O senador Pedro Simon (PMDB) será candidato ao Senado no Rio Grande do Sul. A candidatura de Simon, 84 anos, ao seu quinto mandato, foi decidida na noite de domingo, em uma reunião da cúpula do partido no Estado, e representa mais uma reviravolta em uma disputa conturbada. O anúncio oficial acontecerá às 14h desta segunda, quando devem ser conhecidos também os suplentes do senador. Amanhã, a decisão será ratificada pelo diretório.
Faltando pouco mais de um mês para a eleição, Simon entrará na corrida em substituição a Beto Albuquerque (PSB). O deputado socialista, que concorria ao Senado em uma chapa encabeçada pelo PMDB, na semana passada deixou a disputa para assumir a vaga de vice de Marina Silva na corrida pela presidência da República. O PSB gaúcho abriu mão de indicar outro nome. A mudança gerou uma crise no PMDB e estava confundindo até os eleitores. Na propaganda eleitoral na TV, o logotipo antigo da aliança continuava sendo exibido, uma vez que as gravações dos candidatos já estavam feitas e a avaliação foi de que os altos custos das alterações nos fundos não se justificavam sem que houvesse um novo nome definido.
Até ontem, no Rio Grande do Sul a eleição para o Senado estava sendo polarizada por outros dois candidatos: o ex-governador petista Olívio Dutra e o pedetista Lasier Martins. Conforme as últimas pesquisas de intenção de voto, os dois aparecem empatados, e muitos pontos acima dos demais concorrentes. Beto tentava romper a polarização, mas não obtinha sucesso.
Simon, por sua vez, havia anunciado em abril que não disputaria novo mandato eletivo. Mas a disputa interna no PMDB pela vaga era tão forte e Simon havia deixado o tema em suspenso por tantas vezes que a base partidária só acreditou que ele encerraria a carreira quando, em maio, foi selada a aliança com os socialistas e a vaga ocupada por Beto.
A partir da confirmação de Beto como vice de Marina, o candidato ao governo do Estado pelo PMDB, José Ivo Sartori, começou a pressionar Simon para que se apresentasse ao Senado. O senador, contudo, passou os últimos dias dizendo que não tinha como reconsiderar a questão.
Na semana passada, a hipótese de que o senador não teria saúde para enfrentar mais uma disputa foi ventilada, mas era apenas uma cortina de fumaça. Dentro do PMDB Simon é apontado como um dos políticos que em mais lugares esteve no ano passado e, atualmente, ele percorre o Estado auxiliando o filho, Tiago, em campanha por uma cadeira na Assembleia Legislativa. O que mais pesava de fato sobre a decisão é a ameaça real de que Simon venha a encerrar sua carreira com uma derrota.
Na reunião de ontem, Sartori assinalou que existia uma exigência dos partidos que compõem a aliança em relação a Simon. Os líderes presentes expuseram sua avaliação comum: a de que Lasier possui grandes chances de queda e Olívio apresenta índices de rejeição que podem subir se os adversários atacarem “os pontos certos”. Acreditam ainda que, como o PMDB não tinha candidato, parte dos que escolheram o PDT ou o PT o fizeram por falta de opção e podem mudar seu voto.
O comando de campanha peemedebista avalia, acima de tudo, que Simon poderá ajudar a alavancar a campanha de Sartori, que aparece com menos de 10% de intenções de voto nas pesquisas mais recentes, e em uma disputa também polarizada por outros dois candidatos: o governador Tarso Genro (PT), e a senadora Ana Amélia Lemos (PP). Além disso, considera a proximidade do senador com Marina. Os peemedebistas que tomaram a decisão de pressionar o senador pensam que o bom desempenho de Marina poderá se refletir em Sartori se o partido conseguir reforçar a vinculação entre as duas candidaturas, utilizando Simon como elo.
De quebra, o senador pode ajudar a conter a divisão dos peemedebistas gaúchos em relação à disputa presidencial. Apesar de Sartori e Simon terem apoiado o ex-governador socialista Eduardo Campos (substituído por Marina após morrer em um acidente de avião neste mês de agosto) e manterem o apoio a Marina, no RS uma parte do partido, liderada pelo deputado federal Eliseu Padilha, está fechada com a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), que tem Michel Temer (PMDB) como vice. Uma terceira parcela faz campanha para o senador mineiro Aécio Neves (PSDB). Em meio a isso tudo, uma fatia considerável de peemedebistas tem o que resume como “sérias restrições” a Marina.
Vaga causou enfrentamento entre peemedebistas
A briga para definir quem ocuparia a vaga que agora voltou para Simon começou ainda em 2012. Na época, o PMDB articulava quem seria seu candidato ao governo nas eleições de 2014. O ex-governador Germano Rigotto e o ex-prefeito de Caxias do Sul, José Ivo Sartori, despontavam como favoritos. Apoiado por Simon, o nome de Sartori ganhou força. Rigotto optou por se lançar internamente para a disputa ao Senado, ressalvando que abriria mão da indicação caso Simon resolvesse disputar mais um mandato.
No ano passado, quando o jornalista Lasier Martins deixou o Grupo RBS e apresentou sua candidatura pelo PDT, ganharam força os boatos de que Simon não concorreria. Rigotto, com franca preferência na base partidária, pressionava as lideranças peemedebistas para que a definição do nome ocorresse no início de 2014, mas o partido esperava por Simon e ele não se manifestava. Além de Rigotto, o ex-senador José Fogaça e o ex-deputado Ibsen Pinheiro também pleiteavam a indicação. Rigotto, à época, tinha mais um trunfo. A simpatia de petistas que então sem um nome competitivo para o Senado, pretendiam votar no ex-governador e impedir a vitória de Lasier.
No início de abril foi ventilada a informação de que Simon havia decidido concorrer. Rigotto lançou uma carta aberta desistindo da disputa. Simon desmentiu as informações a respeito da candidatura. Fogaça e Ibsen também se afastaram das articulações. Sem a opção de Rigotto, o PT, lançou o ex-governador Olívio Dutra ao Senado. Olívio rapidamente polarizou a eleição com Lasier. E os boatos de que Simon não disputaria uma eleição arriscada cresceram.
Desmobilizados, os peemedebistas passaram a negociar a vaga do Senado em sua chapa com o PSB. Simon, que principalmente em função de sua ligação com Marina Silva apoiava Eduardo Campos para a presidência, participou diretamente das articulações com o PSB. A base partidária era contra. Em maio, um encontro do diretório do PMDB deveria decidir sobre o Senado. Mas o risco de o colegiado se posicionar contra a entrega da vaga para o PSB era tão alto que a assembleia foi cancelada e o endosso ao nome de Beto foi feito apenas pela cúpula partidária.
A coligação com os socialistas foi oficializada, mas, na prática, o PMDB ignorava a candidatura ao Senado, sem se empenhar pela campanha de Beto. Na semana passada, quando Beto oficializou sua saída da chapa estadual em Porto Alegre, um socialista próximo ao deputado resumiu: “estamos aliviados.”