Candidato derrotado no primeiro turno das eleições pela Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB) negou apoio ao prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), e avaliou que Guilherme Boulos (PSOL) deve se tornar o próximo prefeito da cidade.
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Para Marçal, sua derrota não foi por conta do laudo falso sobre Boulos que ele publicou nas redes sociais nas vésperas da eleição. Mas, sim, por culpa do que chamou de “campo de energia”. As declarações foram dadas na noite desta terça-feira, 8, em conversa com jornalistas antes do evento “A convocação”, em Alphaville, na Grande São Paulo.
“Nós não fomos para o segundo turno, não foi por causa de laudo, não. A gente não foi para o segundo turno porque o campo de energia que eu precisava chegar, que era 21 ondas, eu não consegui bater. A gente chegou em 18 e não conseguimos entrar em outra onda. E é assim que funciona”, disse. O discurso se alinha aos de ‘mindset da prosperidade’ que permeiam a carreira do autodenominado ex-coach -- e que também se fizeram presentes em suas propostas ao longo da corrida eleitoral.
Mais cedo, a assessoria de imprensa de Marçal divulgou que ele faria um anúncio de apoio em relação ao segundo turno das eleições. O anúncio, porém, foi de não apoio a Ricardo Nunes, como se especulava.
Ele prevê que “vai acontecer um probleminha”. “Eu não indo pra lado nenhum e liberando o eleitorado, o que eu acho que é justo, 45% dos meus votos, certamente, o Lula vai, com humildade, tomar de volta”, disse, insinuando uma possível vitória de Boulos. Segundo ele, em afirmação feita com base na distribuição de votos que recebeu pelas regiões de São Paulo, quase metade de seus apoiadores não foram eleitores de direita.
Mas Marçal ainda pode mudar de opinião. Para repensar seu apoio a Nunes, Marçal elenca uma longa lista de pessoas que terão que se desculpar e se retratar publicamente pela forma que o trataram e desmentir supostas acusações. Ele cita o ex-presidente Jair Bolsonaro, Ricardo Nunes e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. A lista também se estendeu a Eduardo Bolsonaro e Silas Malafaia. E, segundo ele, as desculpas terão que ser formais: “Não vou aceitar pelo telefone”.
Esse foi o primeiro turno mais acirrado da história de São Paulo. Pablo Marçal não superou Boulos por menos de 1%. Com eles e Nunes disputando voto a voto, o resultado para o segundo turno se deu apenas com 99,52% das urnas apuradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por volta de 21h do domingo, 6.
Com relação aos outros candidatos, Tabata Amaral (PSB) declarou apoio a Boulos – e o psolista, inclusive, tendo em vista os 605.552 votos que ela recebeu, anunciou que integrará três propostas dela à sua campanha. Já Datena (PSDB), que foi o quinto mais votado, com mais de 112 mil votos, não declarou apoio a ninguém. Por fim, Marina Helena (Novo), se aliou a Ricardo Nunes. Ela foi a sexta mais votada, com cerca de 84 mil votos.
‘Amadureci’
O influenciador declarou que não pretende disputar novamente a Prefeitura de São Paulo. Mas disse que, em 2026, irá concorrer a um cargo no Executivo – no governo estadual ou na Presidência. Quando esse futuro chegar, Marçal afirmou que não irá mais atacar adversários: “Amadureci muito nessa campanha”. “Não tem necessidade. Já mostrei pra todo mundo meu pior, meu melhor”, complementou.
Por mais que lamente não ter sido eleito, Marçal frisou que não irá desistir “nunca do Brasil, nem do brasileiro” e disse estar muito feliz pelos mais de 1,7 milhão de votos que recebeu.
Mesmo assim, ele não deve deixar de atuar, mesmo que indiretamente, na próxima eleição paulistana. Isso porque ele “lançou” Felipe Sabará para o cargo. “Vou ajudar a construir a imagem dele”, afirmou. Sabará coordenou o plano de governo de Marçal e, em 2020, já tentou concorrer à Prefeitura de São Paulo. Na época, ele foi expulso do partido Novo por inconsistências em seu currículo.
Laudo falso
Sobre o laudo falso, Marçal diz que sua equipe publicou o material “na maior boa fé do mundo”, que ele não tinha visto o material antes e que, inclusive, o dono da clínica teria dito a ele que não o processaria porque “não viu nada de doloso” por sua parte.
“Agora, sobre falsificação, sobre qualquer coisa, isso não diz respeito à minha pessoa. Eu não sou perito e de fato quero que todo mundo que esteja envolvido nisso seja responsabilizado”, disse.
Ao longo da corrida eleitoral, Marçal tentou diversas vezes, sempre sem apresentar provas, vincular Boulos ao uso de drogas. Marçal dizia ter um teste toxicológico que encurralaria Boulos, mas nunca o apresentou. Por conta dessas ameaças, Boulos fez um exame do tipo e o mostrou no último debate eleitoral transmitido pela Rede Globo.
Até que, por volta de 23h de sexta-feira, 4, Marçal divulgou nas redes sociais a imagem desse suposto laudo médico afirmando que Boulos teria dado entrada em uma clínica em surto psicótico e teria testado positivo para cocaína no sangue em 2021. O Instituto de Criminalística da Polícia Civil confirmou se tratar de um laudo falso, assim como a Polícia Federal.
A assinatura do laudo é do médico José Roberto de Souza, que já morreu. Segundo uma ex-funcionária e a filha dele, a assinatura é falsa. Na data que aparece no documento publicado por Marçal, José Roberto de Souza estava debilitado, não atendia mais pacientes e estava em Campinas, segundo a filha. O pai dela morreu em 2022 após lutar contra uma doença rara. Ela também tem uma tatuagem com a assinatura verdadeira do pai, que fez após a morte dele. A assinatura é diferente da que aparece no documento publicado nas redes de Marçal.