Queixas, insultos e inconformismo com derrota; como foram as 45 horas de silêncio de Bolsonaro

Presidente reclamou da atuação do STF e do TSE e resistiu a admitir a derrota

1 nov 2022 - 19h06
(atualizado às 20h01)
Bolsonaro fala pela 1ª vez após derrota para Lula
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As quase 45 horas do silêncio de Jair Bolsonaro (PL) foram marcadas por queixas, xingamentos e inconformismo por parte do presidente e também por muitas negociações de bastidores. Até mesmo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) aderiram ao movimento de autoridades que tentaram convencer Bolsonaro a reconhecer logo a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A articulação foi deflagrada por ministros do próprio governo e também por militares, sob o argumento de que era preciso agir rápido para conter os manifestantes que bloquearam estradas de todo o País e evitar o agravamento da crise. Não adiantou.

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O pronunciamento de Bolsonaro foi marcado para às 15 horas desta terça-feira, 1, mas começou com uma hora e 36 minutos de atraso. Inconformado com a derrota e alegando perseguição do Judiciário para favorecer Lula, Bolsonaro se recusou várias vezes a desestimular as manifestações.

Num discurso de 2 minutos e 21 segundos, o presidente falou que as manifestações são "fruto de indignação e sentimento de injustiça". Aos interlocutores com quem conversou antes, ele disse que era vítima de "perseguição" por parte do Supremo e do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.

O magistrado enquadrou a Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao ameaçar quem não desbloqueasse as estradas com multa diária de R$ 100 mil, além da prisão do diretor-geral da instituição, Silvinei Vasques, caso a ordem não fosse cumprida. Bolsonaro chegou a falar em fraude para beneficiar o PT, sem apresentar qualquer indício de irregularidade, e mais uma vez chamou Moraes de "canalha", de acordo com relatos de três interlocutores.

Jair Bolsonaro faz primeiro pronunciamento após derrota para Lula
Jair Bolsonaro faz primeiro pronunciamento após derrota para Lula
Foto: Adriano Machado / Reuters

Na avaliação de Bolsonaro, as decisões do Supremo que obrigaram o transporte gratuito de eleitores no dia do segundo turno, além das ordens para apagar conteúdos de seus seguidores na campanha, foram decisivas para sua derrota. O deputado eleito Alberto Fraga (PL-DF) foi um dos amigos que estiveram com Bolsonaro nesse período. Fraga disse que ele pode se candidatar novamente ao Palácio do Planalto, em 2026. "Político sem mandato é abelha sem ferrão", comparou.

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Bolsonaro também fez chegar ao Supremo que o Brasil poderia viver um inferno se o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) enviasse militantes para retirar barricadas e desbloquear estradas ocupadas por caminhoneiros. O presidente chegou a convidar ministros do Supremo para uma reunião no Alvorada. A presidente da Corte, Rosa Weber, e os ministros Gilmar Mendes e Luiz Fux mostraram disposição para o diálogo. Decidiram, porém, só atender ao convite depois que Bolsonaro reconhecesse a derrota para Lula. Após o pronunciamento, o presidente foi pessoalmente ao STF.

O presidente Jair Bolsonaro se dirigindo para fazer o pronunciamento no Alvorada
Foto: Wilton Junior / Estadão / Estadão

Enquanto Bolsonaro estava em silêncio seus aliados mantiveram conversas com a chapa eleita. Na segunda-feira, 31, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, telefonou para o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, para iniciar as tratativas sobre a transição de governo. Nogueira se colocou à disposição, mas destacou que ainda não sabia quem seria o indicado por Bolsonaro para trabalhar na transição. Pela lei, cabe ao ministro da Casa Civil conduzir o processo.

O vice-presidente Hamilton Mourão mandou uma mensagem para o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), para parabenizá-lo pela vitória. Alckmin telefonou para Mourão em seguida e agradeceu. Mourão se antecipou a Bolsonaro e instruiu servidores da Vice-Presidência a facilitar o trabalho de transição, tornando disponíveis todas as informações para a equipe de Lula.

Força tarefa

A mobilização para convencer Bolsonaro começou na noite de domingo, depois que o TSE confirmou sua derrota. Na segunda-feira, 31, pela manhã, o presidente se reuniu com Mourão e à tarde com o ministro da Defesa, general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira.

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Bolsonaro rascunhou na segunda-feira, 31, um discurso com base em sugestões de ministros. O presidente indicou, ainda naquele dia, que não aguardaria o parecer formal das Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas, como havia dito antes.

O Ministério da Defesa prometeu que o relatório conclusivo da fiscalização do sistema eletrônico de votação deverá ser enviado ao TSE em até 30 dias após encerradas todas as etapas do plano de trabalho, o que pode se estender até janeiro ou fevereiro de 2023.

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