O debate da TV Globo, na noite desta quinta-feira, entre os candidatos Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB) foi cercado de momentos misteriosos e fatos estranhos. Coisas do terreno do inexplicável mesmo. Contrariando a aura de quase terror que cerca o tradicional último debate antes da votação, não veio nenhuma bomba “destruidora” de candidaturas. Mas coisas estranhas se passaram.
No acesso ao portão de entrada do Projac, na longínqua Estrada dos Bandeirantes, estavam duas drag queens – ou seriam crossdressing? Ao lado delas, um rapaz enfiado numa surrada roupa de Homem-Aranha. Os três, pasme, seguravam bandeiras de Marcelo Crivella. Ele mesmo, o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), o sobrinho do Edir Macedo, este, por sua vez, dono das chaves do poderoso Templo de Salomão.
Não menos surreal foi o comercial de um plano funerário que surgia entre um bloco e outro do programa da TV. Na sala dos jornalistas, que assistiam ao debate bem longe do clima do estúdio, não deu outra: riso certo e uma certa interrogação no rosto: mas o que é isso? Propaganda funerária uma hora dessas, produção?
E o que dizer do insistente alarme que tumultuou – e acabou dando leveza, vá lá – ao tão sisudo e esperado último confronto? Tanto na fala de Crivella quanto na de Pezão ele disparou em alto e bom som: Pém! Pém! Pém! O que foi aquilo? Ninguém entendia. Não deu outra: de novo, riso correu solto por lá. Coube à apresentadora Ana Paula Araújo tranquilizar a plateia ao final: “foi alarme falso, gente”. Ufa!
O tal alarme, aliás, tirou de Pezão, o ex-candidato “light-boa-praça-paz-e-amor”, uma das frases mais agressivas e, ao mesmo tempo, mais irônicas, que ele soltou durante toda a campanha. Perguntado se o alarme disparou como um detector de mentiras, foi ineditamente cirúrgico: “me falaram que era o Garotinho que tava chegando para buscar a (filha) Clarissa, e o detector disparou”.
Em uma noite de comportamentos fora do roteiro, a mesma Clarissa Garotinho, filha do “sobrenome” mais famoso da outrora bucólica Campos Elíseos, não falhou. Como tinha feito no debate anterior, deu gritos da plateia, puxou vaias contra Pezão e atiçou a claque “Crivella 10”, na qual, apesar de ser cristã nova, já se mostra muito à vontade.
Mas fato é que Clarissa não foi a única a desrespeitar as “regras da casa”. A plateia se comportou mal, manifestou-se o tempo todo, aplaudiu com o programa no ar, vaiou com o debate em andamento. Ou seja, tudo como não fora combinado. A impressão de muitos, depois de uma série de debates no primeiro e segundo turno, é que a fórmula que dava certo até então – um acordo de cavalheiros que mantinha a plateia quieta - já era. “Tem que liberar a plateia, não tem mais jeito, ninguém segura”, brincava uma jornalista dando uma de irônica – e visivelmente satisfeita com a anarquia. Afinal, nenhuma emissora conseguiu apascentar o rebanho. Em todos os confrontos, valeu claque. Valeu palma. Valeu tudo. Só faltou educação.
Para completar o cenário de fatos obscuros, coube a Pezão fechar a tampa e surpreender. Ele anunciou, após o debate, que o site www.overdadeirocrivella.com foi criado por sua própria campanha. Sem mostrar preocupações com um possível acionamento na Justiça, confirmou, em alto e bom som, a origem do site. E disse, como quem não aguenta mais levar desaforo para casa, que fez o que fez “para mostrar o que está por trás da campanha do Crivella”. Teve gente vendo ali o lobo surgindo no meio da pele do cordeiro.
E, depois da peleja, já na saída do Projac, passando da meia-noite, ainda se podia ver uma animada claque entre os gradis de acesso à emissora. Todos cabos eleitorais do candidato Crivella. E também por ali, no meio daquele povo todo, no descampado bairro de Jacarepaguá, lá estavam eles, resistentes: o Homem-Aranha roto e as suas duas amigas drag queens. Ostentavam, felizes, a bandeira do Bispo da Universal do Reino de Deus. Coisa de novela.