Quem são os candidatos à vice-presidência?

A Alma Preta Jornalismo fez um levantamento da biografia dos candidatos à vice-presidência, Geraldo Alckmin e Braga Netto, e seus posicionamentos políticos em relação à população negra

27 out 2022 - 15h10
(atualizado às 18h51)
Fotos lado a lado mostram os candidatos à vice-presidência General Braga Netto (à esquerda) e Geraldo Alckmin (à direita)
Fotos lado a lado mostram os candidatos à vice-presidência General Braga Netto (à esquerda) e Geraldo Alckmin (à direita)
Foto: Imagem: montagem com fotos de Agência Brasil e News Free / Alma Preta

No próximo domingo (30), os brasileiros irão decidir quem irá governar o país pelos próximos quatro anos, cargo disputado em segundo turno pelos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

Além do presidente, um vice também será eleito, já que ambos tomam posse de forma simultânea. Para o segundo turno, o general Braga Netto e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin representam a chapa de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), respectivamente.

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Considerado o segundo posto político mais relevante do país, o vice-presidente tem como atribuições a substituição do presidente em ocasiões específicas, em caso de viagens ou doença, por exemplo, ou em situações que deixem o cargo vago. Além disso, o vice também tem como papel a assinatura de projetos e políticas públicas, em caso de ausência do chefe do Executivo Federal.

Por isso, a Alma Preta Jornalismo fez um levantamento da biografia dos candidatos à vice-presidência, Geraldo Alckmin e Braga Netto, e os posicionamentos políticos de ambos que impactam a população negra.

Geraldo Alckmin (PSB)

O ex-tucano e candidato a vice-presidência na chapa de Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSB), tem uma extensa trajetória política: foi vereador e prefeito de Pindamonhangaba, sua cidade natal no interior de São Paulo, deputado estadual, federal, vice-governador e um dos fundadores do PSDB, partido que integrou por mais de 30 anos.

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Após assumir o governo de São Paulo, em 2001, após a morte do então governador Mário Covas, a gestão foi marcada por ações repressivas da segurança pública em seus quatro mandatos.

Em 2002, assim que assumiu o cargo de forma oficial, o governo de Alckmin articulou uma operação policial que ficou conhecida como "Massacre de Castelinho", que resultou na morte de 12 supostos integrantes da facção PCC.

À época, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) considerou que a ação dos policiais do Grupo de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância (Gradi), junto com detentos recrutados para se infiltrar em organizações criminosas, teriam articulado uma emboscada para executar os suspeitos.

Além disso, a versão da Polícia Militar foi de que teria ocorrido uma troca de tiros e que os agentes agiram em legítima defesa. No entanto, apenas um dos cem policiais envolvidos ficou ferido, com lesões leves. Uma das testemunhas ouvidas pelo MP-SP também relatou que os suspeitos teriam descido dos veículos rendidos, sem atirar, e que o tiroteio teria começado minutos depois.

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Alckmin chegou a elogiar a atuação do, na época, secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho. Desde que assumiu o governo de São Paulo, uma das frases mais emblemáticas de Alckmin era: "Em São Paulo, bandido tem dois destinos: prisão ou caixão".

Uma outra operação marcada pelo governo de Geraldo Alckmin foi o episódio que ficou conhecido como "Crimes de Maio", em 2006, que resultou na morte de quase 500 pessoas no período de 12 a 21 de maio, em São Paulo. Segundo informações do Ministério Público, a maioria das vítimas do massacre foram jovens, negros e moradores da periferia.

As mortes foram uma espécie de "vingança" da Segurança Pública contra os ataques do PCC, que mataram mais de 50 agentes públicos de segurança. Os ataques do PCC teriam iniciado após uma série de sequestros e extorsões contra parentes de presos da facção, cometidos por policiais.

Conforme levantamento da Ponte, os Crimes de Maio deixaram mais vítimas do que as 434 pessoas mortas e desaparecidas deixadas pela ditadura militar ao longo de 21 anos. Mais de quatro vezes o massacre do Carandiru, que tirou a vida de 111 detentos em 1992. Mais de 20 vezes os 23 assassinados na chacina de Osasco, a maior da história de São Paulo, ocorrida em 2015. E foram 18 vezes maior do que a chacina do Jacarezinho, em 2021, considerada a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, com 18 mortes.

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No mesmo ano, Alckmin chegou a concorrer à presidência com o atual candidato Lula, no entanto, perdeu a eleição no segundo turno, com 41% dos votos. Em 2018, Alckmin se candidatou novamente, mas foi derrotado no primeiro turno, em quarto lugar.

Durante a gestão de Alckmin, entre 2011 e 2018, a letalidade policial aumentou 96% em São Paulo, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-SP).

General Braga Netto (PL)

Conhecido como GBN entre a ala bolsonarista, o General Walter Braga Netto (PL) é militar da reserva e foi ex-ministro da Defesa e da Casa Civil na gestão do atual presidente Jair Bolsonaro.

Natural de Belo Horizonte, Braga Netto possui uma trajetória pessoal e política que se inicia dentro da área militar. Em 1975, entrou para a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), escola de formação de oficiais do Exército, no Rio de Janeiro, e se formou em 1978 na arma de Cavalaria e tornou-se aspirante a oficial.

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Nos anos de 1997 a 1999, foi assessor da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República durante a implantação do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam/Sivam) no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e chegou a atuar como secretário de segurança presidencial e de chefe da Casa Militar da Presidência da República, no governo de Dilma Rousseff (PT), em 2013.

Em 2018, Braga Netto foi nomeado interventor federal na área de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, durante a gestão de Michel Temer (MDB). Durante os dez meses em que Braga Netto esteve à frente da segurança pública do Rio, o estado registrou redução dos roubos, no entanto, houve um aumento das mortes provocadas pela polícia, especialmente nas regiões periféricas.

Na época, Braga Netto chegou a dizer que houve aumento do "número de pessoas mortas em confronto com a polícia" porque criminosos reagiam às operações policiais, em vez de se entregar.

Conhecido por ser alinhado com as pautas bolsonaristas e ser "obediente" ao presidente, Braga Netto também já deu declarações polêmicas. Em março deste ano, à frente do Ministério da Defesa, o general  chegou a assinar uma Ordem do Dia em que classificou o golpe militar como um "marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época".

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O texto, publicado no dia 31 de março deste ano, em alusão ao Golpe Militar, também cita que "nos anos seguintes ao dia 31 de março de 1964, a sociedade brasileira conduziu um período de estabilização, de segurança, de crescimento econômico e de amadurecimento político".

Vale ressaltar que durante os 21 anos da Ditadura Militar, mais de 400 pessoas morreram ou desapareceram no Brasil. Ainda hoje, familiares ainda não conseguiram localizar os entes desaparecidos.

Uma reportagem do jornal "O Globo" revelou uma série de denúncias envolvendo a gestão de Braga Netto à frente do Ministério da Defesa, em 2021. Segundo a reportagem, a pasta aprovou um pacote secreto no valor de R$588 milhões. Desse total, R$ 401 milhões foram destinados a 11 senadores, a maior parte ligada ao governo, e cada um definiu onde o dinheiro seria gasto. Na maior parte das vezes, em seus redutos eleitorais, e sem relação com a área militar.

Em 2020, uma reportagem do jornal "Estadão" revelou que Braga Netto recebeu uma quantia de R$926 mil em um período de dois meses, valor acima do salário bruto mensal de R$31 mil na reserva do Exército. Os valores foram repassados durante o auge da pandemia da covid-19 no Brasil, no início daquele ano.

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Neste ano, interlocutores apontaram que o general chegou a ameaçar o processo eleitoral caso o voto impresso não fosse realizado. Ao ser convocado pelo então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, Braga Netto desmentiu a declaração, mas defendeu a discussão do voto impresso.

"Acredito que todo cidadão deseja maior transparência e legitimidade no processo de escolha dos seus representantes no Legislativo e Executivo em todas as instâncias", disse o ministro em nota.

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