Debate no Rio tem confinamentos, fugas e beicinhos

27 set 2014 - 14h36
(atualizado às 14h40)

A chegada dos candidatos ao governo do Rio à sede da TV Record, para o penúltimo debate da primeira etapa das eleições, já sinalizava o que a noite de sexta prometia. O petista Lindberg Farias chegou pilhado, como de costume, e foi dos poucos a parar com a imprensa, ávida por uma boa nova. Ele disparou: havia saído, minutos antes, na Veja Online, uma “denúncia-bomba”. Dava conta de que um enteado de Luiz Fernando Pezão, governador candidato à reeleição, havia prestado serviços como advogado para empresas contratadas pelo governo do Rio, o que representaria, no mínimo, desvio ético.

Em quarto lugar nas pesquisas, Lindberg agiu como quem joga as últimas fichas: “acredito que teremos uma segunda eleição depois desta denúncia”, apostou, a nove dias da eleição. Já do lado de dentro da emissora, cercado pelos jornalistas, Pezão surpreendeu e, contrariando as expectativas (e a jornalista da emissora que dizia: “você não precisa responder, Pezão”) falou com a imprensa sobre a denúncia. “Meu enteado prestou serviços para essas empresas, não presta mais”, respondeu, sem sobressaltos.

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 Os candidatos Tarcísio Motta (PSOL) e Lindberg Farias, durante debate da TV Record
Os candidatos Tarcísio Motta (PSOL) e Lindberg Farias, durante debate da TV Record
Foto: Fotos públicas/Tasso Marcelo / Divulgação

Já Anthony Garotinho (PR) manteve o costume e “chegou na muda”, nada de entrevista antes do debate. Na van passou, da van não saiu, sequer para acenar para a claque que agitava bandeiras com seu nome e número do lado de fora do estúdio. O senador do PRB, Marcello Crivella, também não deu bola para a imprensa. Chegou dirigindo, ele mesmo, o carro, acompanhado de assessores. Não acenou para a claque. Mas também ele não tinha claque por ali.

No estilo ‘A Fazenda’

A organização do debate foi cercada de saias justas. Num estúdio pequeno, de apenas 52 lugares sentados – devidamente contatos pela reportagem do Terra – os candidatos foram ajeitados para o início da peleja. À imprensa coube uma sala isolada em outro andar do prédio, onde se pôde assistir ao debate. Pela TV, como se em casa estivessem. Os fotógrafos, ao contrário da praxe, não puderam entrar no estúdio sequer para um rápido registro. Descontentamento geral.

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Aos jornalistas e pessoal da imagem coube o confinamento, no melhor estilo “A Fazenda”, programa que, aliás, foi “servido” nos telões minutos antes de o debate começar. Sem ter acesso ao clima do confronto, alguns tentavam se distrair com os canapés e refrigerantes dispostos na mesa.

Finalmente, os candidatos falam

Depois de muita espera, o estúdio foi aberto. Ali, os candidatos faziam seus balanços da mais de 1hora e 40min de debate, que, com formato engessado, acabou mais morno que prometia. Estagnado nas pesquisas, Anthony Garotinho foi arredio ao comentar o assunto com os repórteres. Disse que sua oscilação de 25% para 23% estava na margem de erro. Questionado por uma jornalista se os números não eram muito ruins a poucos dias da eleição, ficou irritado e fez beicinho ao descobrir que a profissional era do jornal O Globo. “Ah, do Globo? Então não respondo mais nada para você. Seu jornal tem candidato, é o Pezão”.  

Candidatos ao governo do Rio de Janeiro, durante debate da TV Record
Foto: Fotos públicas/Tasso Marcelo / Divulgação

Esperado ansiosamente, Pezão protagonizou a principal fuga da noite. Aos jornalistas, pediu um minuto para ir ao banheiro e.... nunca mais voltou.  Durante o debate, um dos poucos comentários que chegou à distante sala de imprensa dava conta de que ele estava indisposto.

Antes de enfrentarem a sessão de entrevistas pós-debate Garotinho e Marcelo Crivella trocaram figurinha no estúdio. Questionado pelo Terra sobre o assunto do papo ao pé do ouvido, Crivella simplesmente cantou para a reportagem um trecho da música imortalizada por Nelson Gonçalves e Roberto Carlos: “De quem eu gosto nem às paredes confesso”. Antes do pano rápido, o bispo licenciado da IURD confessou: “o Garotinho veio me falar de uma denúncia da Veja sobre um filho do Pezão, envolvido com empresas que prestam serviço ao governo”.

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De outro canto do estúdio, Lindberg, com 12% segundo o Datafolha divulgado na sexta-feira, repetia o mantra que adotou há mais de um mês: “ainda há tempo de virar”. Mal sabia, mas era observado a poucos metros pelo deputado estadual Marcelo Freixo (PSol), fiel escudeiro do candidato Tarcísio Motta (PSol), que esperava a hora de falar sobre sua performance. Fazendo a linha político cordial, “professor Tarcísio” finalmente emplacou algumas entrevistas.

Sempre ela, a claque

Atração à parte nos debates é ela, a claque que se espreme do lado de fora das emissoras cumprindo um ritual de saudação a seus candidatos e agitação de bandeiras. Na sexta à noite, o pessoal contratado e simpatizantes se misturavam para gritar palavras de ordem de Pezão e Garotinho. A claque de Lindberg também marcou presença, mas já em número bem menor que nos debates anteriores. O “barulho” do pessoal de Lindberg era grande, mas se devia ao amplificador de som e não ao número de militantes presentes. Som, aliás, que atrapalhou bastante a entrevista do petista aos jornalistas na entrada da Record. Justamente aquela em que ele soltou a tal “denúncia-bomba” da revista Veja contra Pezão.

No mais, chamava atenção o “rapaz do som” de um dos candidatos que, ao avistar Pezão chegando, pedia, ordeiramente: Vamos vaiar, gente. Vamos vaiar!”

Tudo na maior linha. Como quem pede uma salva de palmas numa noite de premiação. Só que não.  

Fonte: Terra
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