O que a política separou, a família, ao que parece, não une de novo. Esse pode ser o lema dos irmãos Anthony Garotinho (PR) e Nelson Nahim (PSD), dois figurões da política de Campos dos Goytacazes, cidade situada ao Norte do Rio de Janeiro. Desde 2010, quando a prefeita e esposa de Garotinho, Rosinha Matheus, foi destituída do cargo pela Justiça, o caldo entre os irmãos desandou.
O grupo de Garotinho, hoje candidato ao governo do Rio, acusou Nahim – vereador por quatro mandatos - de querer tomar o lugar da prefeita. É que, como presidente da Câmara à época, coube a ele, após decisão da justiça, tomar posse no cargo. Nahim ficou seis meses à frente da prefeitura. Em uma das várias pelejas entre Rosinha e a Justiça, o presidente da Casa, novamente, chegou a tomar posse. Mas, desta vez, ficou no posto por poucas horas. Ele afirma que aliados de Garotinho invadiram a Câmara para tumultuar sua posse. Desde então, nem um aceno de mão, nem um boa tarde ou bom dia entre eles.
Em entrevista ao Terra, Nahim insistiu em dizer que não entende o motivo que levou ao rompimento. Não faz críticas duras ao parente, mas, em contrapartida, tece um rosário de elogios ao principal rival de Garotinho, o governador e candidato à reeleição Luiz Fernando Pezão (PMDB). Na terça-feira, aliás, Nahim, que é candidato a deputado federal, e Pezão desfilaram pelas ruas de Campos como fieis escudeiros. Cumpriam segunda agenda de campanha do governador pelas terras de Garotinho.
Terra – Conte um pouco sobre o que levou a esse rompimento.
Nelson Nahim - O problema aconteceu no segundo afastamento da então prefeita de Campos Rosinha (Garotinho). Eu tinha que tomar posse (era presidente da Câmara) e o grupo deles invadiu o plenário. Eu acabei assumindo a prefeitura por algumas horas. Veio uma liminar da justiça e ela voltou ao cargo horas depois. Eu não entendo qual o problema deles comigo. Quando fui prefeito a primeira vez, quando ela saiu da prefeitura, eu os apoiei. Não tem uma explicação plausível (para o rompimento). Eles, desde então, me tratam como um rival político. Diziam que eu queria tomar o lugar da prefeita. Eu nunca tive problemas com relação ao mandato dela. Eu até protelei para ela assumir. A relação política então ficou muito difícil. Na época, éramos do mesmo grupo. Eu era, inclusive, filiado ao PR. No momento em que eu dei posse à prefeita, disse que sairia do PR. A partir daí, não nos falamos mais.
Terra - Como é fazer campanha ao lado do candidato Luiz Fernando Pezão, adversário de Garotinho?
Nahim - Ele é muito agregador, faz amigos. Eu não queria ser candidato a nada, na verdade.... Houve um pedido forte do Pezão, então aceitei essa missão. Ele veio a Campos duas vezes e, nas duas, nós caminhamos juntos. Espero que seja nosso governador. Ele é a melhor opção de todas. Esperamos que ele continue cuidando do interior. O Pezão é conciliador, não distingue ninguém. Falei com ele ontem (quarta) à noite mesmo por telefone. Ele estava muito feliz pela agenda de campanha que teve em Campos (na terça-feira).
Terra – De alguma forma, o sr. é instrumento usado pelo Pezão para incentivar a rivalidade entre ele e Garotinho. Não se sente assim?
Nahim – Na política a gente tem que escolher lado, ninguém tem que ser morno. Sempre estive ao lado dele, até que passei a não acreditar mais. Agora é cada um para o seu lado. Que cada um cuide de sua campanha. Não é ruim, porque somos irmãos, mas tem que saber em que confia e a quem apoiar.
Terra – Qual a avaliação política o sr. faz do Garotinho?
Nahim - O Pezão tem uma trajetória. Ele foi vereador, presidente da Câmara, prefeito (de Piraí), um prefeito, aliás, revolucionário. Enquanto secretário do governo da Rosinha e depois como vice-governador e secretário de Obras (no governo Sérgio Cabral, do PMDB), ele foi espetacular. É inegável. Por isso ele cresceu tanto na campanha. As pessoas tinham que reconhecer isso.
Terra – Mas a pergunta foi sobre o Garotinho...
Nahim - O Garotinho fez um governo que podia ser feito à época (foi governador na gestão 1998-2002). Mas faltou muito. Acabou havendo um afastamento da população. A política de um real, aquela em que se ajuda uma pessoa em algum momento na sua vida, é importante, mas não se pode ficar só nisso. Os projetos sociais é que são importantes. Você tem que dar condição às pessoas para que elas não fiquem atreladas a essa política de um real. Tudo é importante na política social, mas não tem que explorar isso, a população precisa de trabalho. Eu não gosto de política estritamente assistencialista. Um apoio do Restaurante Popular, por exemplo, de um cheque-cidadão (ambos são bandeiras de Garotinho), é bom, mas não pode ser contínuo.
Terra – Hoje o sr. considera que exista uma disputa de poder em Campos entre seu grupo e o de Garotinho?
Nahim - Não, não, não. O que existe na cidade - não só da minha parte, mas das outras forças de oposição – são pessoas que não apoiam o modelo de gestão da prefeitura (Rosinha Garotinho é novamente prefeita, eleita em 2012). Essas pessoas vão poder conversar e saber o que é melhor pra Campos futuramente. Eu, inclusive, estou fora da disputa (de 2016) porque sou cunhado dela (a legislação proíbe que ele se candidate pela relação de parentesco).
Terra – O sr. receia ganhar desafetos entre os eleitores de Garotinho?
Nahim - Não. Eu nunca atrelei minha vida política a ninguém. Fui eleito vereador por quatro vezes sem precisar pedir voto dizendo que era irmão dele. Claro que tem gente que tem simpatia por mim e não por ele. E vice-versa. Nosso temperamento é muito diferente. Sou agregador, não tenho porta fechada em lugar nenhum. Pra gente crescer a gente não precisa falar mal de ninguém.
Terra - Alguma chance de reconciliação?
Nahim - Eu sou uma pessoa do bem. Eu não tenho a menor dificuldade em voltar a ter qualquer tipo de contato com ele. Política é política, e as questões pessoais não podem ficar estremecidas. Da minha parte, eu penso assim. Agora, politicamente não, eu quero caminhar de outra forma. A nossa mãe ainda é viva, e isso não é bom. Ela tem uma certa idade. Me dou muito bem com o Vladimir, filho deles (de Garotinho e Rosinha) A Clarissa (deputada estadual) eu não tenho muito contato.... Ela foi embora para o Rio há muito tempo. A gente não tem que guardar nada de ninguém. Nem rancor nem ódio. No aniversário dele, eu mando mensagem... eu faço a minha parte.
Terra - De onde vem a veia política da sua família?
Nahim - Nosso tio, Helson Oliveira, irmão do nosso pai, não teve careira política, mas sempre teve vocação política. Ele foi preso na época da ditadura militar, era muito aguerrido, defendia muito a política. Talvez ele tenha sido o que nos deu a vocação política. Uma das veias, com certeza, é dele. Ele era um visionário, um lutador idealista. Infelizmente, morreu num acidente de carro.