Segundo colocado em pesquisa divulgada na semana passada pelo Ibope, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), teve uma postura agressiva em debate promovido nesta quinta-feira pela Rádio Guaíba, buscando o confronto de ideias com sua principal oponente, a senadora Ana Amélia Lemos (PP), que lidera a corrida eleitoral. Em diversas oportunidades, o candidato à reeleição trocou farpas com a senadora e tentou vinculá-la à ex-governadora Yeda Crusius (PSDB), além de afirmar que o pleito deste ano é marcado pelo antagonismo de dois projetos distintos: “nós temos duas posições muito bem marcadas, jogar o Rio Grande para cima ou para baixo”.
Mesmo que as regras do debate obrigassem o rodízio dos questionamentos os candidatos, garantindo que cada um fizesse uma pergunta e respondesse outra em cada um dos três blocos do programa, Tarso e Ana Amélia foram para o embate direto em duas ocasiões. Na primeira, quem fez o questionamento foi o governador, enquanto na segunda foi a vez da senadora. Nas duas oportunidades, houve uma pequena discussão e o governador reclamou de interrupções da candidata do PP.
“A senhora fala que vai fazer um choque de gestão”, disse o governador ao fazer a sua pergunta, quando foi interrompido por Ana Amélia: “Desculpa, mas eu nunca disse essa frase”. Após pedir para que seu tempo de pergunta fosse zerado devido à interrupção, Tarso questionou se a candidata da oposição defendia a política de “arrocho salarial e redução de investimentos públicos”. “Governador, o senhor como candidato está usando a mesma tática do PT de botar palavras na boca dos outros”, disse Ana Amélia, que acusou Tarso de irresponsabilidade fiscal ao não conter os gastos do governo. “O senhor está operando para fazer investimentos com cheque especial. Isso é irresponsabilidade fiscal. (Nossa proposta) não é choque nenhum, é administrar com responsabilidade”, afirmou.
No terceiro bloco, foi a vez da candidata pepista fazer a pergunta ao governador, apontando que o Estado faz uma manobra contábil para atingir o investimento de 12% da receita na saúde pública, conforme determina a constituição. Após Tarso novamente vincular Ana Amélia a Yeda, a senadora voltou a interrompê-lo. “O seu governo anterior não chegou a 7% (de investimento)”, disse Tarso. “Não governei”, rebateu a senadora. Após nova reclamação, Tarso seguiu seu raciocínio. “O seu governo anterior foi uma vergonha na saúde pública. Nós chegamos aos 12%. (...) A senhora acha que é de graça que o Estado de 2012 para 2013 cresceu o dobro do País? No seu governo, o Estado crescia como rabo de cavalo, crescia pra baixo, menos que o País.”
Antigos aliados em conflito
Mesmo que protagonizasse com Ana Amélia os momentos mais tensos do debate, Tarso também trocou farpas com Vieira da Cunha, candidato do PDT, partido que até o ano passado integrava o seu governo. Após perguntar ao deputado federal se o PDT se orgulhava de ter participado de seu governo, Tarso recebeu uma resposta negativa. “Se dependesse de mim, nós não teríamos participado. Eu considerava que o papel que estava reservado ao PDT durante o seu governo era o de oposição, uma vez que nós não participamos da sua campanha na eleição. Acabei sendo voto vencido e o partido integrou o seu governo”, disse o pedetista.
No segundo bloco, em nova pergunta, Tarso afirmou que Vieira da Cunha sofria a influência do candidato de seu partido ao Senado, Lasier Martins, ex-jornalista do grupo RBS, nas críticas ao seu governo. “O Vieira está se articulando com a direita para bater em um governo popular que vocês ajudaram a construir. Se eu ganhar a eleição, eu te asseguro que eu vou convidar novamente o PDT para fazer parte do governo. E espero que o Vieira seja voto vencido de novo”, ironizou Tarso. “Acho que nem o PDT nem o Estado correm esse risco. Porque os resultados do seu governo depõem contra o senhor”, rebateu o pedetista.
Sartori evita atritos para se apresentar
Alheio à tensão entre os candidatos, José Ivo Sartori (PMDB) evitou entrar em discussão com seus oponentes e aproveitou o espaço para se apresentar ao eleitorado. Apontado como o terceiro colocado na pesquisa Ibope, com 4% das intenções de voto, o ex-prefeito de Caxias do Sul apostou no discurso da seriedade e da boa gestão dos serviços prestados à população. “Não vou prometer o que eu não posso cumprir. O Rio Grande não precisa reinventar a roda, mas é preciso falar menos e fazer mais. Qualidade de gestão é fazer, é entregar. E o que interessa ao povo do Rio Grande é a qualidade de gestão. Os serviços que o governo entrega para você”, disse Sartori, que deu mostras de que, uma vez eleito, buscará montar uma ampla base de apoio em seu governo.
“A maioria das pessoas coloca sempre a culpa nos outros. Sempre os culpados são os outros. Essa é uma forma e uma evasiva que já está superada na vida política do nosso País. Nós temos que trabalhar conjuntamente para o bem do Estado. Eu quero ser governador, mas não quero olhar para trás. Vamos caminhar rumo ao futuro, com passos seguros e firmes, e se possível com a unidade de todos”, disse.
Outros candidatos
Roberto Robaina (Psol) defendeu uma ampla reforma política e acusou tanto Tarso quanto Ana Amélia de pertencerem ao mesmo conjunto de partidos que agem em nome do interesse das elites brasileiras. Os ataques mais contundentes de Robaina, entretanto, foram ao governador, principalmente pelo não pagamento do piso nacional dos professores. “Não é possível a gente fazer uma disputa de governo onde os candidatos fazem promessas e mais promessas e depois, como governo, fazem o oposto do que prometeram”, disse.
Apesar de figurar na pesquisa Ibope com 1% das intenções de voto, João Carlos Rodrigues (PMN) demonstrou confiança de que possa ser eleito governador e defendeu uma grande renovação nos quadros políticos do Estado. “Precisamos, sim, oxigenar a política. Precisamos renovar a política brasileira e a gaúcha, mas não com os mesmos”, afirmou. “O PMN é um partido grande, um partido forte, um partido com história. Nós temos um projeto de governo, que, se não o melhor, é um dos melhores. É um partido que tem, sim, condições de dar ao Rio Grande do Sul resposta a essas questões que estão aí colocadas”, sustentou.
Humberto Carvalho (PCB), por sua vez, atacou o governo Tarso por manter isenções fiscais a grandes empresas, enquanto o Estado sofre para renegociar a dívida pública com a União. “Parece que o governo do Estado se nega a uma revisão das isenções. Dinheiro para a educação, dinheiro para pagar os professores, onde está? Eu defendo uma revisão dos contratos relativos à isenção fiscal, que o governo atual entende que não se deve mexer.”
Já Edison Estivalete (PRTB) apostou no bairrismo e no orgulho gaúcho como elementos capazes de atrair novos eleitores. Vestido a caráter com as vestimentas típicas do tradicionalismo gaúcho, Estivalete arrancou risos dos presentes ao afirmar que foi a cavalo ao debate, e afirmou que “o povo gaúcho é o melhor”. “A família Estivalete fez questão de vir a cavalo para isso mesmo. Está na hora de nós retomarmos os valores dos gaúchos, andar de pilcha e não ter vergonha disso. Chega de ser PT ou não-PT no Rio Grande. Os gaúchos, quando eles buscam a sua cultura, a cultura é a do homem do campo, de pessoas simples”, disse.