O prefeito Ricardo Nunes (MDB) ironizou o slogan "faz o M" adotado por Pablo Marçal (PRTB), com quem disputa os votos de eleitores da direita bolsonarista na eleição para São Paulo, e minimizou o elogio de Jair Bolsonaro (PL) ao influenciador, assim como a cobrança feita por Eduardo Bolsonaro (PL). O filho '03' do ex-presidente pediu que o emedebista seja mais enfático na defesa de pautas caras ao bolsonarismo.
"Não tem outro 'M' para a cidade a não ser o 'M' de verdade", disse Nunes na manhã desta sexta-feira, 16, após uma missa na Catedral de Santo Amaro, na zona sul, que marcou o início oficial de sua campanha. Durante a missa, o prefeito foi elogiado pelo bispo da Diocese de Santo Amaro, Dom José Negri.
Bolsonaro disse em uma entrevista na quinta-feira, 15, que Nunes não é seu "candidato dos sonhos", embora tenha compromisso de apoiá-lo, e emendou um elogio a Marçal. "Lá tem a figura nova do Pablo Marçal, fala muito bem, uma pessoa inteligente, tem suas virtudes. Não tem experiência, mas faz parte", disse Bolsonaro em entrevista à rádio 96 FM de Natal (RN).
Questionado sobre a declaração do ex-presidente, Nunes voltou a criticar o candidato do PRTB. "A gente não está vivendo de sonho, estamos vivendo de realidade. Vender sonho é para outro candidato. A gente quer falar de realidade e de coisas importantes para a cidade", declarou o prefeito.
Ele negou "esconder" Bolsonaro em sua campanha, lembrou a presença do ex-presidente na convenção que confirmou sua candidatura e ressaltou que também é apoiado pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), principal aliado do ex-chefe do Executivo.
'Falsa direita'
Em outro momento da entrevista, Nunes fez menção à expedição de dezenas de pessoas lideradas por Marçal para chegar ao topo do Pico dos Marins, no interior de São Paulo, em 2022. O grupo teve que ser resgatado pelo Corpo de Bombeiros. "A gente está falando de uma ação da vida real, que é cuidar das pessoas. Isso aqui não é o Pico dos Marins, isso aqui não é uma aventura onde você não consegue cuidar de 60 pessoas", disse o prefeito.
Aliados de Nunes reconhecem que Marçal terá uma parcela significativa de votos entre os eleitores de Jair Bolsonaro mesmo sem o apoio oficial do ex-presidente e por isso atuam para reduzir danos de forma que o influenciador não cresça nas pesquisas eleitorais. O ex-coach tem repetido que o prefeito representa a "falsa direita".
Nunes chegou à igreja acompanhado da primeira-dama, Regina Carnovale. O bolsonarista Mello Araújo, coronel da reserva indicado por Bolsonaro como seu vice, o aguardava no local.
"Desculpe falar isso, mas a escolha de vocês foi perfeita, porque você está começando no passo certo, está pedindo a Deus. Essa é a coisa mais importante. E não é para misturar política ou religião, mas nós temos que dar graças a Deus pelos governantes que nós temos hoje aqui", disse dom José Negri durante a missa.
O religioso relatou que Nunes o chama de "meu bispo" quando o encontra. "Hoje posso dizer que você é o meu prefeito", disse o religioso.
A escolha de uma igreja é simbólica porque há quatro anos Bruno Covas, ex-prefeito tucano morto vítima de um câncer em 2021 e de quem Nunes herdou o cargo, iniciou sua campanha da mesma forma. Uma das estratégias do prefeito é enfatizar que um eventual segundo mandato será uma continuidade da gestão iniciada pelo tucano.
Covas era crítico ao bolsonarismo e foi atacado pelo ex-presidente durante a pandemia. "O outro, que morreu, fecha São Paulo e vai ver Palmeiras e Santos no Maracanã", disse o então presidente da República em 2021. Em entrevista ao Estadão/Broadcast na quinta-feira, Nunes disse que Bolsonaro errou ao fazer a declaração.
Crise com os bolsonaristas
Ricardo Nunes tem enfrentado críticas dos bolsonaristas nos últimos dias após gravar um vídeo de apoio à candidata a vereadora Joice Hasselmann (Podemos). Na gravação ele convida os eleitores a conhecer as redes sociais e o trabalho desempenhado pela candidata.
O deputado Eduardo Bolsonaro, filho '03' do ex-presidente, declarou que é "inacreditável como Nunes cava a própria sepultura ao apoiar a maior traidora do bolsonarismo". Hasselmann foi eleita deputada federal em 2018 com o apoio de Bolsonaro, mas rompeu com o clã no ano seguinte.
"Ele tem o apoio do PL, mas falha nos acenos, nessa tentativa de se posicionar ao centro. É nesse vácuo que Pablo Marçal tem crescido, por se alinhar com o eleitorado fiel aos nossos valores", afirmou Eduardo ao jornal O Globo.