Desde o fim da ditadura militar brasileira, em 1985, a cidade de São Paulo teve 11 prefeitos diferentes e nenhuma reeleição, no sentido literal da palavra. Apenas dois mandatários conseguiram ocupar uma segunda vez o posto de prefeito da capital paulista: Gilberto Kassab (PSD) e Bruno Covas (PSDB). Ainda assim, eles não teriam sido propriamente reeleitos, por terem assumido o posto como vices em seus respectivos primeiros mandatos.
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“São Paulo nunca reelegeu um prefeito de mandato, ou seja, um que tenha sido eleito e depois reeleito. Geralmente, os reeleitos pegaram o tampão e aí foram eleitos na sequência, mas nunca teve essa recondução na cidade de São Paulo”, resume o cientista político Elias Tavares.
O cenário paulistano pode ser considerado atípico. O Terra analisou a lista de prefeitos das cinco capitais com maior número de eleitores do Brasil, e em todas há casos de reeleição. Além disso, o entra e sai de agentes políticos é menos comum do que na capital paulista.
No Rio de Janeiro (RJ), dois candidatos foram eleitos e reeleitos - e, este ano, ao que tudo indica, Eduardo Paes (PSB) deve ir para a sua segunda reeleição, entrando em seu quarto mandato. Em Belo Horizonte (MG) e Salvador (BA), houve três reeleições. Na capital baiana, inclusive, desde 1996 todos os prefeitos são eleitos e reeleitos. Por fim, Fortaleza (CE) aparece com dois mandatários que foram eleitos e reeleitos.
Alguns fatores podem estar por trás desse fenômeno que acontece em São Paulo, e o principal seria o vínculo da maior cidade do Brasil com o êxito nas eleições nacionais, referentes aos cargos a nível estadual e federal.
“A prefeitura de São Paulo é um trampolim”, resume Tavares. “O prefeito é meio governador e ele é meio presidente. Então existe muito essa provocação para fazer com que o prefeito de São Paulo seja candidato na eleição seguinte”, afirma.
Ele cita como exemplo José Serra (PSDB) que deixou o cargo em seu primeiro mandato, em 2006, para disputar e ganhar a eleição para governador; e João Doria (PSDB) que repetiu o feito 12 anos depois.
O cientista político também traça uma ligação com o cenário atual, em que o candidato Pablo Marçal (PRTB), enquanto estava à frente nas pesquisas pela prefeitura, afirmava que seria candidato à Presidência em 2026.
A capital paulista é de direita ou esquerda?
Enquanto em algumas cidades, os mesmos partidos estão sempre ocupando o posto de prefeito, em São Paulo é perceptível maior alternância. Não é possível definir o eleitorado da maior cidade da América Latina de forma uniforme, como de direita ou de esquerda. Costuma haver uma disputa entre esses dois polos e os candidatos que conseguem puxar os eleitores de centro levam a melhor.
No quesito reeleição, os únicos que se elegeram novamente, Kassab e Covas, eram de partidos de direita. Já na esquerda, tanto Marta Suplicy e Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), não interromperam seus mandatos em busca de novas posições na política, e, ainda assim, não foram reeleitos.
Para o cientista político Francisco Fonseca, professor pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) e Fundação Getúlio Vargas (FGV), candidatos de esquerda têm ainda mais dificuldade em se reeleger em São Paulo por dois fatores: a influência do cenário polarizado da política nacional nas eleições municipais e por sofrerem com a oposição do empresariado.
“As eleições em São Paulo não são tão comparáveis a qualquer outro município. Também pela grandeza, complexidade e desigualdade que a cidade de São Paulo expressa, tem realmente particularidade. Agora, acho que um ponto que sempre chama atenção é que, de fato, governos muito bem avaliados não necessariamente conseguem se reeleger”, afirma ao Terra.
Fonseca reforça que é como se a capital estivesse dividida entre 30% eleitores progressistas, 30% conservadores e o restante de centro, disponíveis para serem cooptados pelo candidato do momento que mais se aproximarem de suas ideias. Esse “terço final”, para o cientista político, é o definidor das eleições em São Paulo.
Elias Tavares tem uma opinião similar. Ele frisa que o PT sempre esteve nas disputas, mesmo quando não houve segundo turno, no caso da eleição de João Doria em 2016. “Você sempre teve os dois lados [direita e esquerda] ali. Por isso, eu cravaria que o Guilherme Boulos [PSOL] já está garantido no segundo turno”, diz.
Os especialistas preferem não criar relação entre o histórico de não reeleição da cidade de São Paulo com as chances de Ricardo Nunes (MDB) ser eleito para continuar no cargo.
Caso Nunes vença as eleições municipais de 2024, aliás, ele vai se encaixar exatamente no caso dos dois únicos políticos que se mantiveram por dois mandatos na cidade: Nunes se tornou prefeito de São Paulo em 2021, após a morte de seu antecessor, Bruno Covas, que, por sua vez, assumiu após a renúncia de João Doria para disputar o governo do Estado em 2018.
Veja a lista de prefeitos paulistanos eleitos por voto direto
- Jânio Quadros (PTB), de janeiro de 1986 a dezembro de 1988;
- Luiza Erundina (PT), de janeiro de 1989 a dezembro de 1992;
- Paulo Maluf (PPB), de janeiro de 1993 a dezembro de 1996;
- Celso Pitta (PPB), de janeiro de 1997 a dezembro de 2000;
- Marta Suplicy (PT), de janeiro de 2001 a dezembro de 2004;
- José Serra (PSDB), de janeiro de 2005 a março de 2006;
- Gilberto Kassab (PFL; DEM; PSD), de março de 2006 a dezembro de 2012;
- Fernando Haddad (PT), de janeiro de 2013 a dezembro de 2016;
- João Doria (PSDB), de janeiro de 2017 a abril de 2018;
- Bruno Covas (PSDB), de abril de 2018 a maio de 2021;
- Ricardo Nunes (MDB), de maio de 2021 até o momento.