Qual será o futuro de Boulos após nova derrota do psolista na disputa pela Prefeitura de São Paulo

Especialistas ouvidos pelo 'Estadão' avaliam que, apesar do novo revés nas urnas, psolista mantém parte de seu capital político para 2026

27 out 2024 - 18h59
(atualizado às 19h23)
Guilherme Boulos vota com a Marta Suplicy no CEU Campo Limpo
Guilherme Boulos vota com a Marta Suplicy no CEU Campo Limpo
Foto: Felipe Rau/Estadão / Estadão

Pela segunda vez consecutiva, Guilherme Boulos (PSOL) foi derrotado na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Em 2020, sua primeira derrota foi vista como uma vitória política: o candidato, considerado azarão, surpreendeu ao chegar no segundo turno. Neste ano, no entanto, o cenário foi diferente. Com apoio do PT e do presidente Lula, Boulos era a principal aposta da esquerda, tornando o revés ainda mais amargo para o ex-líder dos sem-teto.

Especialistas ouvidos pelo Estadão avaliam que, apesar do novo fracasso nas urnas, o psolista mantém parte de seu capital político para 2026, sustentado pela visibilidade obtida no maior colégio eleitoral do País e pela carência de lideranças na esquerda. Para isso, será necessário um ajuste estratégico, a fim de corrigir possíveis erros que contribuíram para um desempenho eleitoral abaixo do esperado.

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Com 91,83% das urnas apuradas, Boulos obteve 40,44% dos votos válidos, contra 59,55% do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que venceu sua primeira eleição como cabeça de chapa. Nunes foi eleito vice-prefeito em 2020 na chapa liderada por Bruno Covas (PSDB) e assumiu a prefeitura após a morte do tucano em 2021. Na eleição passada, Boulos teve 40,62% dos votos, enquanto Covas alcançou 59,38%. Assim, o resultado atual representa estabilidade para Boulos em comparação com o último pleito.

As expectativas em torno de Boulos eram elevadas. Pela primeira vez desde sua fundação, o PT optou por não lançar um candidato próprio à Prefeitura, indicando Marta Suplicy como vice de Boulos. A indicação de Marta foi articulada pelo presidente Lula, em uma operação que envolveu sua saída da gestão de Ricardo Nunes e seu retorno ao PT.

Com a derrota, o futuro político de Marta se torna ainda mais incerto do que o de Boulos. Isso se deve ao fato de ela ter deixado o time vencedor para retornar a um partido com o qual rompeu de maneira dramática em 2015, apoiando o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) no ano seguinte. Além disso, uma ala do partido ainda não superou esse rompimento, opondo-se à presença de Marta e chegando a entrar com um processo para impugnar sua filiação. Embora esse processo tenha sido rejeitado pela Executiva Nacional da sigla, as tensões permanecem no PT.

Boulos precisará ajustar discurso para 2026

Guilherme Boulos vota ao lado de Marta Suplicy no CEU Campo Limpo..
Foto: Felipe Rau/Estadão / Estadão

Para 2026, quando estarão em disputa cargos como presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais, Boulos precisará ajustar seu discurso para alcançar eleitores fora de seu círculo tradicional, conforme explica Vinicius Alves, diretor do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) Analítica e professor de Ciência Política do IDP.

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"Mesmo com o revés, Boulos ainda é uma força relevante na esquerda, impulsionado pela escassez de alternativas de liderança e pela visibilidade estratégica conquistada em São Paulo. É difícil ele ser descartado, seja pelo PSOL, seja por qualquer outro partido da esquerda", afirma Alves.

O cientista político explica que Boulos enfrentará desafios específicos dependendo do cargo almejado. Caso decida concorrer ao governo de São Paulo - ainda que improvável -, o psolista precisará expandir sua base, hoje concentrada na capital e em setores progressistas, para também atrair o eleitorado do interior, onde a preferência tende a favorecer candidatos de centro-direita. Em uma candidatura ao Senado, Boulos poderia aproveitar sua visibilidade na capital para ganhar maior penetração no Estado, embora precisasse calibrar o discurso para engajar uma base mais ampla.

O cenário mais provável, no entanto, é a reeleição de Boulos como deputado federal, o que lhe permitiria continuar acumulando capital político e fortalecendo sua atuação para futuras disputas. Nos bastidores, há uma avaliação de que um cargo no governo Lula poderia ajudá-lo a se fortalecer politicamente, permitindo que o parlamentar ganhasse experiência na administração pública e apresentasse resultados em uma nova área, desvinculada de seu passado no movimento social. Dessa forma, Boulos poderia moldar uma nova imagem perante o eleitorado. Contudo, um interlocutor do psolista afirma que essa é apenas uma avaliação e que não há nada concreto nesse sentido.

Alves acrescenta que a campanha de Boulos deve fazer uma avaliação "a portas fechadas" do desempenho da chapa, que contou com um dos maiores financiamentos partidários entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo e de outras capitais. Apenas o PSOL destinou R$ 36 milhões à campanha, enquanto o PT contribuiu com mais R$ 45 milhões ao aliado, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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Na mesma linha, o cientista político Antonio Lavareda destaca entre os erros da campanha a demora em estabelecer uma comunicação eficaz com o eleitorado da periferia, o que prejudicou a conexão com segmentos fundamentais para a esquerda, além da dificuldade em expandir a base eleitoral além dos setores progressistas da capital, limitando o alcance junto a eleitores mais moderados - essenciais para fortalecer a candidatura em áreas tradicionalmente inclinadas ao centro-direita. Lavareda também menciona a participação de Marta, que esteve abaixo das expectativas na campanha.

Embora a articulação entre PSOL e PT tenha sido bem-sucedida, a parceria entre Boulos e Marta não deslanchou como esperado: Marta mostrou pouca disposição para participar de agendas de rua e reuniões, recusando convites para debates e entrevistas e limitando-se a aparições pontuais e gravações para a TV.

Candidatura em 2020 à prefeitura: menos recurso e apoio

Diferente desta candidatura, em 2020, Boulos disputou a Prefeitura de São Paulo ao lado de sua vice, Luiza Erundina, também do PSOL com uma campanha de menor orçamento, totalizando R$ 7.370.567,04, e apoiado por uma coligação sem grandes partidos - formada apenas pelos pequenos PCB e UP.

Ainda assim, a chapa "puro-sangue" obteve cerca de 1,1 milhão de votos e terminou em segundo lugar. Na ocasião, a candidatura psolista alcançou o melhor resultado do partido desde que a silgla começou a disputar eleições majoritárias em São Paulo, superando a candidatura de centro-esquerda de Márcio França, do PSB, enquanto o candidato do PT, Jilmar Tatto, amargou pouco mais de 8% dos votos.

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