O debate entre os candidatos ao governo do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB), na noite desta quinta-feira, foi marcada por ataques mútuos. De um lado, o atual governador peemedebista lembrou, em várias ocasiões, “os aliados” recém-conquistados por seu adversário, em referência ao candidato derrotado Anthony Garotinho.
Como arma para desconstruir o adversário, Pezão expôs também as ligações de Crivella com a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e o bispo Edir Macedo. Já o concorrente do PRB citou, repetidamente, denúncias de corrupção que envolveram a campanha de Pezão e, principalmente, do seu antecessor e padrinho político, Sérgio Cabral (PMDB).
Pezão chegou a chamar a Universal de “organização”: “Muito triste, senador, o senhor falar que sua campanha não tem recursos”, disse. “A gente sabe o que sua organização, a Igreja Universal, faz durante toda a campanha eleitoral. Como usaram a Universal, que virou partido político que escolhe qual candidato quer eleger”.
Escalado para fazer uma pergunta em seguida a seu próprio comentário, Pezão emendou com outro ataque: “Como o senhor vai fazer seus programas sociais? Vai ser o Garotinho ou o bispo Edir Macedo que vai produzir?” A resposta veio irônica: “Pezão, Pezão.... (pausa) minha mãe não vai mais apreciar aquele bom moço, humilde, modesto, que apresentava seu pai e sua mãe (no programa de TV). Garotinho foi quem trouxe você para cá, seu amigo que te orientou e te estendeu a mão”.
Ainda na sua resposta, Crivella disse que o adversário esteve com ele na inauguração do Templo de Salomão ao lado do mesmo Edir Macedo que criticava com veemência agora. “Você foi tão cordial com o bispo Macedo”, ironizou. “Não vai ser por aí que você vai ganhar eleição. Conversa com seu marqueteiro porque isso não vai dar resultado. Nunca misturei política com religião”, voltou a se defender o bispo licenciado da Iurd.
O senador do PRB afirmou, como já havia feito em entrevista antes do debate, que o problema não é a união de política com religião, mas sim da “política com corrupção”. Crivella disparou contra o PMDB: “o problema do PMDB é sua cúpula, que se envolveu em escândalos absurdos, como esse da Petrobras. O partido até que não é de todo ruim não”.
Na sua réplica, Pezão não aliviou. Ao falar ainda de programas sociais, disse que o programa Renda Melhor, do governo, não tem intermediário: “não tem padre, não tem pastor, não tem governador, vice-governador, é direto para o bolso do cidadão na parceria com o Bolsa Família”. O governador também atacou as nomeações que teriam sido feitas por Crivella, quando ele era ministro da Pesca do governo Dilma. “É um risco a gente ter uma proposta de um candidato que, quando foi nomear os chefes de repartição em cada estado, botou um membro da Universal”.
A resposta veio irônica, novamente: “Eu acho que tem que levar o Pezão para o divã. O candidato sou eu, Pezão, não é a igreja”. Mais à frente, voltou a falar de corrupção: “O que há na cúpula do PMDB, na cúpula que você serve, é algo muito mais sério que o risco de misturar política com religião”.
‘Recursos escondidos’
Crivella também lembrou as denúncias de propaganda irregular contra o adversário, feitas pela Procuradoria Eleitoral ao longo de toda a campanha. “Foram denúncias de abuso de poder econômico, abuso de poder político. Você não tem medo, se eleito, de perder o mandato?” Pezão afirmou que respeita as ações da Procuradoria, mas que a democracia lhe dava o direito de defesa.
E contra-atacou, mirando novamente os aliados de Crivella: “É muito melhor ser assim, transparente, do que ter outros apoios, outros recursos escondidos, que a gente não sabe de onde vem”.
Até chegar aos momentos mais acalorados do confronto, os concorrentes ao Palácio Guanabara tentaram, sem muito sucesso, discutir algumas propostas para transporte, saúde e segurança pública. Crivella tentava, a todo custo, desconstruir as ações do atual governador. Este, ao menor sinal de ataque, defendia seu mandato, mas caía sempre nos ataques aos novos aliados do candidato do PRB.
Ao ouvir de Pezão que iria tocar várias programas de melhorias em metrôs, trens e barcas, Crivella criticou: “Esse discurso de ‘nós vamos’ é meu, Pezão. Você tem que falar é do que você fez, e não do que vai fazer”. Pezão insistiu mostrando programas em andamento, de reformas de estações e aumento no número de trens e metrôs.
A implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) também foi alvo de embate. Depois de defender os investimentos de seu governo no setor, Pezão disse que, “por 30 anos o crime foi colocado para debaixo do tapete no Rio”. No seu comentário, Crivella admitiu que houve avanços na UPP, mas que o governo atual “sabotou a UPP com sua ambição eleitoral, com seu desespero pelo voto”, o que teria levado à implantação de unidades sem planejamento.