Sérgio Cabral, despojado, de camiseta, chegou a um hotel na zona sul do Rio de Janeiro por volta de 18h45 deste domingo. Subiu as escadas e encontrou Luiz Fernando Pezão para um longo abraço. Esta cena explica muito do que foi a primeira coletiva de imprensa do novo governador fluminense – Pezão bateu nas urnas o senador Marcelo Crivella (PRB), com 99,99% das urnas apuradas, o candidato do PMDB tinha 55,78% dos votos válidos, ante 44,22% de Crivella.
“Eu tenho consciência do que eu representei. Foi o governo dele que fez com que nós ganhássemos. Se não tivéssemos governo, não teríamos ganhado. Para se reeleger tem que ter governo”, disse, em alto e bom som, o novo governador do Rio de Janeiro, que venceu a sua primeira eleição majoritária da carreira, após ser vereador e prefeito de Piraí, no sul fluminense, em duas oportunidades.
“Eu discutia muito com o Sérgio em novembro, outubro, e eu falava: ‘Sérgio acho que eu não estou à altura para defender um governo de muitas conquistas’. Eu tenho um orgulho imenso e sempre defendi o governo. Apanhei como um cachorro sem dono defendendo o governo e a população me deu 41% dos votos (no primeiro turno)”, completou ainda Pezão.
Sérgio Cabral, que ficou à frente do Palácio Guanabara por sete anos e quatro meses, foi o governador que teve a sua imagem mais arranhada depois do advento das manifestações. Cabral se manteve longe da mídia ao longo de toda a campanha eleitoral, por uma razão óbvia na opinião do agora novo governador do Rio de Janeiro.
“Muita gente cobrava que mesmo o Eduardo Paes, o melhor prefeito do Brasil, não aparecia. Eu era o protagonista, eu tinha que aparecer”, explicou, dizendo ainda que Sérgio Cabral sempre será sua “fonte de consulta” no atual governo. “Vai ser minha fonte permanente, como eu fui dele. Nós passamos 80% do mandato juntos. Eu amanhecia na casa dele tomando café, e voltávamos à noite conversando. Eu ganhei um irmão. Eu tenho um carinho especial pelo Sérgio, pela família dele. Uma profunda admiração e gratidão a ele”.
Por fim, Pezão ainda citou Cabral como “uma pessoa que na sua entrevista no primeiro dia após a reeleição (2010) me lançou como candidato e todo mundo achou que foi precipitado e ele acreditou. Nos momentos mais difíceis, quando tínhamos 4% das pesquisas, e as pessoas duvidavam da escolha que ele tinha feito dentro de um partido grande como PMDB, o Sérgio sempre esteve ali firme”.
Agradecimentos
Acompanhado de sua esposa, Maria Lúcia Cautiero, e de seu vice na chapa vencedora, o senador Francisco Dornelles (PP), Pezão fez um longo discurso de agradecimentos pela sua vitória – ele enfrentou forte oposição de nomes políticos fortes no Estado, como Anthony Garotinho (PR), Lindberg Farias (PT) e o próprio senador Marcelo Crivella (PRB), seu rival no segundo turno.
“Eu quero agradecer muito a população do Estado do Rio de Janeiro por essa grande vitória. Nos meus sonhos eu não poderia sonhar em chegar a governador, e ser reeleito. É uma alegria muito grande. Quero agradecer a todas as cidades, a todos os 18 partidos estiveram na nossa coligação no primeiro turno, e no segundo turno com mais três partidos. A todas as pessoas que estiveram ao nosso lado. A nossa militância, as pessoas que ficaram nas ruas e defenderam a nossa candidatura”, discursou.
Gabinete itinerante na Baixada Fluminense
“Eu vou por dentro de todas as cidades, principalmente dentro da Baixada (Fluminense). Eu vou olhar com olhar especial. Cuidar da obra de abastecimento de água. Quero deixar toda a Baixada Fluminense com 100% de abastecimento de água”.
Segurança pública
“Eu vou olhar com carinho. É a prioridade para nós. Eu vou estar perto. Tenho conversado com o secretário Beltrame. Sempre no período eleitoral o tráfico tenta dar recado. Vamos estar perto”.
Para novas Unidades de Polícia Pacificadora, “o primeiro passo quem dá é o (o secretário de Segurança Pública, José Mariano) Beltrame, agora em novembro ainda. Estou permanentemente conversando com ele. A área de segurança pública que vai determinar. O segredo foi despolitizar a segurança pública. Quem determina a próxima UPP é ele”. Pezão não quis confirmar se Beltrame permanece no cargo. “Agora é hora de comemorar aquele melhor momento para o político, entre a eleição e a posse”.
21 partidos, e poucas secretarias
“Eu gosto muito de aliar o político com a competência. Eu não afasto o político de antemão. Eu vou ouvir muito. Tenho que elaborar uma grande equipe. Sempre procurei escolher, desde prefeito, sempre procuro trazer quem sabe mais do que eu. As pessoas que sabem mais do que eu não me assustam, Eu vou procurar unir o político com o técnico. Vou pedir muita inspiração para que eu escolha bem. Principalmente, ouvindo. Quando a gente ouve mais, a gente erra menos”.