Ele protagonizou situações controversas nos protestos que tomaram o Brasil em junho de 2013. Conhecido por usar, nas manifestações de rua no Rio de Janeiro, a máscara do vilão Coringa, arqui-inimigo do Batman, o fotógrafo Cleyton Carlos Silbernagel foi considerado um dos principais delatores do movimento Black Bloc.
É que ele foi peça-chave das investigações ao depor dizendo que partidos como o Psol e políticos como Anthony Garotinho financiavam os manifestantes – o que não foi provado – e ao “entregar” a forma violenta como os manifestantes agiam. Em certo momento, elegeu como alvo de ataques a ativista Elisa Quadros, a Sininho, líder do movimento presa no Rio em julho deste ano sob alegação de formação de quadrilha.
Coringa chegou ao ponto de gravar um vídeo em que pedia perdão a ela – pelas delações – e se dizendo apaixonado pela ativista. Hoje, afastado do movimento, busca vaga de deputado estadual pelo PSB. Mesmo tendo se transformado em vilão do grupo, Coringa, 24 anos, parece não ter arrependimentos. E está ávido por voltar às ruas. Afinal, pelas suas contas, foram cerca de 40 participações em manifestações até hoje.
Segundo o candidato, muitos ativistas de junho estão longe das ruas porque apoiam políticos nas eleições. “Por isso, o número de protestos agora reduziu muito.” Leia, a seguir, a íntegra da entrevista que ele concedeu ao Terra:
Terra - Como foi a decisão de sair candidato?
Cleyton Coringa - Eu saí candidato pela experiência que tive nas manifestações e por causa da voz das ruas. Eu vi que o povo estava desacreditado dos políticos. Os políticos não ouviram o que as ruas queriam. Eu me filiei ao PSB em 2011. Mas foi uma filiação provisória. Eu nunca participei de reunião do partido. Eu fui até o partido em Caxias (Baixada Fluminense, onde mora), conversei com eles e aceitaram minha candidatura.
Terra - Não é contraditório para quem estava na rua contra a política agora ser candidato?
Coringa - Manifestação é manifestação, tem que ser apartidária. Ali todos sabiam que não podiam levantar bandeira. Já eleição é eleição. É outra história. Eu mesmo gosto de ser apartidário, mesmo sendo filiado a partido. Não vejo contradição. O partido até me zoa porque tem lá um ex-Black Bloc.
Terra – Você se arrepende de ter feito as denúncias de que partidos financiavam manifestantes e de ter gravado o vídeo se declarando para a Sininho?
Coringa - (Risos) Aquele vídeo foi meio estranho... Pegou meio mal pra mim. Já fui amigo dela. Não somos mais. Não temos mais contato. Ela não vai mais em protesto também. Não pode, né?
Terra - Quais as suas propostas caso seja eleito?
Coringa - (pausa de longos segundos) Desmilitarização da PM, aumento dos professores da rede pública.... Existe uma ideia aí com a intenção de criar o Dia do Black Bloc. Defendo esse projeto em homenagem aos protestos de junho de 2013.
Terra - Qual a sua opinião sobre as manifestações de junho, agora vistas com distanciamento?
Coringa - Diminuiu muito a violência após a morte do Santiago (Andrade, cinegrafista da Band morto depois de ser atingido por um rojão). Tem muita gente ligada aos protestos que hoje está apoiando candidatos. Por isso, o número de protestos reduziu muito. Com as manifestações, a gente não conquistou nada. Precisamos da desmilitarização da PM. O movimento foi mais ou menos positivo. Pela violência é que perdeu muita coisa.
Terra – Qual sua opinião sobre a candidatura à presidência da Marina Silva, do seu partido, o PSB?
Coringa – Eu apoio. Ela vai lutar pelo passe livre, que era uma luta da manifestação. Eu também vou lutar por isso para o pessoal da rede pública ter acesso ao transporte gratuito.
Terra - Você tem intenção de voltar para as ruas?
Coringa - Pode ser que um dia volte a ter manifestação. Se o povo acordar.... Tenho vontade que aconteça. Mas uma das coisas que aconteceram foi que a mídia atrapalhou muito. Afinal, as manifestações começaram sempre pacíficas. Mas a mídia não mostrava esse lado pacífico.
Terra – Mas será que os seus colegas manifestantes não colaboraram para isso? Violência tinha que ser mostrada....
Coringa – Sim, não estou falando da mídia toda, mais mesmo é a Rede Globo...
Terra - Por que logo encarnar o Coringa, um dos maiores vilões dos quadrinhos?
Coringa - Eu fiz aquilo pra zoar o Batman (risos). Eu falei com ele. (O personagem Batman também ficou conhecido nos protestos de junho no Rio e era vivido pelo protético Eron Morais) Eu já tinha amizade com o Eron há muito tempo. Eu ia para as manifestações de junho e julho com nariz de palhaço. E aí comecei a ir também com máscara do Coringa. Na campanha, não estou usando a máscara. Eu uso de vez em quando porque o pessoal identifica. Eu queria ir ao horário eleitoral de máscara, mas o partido pediu para não usar.
Terra - Você se considera um delator?
Coringa - A morte do cinegrafista Santiago é que me motivou a falar. Sei que ‘queimei o filme’ no movimento (entre os manifestantes). Mas o que testemunhei mais mesmo foram as ações da Sininho.
Terra – Depois de praticamente romper com o movimento, você ainda se considera um Black Bloc?
Coringa - Eu participei do movimento, mas depois eu saí porque o pessoal ficou meio revoltado comigo. Eu me identifico com a luta deles, eu já estive junto com eles. Agora não me considero, mas quando colocava a máscara, sim. Nunca usei de vandalismo ou de violência. Só uma vez quando tive um desentendimento com um policial.
(Um dia após conversar com a reportagem, Cleyton mandou mensagem retificando essa informação e admitindo que havia, sim, quebrado orelhões e “jogado pedras em bancos com meus amigos”).