Ele até ajudou, deu uns R$ 50 mil para me ajudar a pagar umas despesas de campanha do Cláudio", revelou.

Datafolha

De acordo com o último levantamento realizado pelo Datafolha e divulgado nessa quinta-feira, 15, Cláudio Castro está tecnicamente empatado com Marcelo Freixo (PSB) na corrida pelo governo do Rio.

Segundo a sondagem, Castro tem 31% e Freixo, 27%. Na pesquisa anterior, Castro tinha os mesmos 31%, e Freixo, 26%. A margem de erro é de três pontos para mais ou para menos.

Também no segundo turno, Castro e Freixo estão tecnicamente empatados, mas com diferença cinco pontos. O governador que concorre à reeleição pelo PL tem 43%, e o postulante do PSB, 41%. Na pesquisa anterior, o governador tinha 44%, e Freixo, 37%.

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A pesquisa, encomendada pelo jornal Folha de S. Paulo e pela TV Globo, ouviu 1.202 eleitores de 34 municípios fluminenses, no período de 13 a 15 de setembro. O nível de confiança é de 95%, e a pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob número RJ-00509/2022.

Debate

Os candidatos ao governo do estado do Rio de Janeiro participarão neste sábado, 17, de debate com transmissão no Terra, em parceria com SBTNova Brasil e Veja. Com a mediação da jornalista Isabele Benito, o evento será dividido em quatro blocos e acontecerá das 18h30 às 20h30.

Para assistir, basta acessar o Terra. O debate também poderá ser acompanhado pela TV aberta, no SBT, bem como nos sites dos demais promotores.  

Fonte: Redação Terra
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