O PMDB, partido de Michel Temer, vice da presidente Dilma Rousseff (PT), mostrou nesta sexta-feira no Rio Grande do Sul como pretende colocar em prática a nova estratégia da campanha de Dilma à reeleição. A mudança inclui não só muita agenda de rua, mas artilharia pesada sobre Marina Silva, que já aparece “colada” na petista.
Coube ao próprio Temer deixar claras as alterações. Conhecido por sua capacidade de articulação nos bastidores políticos, mas em geral comedido em manifestações públicas, o peemedebista partiu para o corpo-a-corpo em Porto Alegre. De terno e gravata, Temer foi ao Mercado Público, localizado no Centro Histórico (e um dos pontos de maior circulação diária de pessoas na capital gaúcha), onde fez uma espécie de tour gastronômico.
O vice começou pelo tradicional cafezinho. Depois comprou charque “para o almoço de domingo”, beliscou um prato de frios, tomou chimarrão e ainda experimentou salada de frutas e sorvete. Ganhou cuia e erva-mate, fez dezenas de fotos, recebeu reivindicações de representantes da Associação dos Permissionários do Mercado Público e conversou com donos de bancas e eleitores. Ouviu pacientemente quando o aposentado Lair de Paula o abordou e disparou. “O PMDB é o maior partido do Brasil e não tem candidato a presidente porque não tem unidade.” “Estamos trabalhando para isso”, rebateu Temer. E seguiu em frente.
A segunda parte da nova estratégia foi aplicada durante a entrevista coletiva, também no Mercado. Questionado sobre o empate técnico entre Dilma e Marina e se as agendas de rua se tornarão uma constante da campanha, Temer primeiro disse que o crescimento de Marina não surpreendeu. “Para nós não foi nenhuma surpresa. Em abril o Datafolha havia incluído o nome da Marina em uma pesquisa e ela aparecia com 27%. Agora são os 27% e mais 2 de emoção”, respondeu. Em seguida, o peemedebista disse que sim, as agendas de rua vão aumentar. “Mas elas vão se intensificar em função da proximidade da eleição, já estava previsto”, ressalvou.
Ataque
Após minimizar tanto o desempenho da adversária como a reação da própria aliança, Temer lançou a artilharia pesada. “Queria apenas destacar que precisamos ter muito cuidado com essas pregações de governar com pessoas e não com instituições. Levamos muito tempo para consolidar as instituições no País. O mundo é cheio de exemplos de pessoas que tentaram governar por conta própria. Isso é extremamente perigoso”. A argumentação foi repetida em outro momento, quando o vice discursou para lideranças regionais. “As pessoas não podem ser colocadas acima dos partidos. A ideia do personalismo gera situações drásticas. Aparentemente é uma tese nova, mas, na verdade, é a tese do autoritarismo”, afirmou Temer.
Encerrada a maratona no Mercado, o vice participou da inauguração-relâmpago do comitê Dilma/Temer na avenida Farrapos. Do comitê, seguiu a pé até o Ritter Hotel, onde foi organizado o encontro com lideranças locais. No caminho, passou por um trecho da rua Garibaldi conhecido por abrigar pontos de prostituição com funcionamento 24 horas. Prostitutas e cafetões pararam para olhar e sacaram seus celulares para fotografar. “É a primeira vez que passa um candidato aqui. Nunca eu tinha visto”, revela Edivânia, de seu ponto em frente a um sobrado de dois andares, sem numeração, na Garibaldi. “Em quem você vai votar, Edivânia?” O cafetão para de olhar a comitiva de Temer e faz um sinal para que Edivânia e outras duas garotas deixem de conversar. Mas ela responde: “eu? Eu voto na Dilma”.
A última agenda de Temer, o encontro no hotel, teve a participação de aproximadamente 300 peemedebistas, em sua maioria candidatos, prefeitos, vices e lideranças do partido vinculadas a causa municipalista, como os presidentes da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, e da Federação das Associações de Municípios do RS (Famurs), Seger Menegaz. Integrante do chamado “PMDB autêntico”, o ex-ministro Odacir Klein abriu o voto. Afastado da vida pública e ligado ao agronegócio, Klein parodiou Chico Buarque. “Eu estava à toa na vida e o Michel me chamou, mas não foi para ver a banda passar, foi para tocar um instrumento”.
O encontro, que ao final teve fila de candidatos para tirar fotos com Temer, foi uma demonstração de força da ala do partido que no Rio Grande do Sul está alinhada à Dilma e é encabeçada pelo deputado federal Eliseu Padilha. A ela se contrapõe a ala do senador Pedro Simon e seus apoiadores, como o candidato ao governo do Estado, José Ivo Sartori. Na eleição estadual, o PMDB está aliado ao PSB. Simon e Sartori estão engajados na campanha de Marina à presidência e ganharam pontos na disputa interna após o senador, na semana passada, ter sido o escolhido para ocupar na chapa estadual o lugar que antes era de Beto Albuquerque (PSB).
“Vou repetir aqui o que eu disse na reunião de terça-feira à noite no comitê central da campanha”, afirmou Padilha. “Eu disse que, sem infantaria, não tem guerra. Não se ganha eleição sem política e sem militância política. Nós temos força política, militância, plano de governo e candidato. O que nos falta é trabalho. Porque estava todo mundo em casa de braço cruzado achando que a eleição estava ganha”.
Enquanto Temer cumpria agenda no Rio Grande do Sul, Simon estava em São Paulo para participar do lançamento do programa do governo PSB/Rede ao lado de Marina. Sartori, por sua vez, recepcionou o vice-presidente no Aeroporto Internacional Salgado Filho, mas não participou de nenhuma das agendas dele em Porto Alegre.