São Paulo escolhe novo prefeito após campanha polêmica com disputa acirrada e agressões

Mais de 9 milhões de eleitores estão aptos para votar na capital; primeiro turno foi o mais apertado desde a redemocratização

27 out 2024 - 00h01
(atualizado às 00h56)
Da carteirada à cadeirada: veja 5 momentos marcantes da campanha à prefeitura de São Paulo
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O eleitorado de São Paulo vai às urnas neste domingo, 27, para escolher quem vai comandar a maior cidade da América Latina pelos próximos quatro anos. O atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado Guilherme Boulos (PSOL) disputam o voto dos mais de 9 milhões de eleitores aptos para votar nas 2.061 locais de votação na capital paulista.

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Após o primeiro turno mais acirrado desde a redemocratização, com direito a soco na cara de marqueteiro de campanha, cadeirada em candidato, laudo falso e muitos xingamentos, Nunes e Boulos foram ao segundo turno com uma diferença de apenas 25.012 votos um do outro. Relembre abaixo alguns dos momentos que marcaram a campanha eleitoral.

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  • 'Cadeira nele'
Vídeo: assista ao momento em que Datena bate em Marçal durante debate da TV Cultura
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José Luiz Datena (PSDB) protagonizou um dos momentos mais bizarros e absurdos da campanha eleitoral ao arremessar uma cadeira, na verdade, uma banqueta, sobre Pablo Marçal (PRTB).

A cadeirada ou banquetada, como preferir, ocorreu após Datena cansar dos ataques do ex-coach durante o debate de 15 de setembro, organizado pela TV Cultura. Na ocasião, Marçal chamou Datena de assediador, referindo-se a um processo de assédio sexual de 2019, movido por uma ex-jornalista do programa Brasil Urgente, da Band, contra o âncora. O caso foi arquivado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) e o comunicador inocentado.

Datena chamou a tática de Marçal de "jogo sujo". Os dois discutiam até que o ex-coach chamou o apresentador de "arregão".  

"Você não respondeu à pergunta. A gente quer saber. Você é um arregão. Você atravessou o debate esses dias para me dar tapa e falou que você queria ter feito. Você não é homem nem para fazer isso. Você não é homem", disse Marçal.

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Datena, então, foi até Marçal e o agrediu com uma banquetada. Leão Serva, mediador do debate, interrompeu o programa, e Datena acabou expulso.

Marçal aproveitou o caso para transformar a situação em uma grande exposição com direito a gravação dentro ambulância e utilização de máscara de oxigênio, que, na verdade, estava desligada. Perto do fim da campanha, o inlfuenciador reconheceu que tudo não passou de 'cena', ainda que tenha afirmado que isso fazia parte de sua estratégia para 'viralizar'.

  • O laudo falso de Marçal
Marçal cometeu ao menos 4 crimes ao divulgar laudo médico falso, diz advogado criminalista
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Pablo Marçal (PRTB) conseguiu catapultar o seu nome para todo o Brasil ao terminar em terceiro lugar a disputa, rachando a própria direita brasileira, já que foi jogado para escanteio pelo próprio Jair Bolsonaro (PL), que apoiou timidamente Ricardo Nunes (MDB).

As estratégias do ex-coach, no entanto, podem ser bastante questionáveis no campo ético e até mesmo criminal. Na véspera do primeiro turno, Marçal publicou um laudo falso acusando o adversário Guilherme Boulos de ser usuário de drogas, com direito à assinatura forjada do médico José Roberto de Souza, morto em 2022. O documento foi emitido pela clínica Mais Consultas, local em que Souza não trabalhou e cujo dono é Luiz Teixeira da Silva Junior, amigo de Marçal e que já foi condenado por falsificar diploma de curso de medicina.

O documento teve a sua fraudulência atestada pela Polícia Científica de São Paulo. Além da assinatura falsificada do médico Jose Roberto Souza, o laudo ainda tinha outros erros grosseiros, como: erros ortográficos e o número de RG de Boulos com um dígito a mais.

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  • Soco na cara
Assessor de Ricardo Nunes é agredido com soco ao final de debate
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Em busca de protagonismo, Marçal transformou a campanha eleitoral em uma mistura de circo e caso de polícia. Após o debate organizado pelo Grupo Flow, em 23 de setembro, o videomaker do ex-coach, Nahuel Medina, deu um soco na cara de Duda Lima, marqueteiro de Nunes. A agressão deixou o integrante da equipe do atual prefeito ensanguentado e com um deslocamento de retina. 

Medina afirmou que apenas se “defendeu instintivamente” de uma agressão do marqueteiro.  Lima negou a agressão. O caso foi parar no 16º Distrito Policial. O marqueteiro de Nunes também conseguiu, em 27 de setembro, uma medida protetiva contra Nahuel Medina.

"Nunca vi nada igual na minha vida, tenho bastante experiência. [...] A impressão que dá é que estamos lidando com bicho", disse Duda Lima ao Blog de Andreia Sadi, após a agressão.

  • Bolsonaro e Lula ofuscados
Tarcisio, Bolsonaro e Nunes durante campanha em São Paulo
Tarcisio, Bolsonaro e Nunes durante campanha em São Paulo
Foto: Werther Santana / Estadão

O duelo pela Prefeitura de São Paulo indicava um confronto de forças entre os candidatos apoiados por dois grandes padrinhos políticos do Brasil: Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na prática, o apoio do ex-presidente ao atual prefeito foi pra lá de tímido. Bolsonaro, que chegou a dizer que Nunes não era o candidato dos seus sonhos, participou de uma única agenda ao lado do emedebista e já na reta final do segundo turno.

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O grande padrinho de Nunes foi, na verdade, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), fundamental também na gestão de crise do apagão provocado pelo temporal de 11 de outubro, que deixou mais de 2 milhões de paulistanos sem energia elétrica, muitos por até seis dias.

Guilherme Boulos recebeu o presidente Lula em ato de campanha na véspera do primeiro turno da eleição municipal em São Paulo
Foto: Fabio Vieira/FotoRua/NurPhoto via Getty Images

Lula foi um dos grandes protagonistas da campanha de Boulos no primeiro turno. Mas foi uma ausência sentida na reta final. Duas caminhadas que contariam com a presença do Presidente da República foram canceladas devido às chuvas. A expectativa era de uma maior participação do petista na última semana de campanha, mas após o acidente doméstico sofrido por Lula, que o deixou em recuperação em Brasília, Boulos contou apenas com o apoio virtual do 'padrinho'.

  • Recorde de debates

A eleição de São Paulo bateu outro recorde, o de número de debates. Somente no primeiro turno foram 11 encontros. No segundo turno, o número foi um pouco menor porque Ricardo Nunes evitou participar de confrontos diretos com Boulos --esteve presente em apenas 3 embates contra o psolista. O emedebista recusou ao menos 6 convites.

Diferente do 1º turno, o clima de cordialidade marcou os encontros entre os adversário na reta final. Um momento inusitado foi registrado durante o debate da Band, realizado no dia 14 de outubro. Boulos e Nunes se abraçaram durante um dos embates no evento. A cena ganhou repercussão e circulou em diversas postagens nas redes sociais.

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  • Carteirada e exorcismo: a CLT como objeto de escárnio
Pablo Marçal mostra carteira de trabalho a Boulos em debate e deputado reage dando um tapa; veja vídeo
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O debate promovido pelo Terra, logo no começo da campanha em 14 de agosto, em parceira com a Faap e com o jornal O Estado de S. Paulo, mostrou como seria o tom da campanha quando Pablo Marçal tirou uma carteira de trabalho e a levantou contra Guilherme Boulos, após uma troca de farpas.

"Você é o Padre Kelmon dessa eleição. Você veio para tumultuar”, disse Boulos. O candidato do PRTB então tirou a carteira de trabalho do interior do paletó e disparou: Se eu sou o Padre Kelmon, eu vou exorcizar o demônio com uma carteira de trabalho.”

“Eu sou professor. Não sou coach. Não ganho dinheiro enganando as pessoas na internet”, respondeu o psolista. Os dois deixaram o púlpito e sentaram lado a lado, mas Marçal manteve o documento erguido, na frente de Boulos, que respondeu com um tapa na carteira de trabalho.

  • Apagão da Enel
Apagão em SP: Nunes volta a criticar Enel; Boulos mostra casa sem luz pelo 3º dia seguido
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A primeira semana de campanha para o segundo turno corria bem para Ricardo Nunes até que, no meio do caminho não havia uma pedra, mas sim um temporal com ventania que deixou mais de 2 milhões de moradores da capital paulista sem luz. A campanha, que já comemorava a transferência de votos dos eleitores de Marçal (3º colocado nas urnas) para o atual prefeito, colocou o pé no freio e partiu para a blindagem. Nunes cancelou os compromissos de campanha para focar nas "ações de zeladoria na cidade".

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O prefeito minimizou a responsabilidade da Prefeitura no apagão, que, segundo ele, "não tem nenhuma relação com o serviço de podas de árvores", e atacou a empresa italiana e o governo federal.

Nunes só retomou a agenda eleitoral no dia 17 de outubro, quando a energia já havia sido reestabelecida na maior parte das residências. Ele também passou a defender uma intervenção na concessionária. O apagão virou tema de ambas as campanhas, com troca de acusações dos dois lados. 

A campanha emedebista jogou a culpa para o governo federal, para a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), responsável pela concessão. Já o psolista apostou na "má gestão de Nunes" nas podas de árvores e reforçou que o atual presidente da Aneel, Sandoval Feitosa, foi escolhido por Bolsonaro para o cargo.

  • Sabatina e Racha na direita?
‘Eu apertaria 50’, afirma Boulos ao ser questionado se votaria em Nunes ou Marçal
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A ascensão de Pablo Marçal na disputa pela Prefeitura de São Paulo o deixou em evidência no cenário político nacional. O terceiro colocado no primeiro turno, com 28,14% dos votos válidos, dividiu a direita paulistana mesmo sem o apoio de Jair Bolsonaro (PL).

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O ex-coach, que se posiciona como defensor dos "valores cristãos" e do empreendedorismo, conquistou parte do eleitorado antes 'unificado' sob Bolsonaro.

O ex-presidente chegou a dar sinais positivos sobre a candidatura de Marçal, mas com o apoio consolidado a Nunes, ele tentou se afastar do candidato do PRTB. Por sua vez, o influenciador tentou mostrar aproximação de Bolsonaro nas redes sociais. Em uma publicação do ex-presidente, ele escreveu: "Pra cima, capitão. Como você disse: 'Eles vão sentir saudades de nós'.” O comentário não foi muito bem recebido. "Nós? Abraços", questionou Bolsonaro.

Marçal então rebateu, citando que havia feito doação para a campanha do ex-presidente. "Isso mesmo, presidente. Coloquei R$ 100 mil na sua campanha, te ajudei com os influenciadores, te ajudei no digital, fiz você gravar mais de 800 vídeos. Por te ajudar, entrei para a lista de investigados da PF. Se não existe o nós, seja mais claro", afirmou.

Live promovida pelo Pablo Marçal contou com a presença de Guilherme Boulos
Foto: Reprodução/Youtube/PabloMarçal

O ex-coach chegou a insinuar que Bolsonaro o apoiava e, segundo o ex-presidente, a situação gerou uma “dor de cabeça enorme”. Ao ser perguntado se pediria desculpas públicas a Marçal, como solicitado por ele, Bolsonaro apenas riu.

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“Eu fiquei sabendo que ele teria colaborado com pouco mais de R$ 100 mil na [minha] campanha. Eu fiquei sabendo quando ele falou isso aí. Se eu faço uma doação pra você, não vou querer cobrar nada de volta. Doação é do coração. Se ele fez pensando em algo lá na frente, fez errado”, começou Bolsonaro, explicando sua relação com Marçal.

"O pessoal da direita achou que eu estava apoiando ele. Mas não estava. Não é verdade. Então, lamentavelmente, isso aconteceu e depois foi uma dor de cabeça enorme pra gente mostrar que nosso candidato já era quem vinha dando certo [Nunes]”, finalizou. 

Marçal não anunciou apoio a nenhum dos candidatos ainda na disputa. Ele chegou a propor uma sabatina, entrevista de emprego, para Nunes e Boulos. Somente o segundo aceitou.  O tom da conversa entre os dois chamou a atenção do público, principalmente depois das inúmeras desavenças que aconteceram entre ambos durante a campanha no primeiro turno.

Fonte: Redação Terra
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