O presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, negou nesta segunda-feira que a candidatura de Marina Silva à Presidência tenha cunho religioso e afirmou que a retirada de pontos do programa de governo ligados aos direitos das Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis (LGBT) foi decisão da própria candidata, e não motivada por pressão de pastores evangélicos.
A posição foi externada antes do debate entre os presidenciáveis que acontece nesta segunda-feira no SBT, em Osasco (Grande São Paulo), em parceria com o portal UOL, o jornal Folha de S.Paulo e a rádio Jovem Pan.
No último sábado, a equipe de campanha da ex-senadora anunciou uma “errata” que retirava do plano de governo bandeiras defendidas pela comunidade LGBT, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo. No dia do lançamento do programa de governo, o pastor Silas Malafaia criticou as propostas para o setor e avaliou o programa de governo do partido de Marina como “pior que os do PT e do PSDB, no que tange aos direitos dos gays". Após as alterações, o pastor disse que o programa "melhorou muito".
“Essa é uma questão legislativa, e as questões legislativas não deveriam ter sido tocadas (em um programa de governo do Executivo)”, afirmou Amaral. “Depois da leitura fizemos uma revisão e alguém esqueceu ou não publicou direito uma emenda dela”, disse. A emenda em questão, com a retirada dos pontos LGBT, explicou o dirigente, não ocorreu mediante pressão de evangélicos –Marina é declaradamente evangélica.
“Ela mesma tinha modificado, não tinha nenhuma pressão dos evangélicos. Partiu da própria Marina a mudança” afirmou o presidente do PSB.
Indagado se o PSB se sente incomodado com o faturamento eleitoral de pastores a partir do recuo de Marina na questão LGBT, Amaral declarou: “eu preferia que isso não tivesse ocorrido e que não houvesse essa pressão religiosa na campanha. Vamos cuidar do Estado laico, e as questões de Estado dizem respeito a uma república. E somos uma república, não somos um Irã”, afirmou, para completar: “preferia que as questões religiosas não fossem envolvidas nas questões políticas, nem que houvesse candidaturas religiosas”.
Se há candidaturas de viés religioso? “Claro que há. A da Marina claro que não (é), estou me referindo ao pastor, que usa a religião até no nome (de candidato). Eu não o vejo, eu não tenho tempo de ouvir o Malafaia. Estou com tanto livro para ler...”, desconversou.
PSB aceita apoio “até do Aécio”
Sobre o debate de hoje, o presidente nacional do PSB afirmou que a expectativa é que Marina seja o principal alvo dos adversários – uma vez que ela foi a grande surpresa do primeiro turno, ao encostar na líder das pesquisas de intenção de votos, a presidente Dilma Rousseff (PT).
“Ela (Marina) tem consciência de que agora ela é vidraça”, resumiu Amaral, para quem o apoio da ala evangélica que agora apoia o pastor Everaldo (PSC) será bem vindo em um eventual segundo turno.
“Aceito apoio de quem quiser, até do Aécio. Quero que ele nos apoie, e quem vota nele vote na Marina”, concluiu.
Nanicos criticam Marina
Os candidatos à Presidência do PV e do PSOL, partidos que defendem a causa LGBT, criticaram as mudanças no programa de governo de Marina.
“Não me surpreendeu em nada. A Marina já é conhecida por defender dogmas religiosos. E a nossa posição é justamente o oposto dessa, no sentido de garantir a laicidade do Estado”, disse Luciana Genro (PSOL) antes do início do debate.
Já o candidato Eduardo Jorge (PV) disse que chegou a ficar “feliz” com o “avanço do PSB e dela (de Marina)”. “Mas durou pouco. Vinte e quatro horas depois, o pastor ameaçou fazer uma guerra santa, e eles recuaram”, afirmou. Luciana Genro e Eduardo Jorge foram os únicos candidatos que conversaram com a imprensa na chegada ao SBT.