A Justiça de São Paulo suspendeu o perfil de Pablo Marçal (PRTB) após o autodenominado ex-coach ter divulgado um laudo falso contra Guilherme Boulos (PSOL). O perfil do candidato saiu do ar na tarde deste sábado, 5. A previsão, segundo decisão do juiz eleitoral Rodrigo Capez, do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, é de que a conta fique ao menos 48 horas fora do ar.
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Sendo assim, o candidato ficará sem acesso à sua rede social durante o 1º turno da eleição pela Prefeitura de São Paulo, que acontece neste domingo, 6.
O juiz pontuou que a conta estava sendo utilizada para a "divulgação de fatos infamantes e inverídicos", com o "nítido propósito de interferir no ânimo do eleitor e no pleito eleitoral."
Na manhã deste sábado, a Justiça Eleitoral já havia concedido uma liminar determinando a exclusão de publicações que faziam referência ao documento.
A decisão, que o Terra teve acesso, foi tomada a partir de uma notícia-crime apresentada por Boulos contra Marçal e Luiz Teixeira da Silva Junior, dono da clínica que emitiu o laudo em questão. No documento, Boulos pediu pela prisão preventiva de Marçal, mas o juiz negou. Entre os argumentos citados, há o Código Eleitoral, que garante que até o dia 8 de outubro nenhum candidato seja detido ou preso, exceto em caso de flagrante delito.
Ao decretar a suspensão do perfil, o juiz evidenciou que tratam-se de “fatos concretamente graves, perpetrados às vésperas do pleito eleitoral, em tese, com o nítido propósito de interferir no ânimo do eleitor, mediante divulgação, em rede social, com extensa repercussão, de documento médico falso, que atestaria, de modo igualmente falso, que o representante, candidato a Prefeito de São Paulo, seria dependente químico de cocaína e estaria em ‘surto psicótico grave, em delírio persecutório e ideias homicidas’”.
A partir de agora, caso Marçal utilize outra conta com a mesma finalidade, também terá o perfil derrubado.
E isso aconteceu. Cerca de uma hora após sua conta cair, Marçal criou um novo perfil e transmitiu uma live para conversar com seus eleitores no meio do evento 'corrida pelo povo', seu último ato político. Ele citou o laudo falso dizendo que só o compartilhou, mas não comentou sobre o conteúdo do documento. Mais cedo, para a imprensa, ele fez uma declaração na mesma linha: "Não fiz o laudo, eu só publiquei".
Na live, em resposta à suspensão de seu perfil, Marçal chamou a decisão de censura e proferiu xingamentos a Boulos. No momento, entre os membros de sua equipe, ele estava acompanhado de Nahuel Medina, assessor que deu um soco no marqueteiro de Ricardo Nunes (MDB), Duda Lima, nos bastidores do debate transmitido pelo Flow News.
Marçal seguiu postando "recortes" na rede sociail até que, poucas horas após a criação do perfil, ele também foi derrubado. Em nota, a assessoria de Marçal disse que a medida "visa silenciar o candidato e impedir que suas propostas cheguem aos eleitores". Ao Terra, foi confirmado que o candidato não criou, nem tentará iniciar, outra conta. Essa era a terceira conta do candidato.
Entenda o caso
Ao longo da corrida eleitoral, Pablo Marçal tentou diversas vezes, sempre sem apresentar provas, vincular o candidato Guilherme Boulos ao uso de drogas. Marçal dizia ter um teste toxicologico que encurralaria Boulos, mas nunca o apresentou. Por conta dessas ameaças, Boulos fez um exame do tipo e o mostrou no último debate eleitoral transmitido pela Rede Globo.
Até que, por volta de 23 horas de sexta-feira, 4, Marçal divulgou nas redes sociais a imagem de um suposto laudo médico afirmando que Guilherme Boulos teria dado entrada em uma clínica em surto psicótico e teria testado positivo para cocaína no sangue em 2021. O Instituto de Criminalística da Polícia Civil avaliou confirmou se tratar de um laudo falso.
A assinatura do laudo é do médico José Roberto de Souza, que já morreu. Segundo uma ex-funcionária e a filha dele, a assinatura é falsa.
Em entrevista à TV Globo neste sábado, 5, a oftalmologista Aline Garcia Souza contou que o pai atendia apenas na região de Campinas (SP) e sua especialidade era hematologia. Ele nunca trabalhou na capital paulista, e nunca emitiria um laudo psiquiátrico, como o que foi divulgado por Marçal.
Na data que aparece no documento publicado por Marçal, José Roberto de Souza estava debilitado, não atendia mais pacientes e estava em Campinas, segundo a filha. O pai dela morreu em 2022 após lutar contra uma doença rara. Outro filho do médico disse que nesta época, ele ficou "completamente recluso".
Aline mostrou, inclusive, que tem uma tatuagem com a assinatura verdadeira do pai, que fez após a morte dele. A assinatura é diferente da que aparece no documento publicado nas redes de Marçal.
O documento também conta com outros dados errados, como é o caso do RG que seria de Boulos. O documento oficial de Boulos tem 8 números, não 10 como consta no receituário médico.
Ainda na noite de sexta, após a publicação de Marçal, Boulos frisou em suas redes sociais se tratar de um documento falsificado. "Falso e criminoso. E ele responderá e arcará com as consequências em todas as instâncias da Justiça – eleitoral, cível e criminal. Uma atitude inaceitável de quem prova não ter limites em sua capacidade de mentir", escreveu o psolista.