O embate pela Prefeitura de São Paulo antecipará a disputa pela eleição presidencial de 2022. O bolsonarismo ficou isolado na capital paulista e vai ter de apoiar Celso Russomanno para pelo menos ter quem faça a defesa do seu governo. Entre eles (Jair e Celso) ocorreu o efeito força da gravidade mútua: a Bolsonaro, que pretendia não se manifestar no primeiro turno, não resta alternativa a não ser declarar apoio ao candidato do Republicanos. Russomanno, por sua vez, depende fundamentalmente do prestígio de Bolsonaro para chegar ao segundo turno. Se repetir 2012 e 2016, quando disputou Prefeitura e não chegou ao segundo turno, o fracasso de Russomanno também será a derrota do bolsonarismo em São Paulo, o que infla as pretensões presidenciais de João Doria.
Com declarada pretensão presidencial desde que era prefeito entre 2017 e abril de 2018, o governador João Doria aposta na reeleição de Bruno Covas. O atual prefeito, que trata sua candidatura como uma frente antibolsonarista, conta com o apoio de nove partidos e cerca da metade de todo o tempo do horário eleitoral gratuito, o que pode ser crucial numa disputa em tempos de pandemia e de isolamento social que reduzem drasticamente as campanhas de rua.
Outros projetos presidenciais também passam pelas eleições paulistanas. A aliança PSB-PDT aposta na candidatura Márcio França para ampliar a presença de Ciro Gomes em São Paulo em 2022. Por isso, a propalada aproximação de França com o bolsonarismo não parece ser algo viável. O PT corre o risco de ter seu pior desempenho e ficar fora do segundo turno, algo que nunca ocorreu entre a eleição de Erundina e a eleição de Haddad em 2012. Em função disso, um grupo de petistas históricos migrou para o apoio da chapa Boulos/Erundina do PSOL, que cresce num vácuo político da esquerda que os petistas parecem que não conseguem mais ocupar.
* PROFESSOR E COORDENADOR DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DA FGV EAESP