Com menos de 15 dias de campanha nas ruas, e antes do início do horário político na TV, a disputa pelo governo do Rio Grande do Sul já é uma das mais acirradas das últimas décadas. De um lado está o governador Tarso Genro (PT), que tenta a reeleição. De outro, a senadora Ana Amélia Lemos (PP), em seu segundo teste nas urnas. Ambos estão descolados, e muitos pontos acima dos demais concorrentes, segundo as pesquisas de intenção de voto.
De quebra, no levantamento do Ibope divulgado na quinta-feira, aparecem tecnicamente empatados. A polarização entre dois candidatos, histórica nos pleitos gaúchos, não acontecia com tanta força no primeiro turno desde 1998. A briga não se resume ao governo. Está também na eleição para o Senado, na qual Olívio Dutra (PT) e Lasier Martins (PDT) estão tecnicamente empatados e muito distantes dos outros postulantes.
“O acirramento no Estado não é novidade e a tendência é de que a polarização se mantenha. As últimas eleições (2006 e 2010) é que foram exceções à regra”, avisa Silvana Krause, professora do Departamento de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do RS (Ufrgs). Para que a divisão em dois blocos voltasse com força ao pleito gaúcho, a postura dos candidatos é apontada como determinante. Nenhum deles se apresenta com convicção como uma ‘terceira via’ e o debate está centrado em posições de contra ou a favor.
Apesar das negativas públicas, tanto Ana Amélia como Tarso sabiam que seriam candidatos bem antes de 2014. A senadora adotou a estratégia de escolher o governador como adversário. Não raro, quando questionada sobre temas polêmicos, responde com críticas contundentes a atual administração. Promete diminuir o número de secretarias e de cargos em comissão, acena com a implantação de parcerias público-privadas em diferentes áreas, tem afinidade com o agronegócio e a simpatia de setores empresariais.
Além disso, se empenha pela eleição do senador mineiro Aécio Neves (PSDB) à presidência da República. O PP gaúcho é contra o apoio nacional do partido a Dilma e Ana Amélia é o palanque de Aécio em solo gaúcho. “A senadora canaliza muito bem o voto antipetista”, completa Silvana Krause.
Na outra ponta, os petistas classificam Ana Amélia como “a candidata da direita”. Tarso diz que vai “manter o Estado forte” e fazer parcerias público-privadas somente quando elas forem vantajosas para o poder público. Sempre que tem oportunidade, associa a adversária aos governos de Antônio Britto (então PMDB) e Yeda Crusius (PSDB). O primeiro é lembrado pela política de privatizações e por ter negociado a dívida do RS com a União em termos que estrangularam as finanças. A segunda, pelo escândalo do Detran gaúcho.
A mesma munição o PT utiliza contra o candidato do PDT ao Senado, Lasier Martins, que defende várias das soluções políticas propostas pela senadora. “Avaliamos a existência de uma dobradinha entre as candidaturas do Lasier e da Ana Amélia”, aponta o coordenador da campanha petista, Carlos Pestana. “Não existe esta questão de esquerda e direita. O que existe é que a maioria do Estado quer uma mudança”, rebate o coordenador operacional da campanha do PP, Marco Aurélio Ferreira.
O que ajuda a polarização
O tradicional PMDB gaúcho demorou a decidir seu candidato ao governo, apresentou querelas internas que atrapalharam o processo, se dividiu em relação à eleição presidencial e optou pelo nome de José Ivo Sartori, que tem perfil discreto e pouco interesse em polêmicas. “Estou em uma campanha eleitoral e não em um ringue de boxe. E assim vou continuar”, resume Sartori, que ostenta 5% na última pesquisa Ibope.
O PDT, maior sigla em número de filiados do Estado, está na corrida com o deputado federal Vieira da Cunha (4% no levantamento do Ibope). Vieira se apresenta como de oposição a Tarso, aliou-se ao DEM e ao PSC e já avisou que não apoia a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) de forma alguma, apesar de, nacionalmente, o partido estar com ela. Mas o PDT tem dificuldade porque integrou a administração Tarso até o final de 2013 (ainda há pedetistas no governo). E porque teve que liberar os filiados quanto à eleição presidencial, tamanho o apoio interno à Dilma no diretório gaúcho (a presidente foi do PDT até 2001). Além disso, algumas das posições de Vieira e Lasier são questionadas internamente.
Na história recente do RS, desde que voltaram a acontecer eleições para o governo, em 1982, o governador nunca conseguiu eleger o sucessor. Desde 1988, quando a Constituição estabeleceu a eleição em dois turnos, até 2010, todos os pleitos para o governo haviam se decidido no segundo turno. A exceção foi a eleição passada, quando Tarso Genro obteve vitória no primeiro turno. Desde 1998, quando a reeleição para cargos executivos foi permitida no Brasil, nenhum dos governadores gaúchos que tentou permanecer no cargo obteve sucesso.
Coligações partidárias: Dilma, Aécio e Eduardo Campos