Separatista, neto de nordestina quer transformar SP em país

Paulista que propõe independência do Estado nega xenofobia e afirma que o resultado das eleições "deixou clara" a "divisão" existente no Brasil

30 out 2014 - 10h53
(atualizado às 12h24)
<p>Imagem de reprodução do site "São Paulo Livre"</p>
Imagem de reprodução do site "São Paulo Livre"
Foto: Reprodução

A eleição deixou o Brasil dividido. Provavelmente essa é uma frase que você ouviu muitas vezes nos últimos dias. Acontece que, o que para alguns é apenas mensagem clichê de Facebook, para outros é motivo real para se pensar na divisão física do País. Flávio Rebello faz parte deste grupo. Neto de pernambucana e filho de carioca, o paulista, eleitor de Aécio Neves (PSDB) no primeiro e no segundo turno, defende a transformação de São Paulo em um país independente. Para ele, sua terra natal é mais que um Estado, é “um modo de vida” ligado à “ética do trabalho”.

“A sociedade ficou separada, isso vai ter que ser encarado. Nessa eleição, houve um antagonismo grande entre os que apoiaram os dois candidatos. Foram duas propostas diferentes de futuro e ficou visível que parcela significativa da população ficou inclinada a determinada visão ligada à ética do trabalho e à ideia de que a corrupção não pode ficar impune”, disse, em entrevista ao Terra, fazendo referência à candidatura do tucano. “Se São Paulo fosse um país, Dilma Rousseff não seria eleita. É matemática. Se apenas os votos daqui contassem, ela não se elegeria. A proposta dela não se mostrou interessante por aqui”, completou.  

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O movimento encabeçado por ele, chamado de São Paulo Livre e divulgado por meio de um site, foi criado na semana passada, dias antes da votação, quando diversas manifestações de xenofobia se espalharam pelo Brasil. O independentista – nome que adota por considerar impróprio o termo “separatista” – nega, no entanto, defender qualquer tipo de preconceito. De acordo com ele, as pessoas que o criticam geralmente são aquelas “ligadas a movimentos sociais e partidos de esquerda”.  

“O preconceito é inadmissível de todas as partes. Tem quem ofende nordestinos, mas tem também quem diz que a ‘paulistada burra tem que morrer’. Tem ‘imbecil’ em todo lugar. Quem propõe ideias como as nossas automaticamente é considerado racista, xenófobo, nazista. Mas, pela minha família, fica claro que não posso ser chamado disso tudo. Acho curioso que normalmente são as pessoas ligadas a movimentos sociais e partidos de esquerda que apontam o dedo e chamam de ‘nazista’ quem é favorável à independência. Mas são elas que apoiam veementemente a divisão na Ucrânia, por exemplo”, citou.

Entre os argumentos usados pelo criador para defender o movimento, apoiado até o dia 29 de outubro por cerca de 100 pessoas, está a grande extensão do Brasil. Ele acredita que a região, se fosse menor, teria “mais dinheiro para investir em seu povo”, o que poderia torná-la um “polo desenvolvido” que serviria de “exemplo” para alavancar o crescimento de outros Estados brasileiros e de outros países da América Latina.

“São Paulo teria todas as condições para ser um país independente e gerar mais qualidade de vida para quem mora aqui. O sistema tributário atual está muito injusto. O povo paulista, que trabalha tanto, dá mais de R$ 200 bilhões para o governo federal todo ano em impostos. Deste dinheiro, só 20 bilhões voltam para cá como investimento. Mas, se você trabalhou para gerar tudo isso, porque tem que ter de volta tão pouco?”, questionou. “Isso ainda levaria prosperidade para o Brasil. Não daríamos as costas ao Brasil. O resto da América do Sul também poderia se beneficiar”, completou.

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Ele, que passou um período da juventude na Europa e atualmente é dono de uma escola de idiomas voltada para empresários, contou, por fim, que adora viajar pelo país – costuma ir para Salvador, Rio de Janeiro e Paraná, capitais onde seus primos moram.

“Tenho um carinho grande pelo Brasil. A questão é que amo São Paulo. Não tenho nada contra qualquer pessoa de outro Estado, só acho que coisas estão ruins para nós e ficariam melhores se seguíssemos um caminho independente. Mas não criaríamos muros. O fato de São Paulo vir a ser independente não me impediria de levar minhas filhas a um show da Ivete Sangalo – que, por sinal, eu adoro”.

A “separação” do Brasil

Em reportagem publicada no início desta semana, um estudioso entrevistado pelo Terra desmistificou a divisão entre “vermelho” e “azul” do Brasil. O historiador econômico Thomas Conti desenvolveu um mapa do País e das eleições conforme a realidade que, diferente da ideia compartilhada nas redes sociais, mostrou que estamos misturados em tons de roxo “esparramados” por todo o território nacional. 

Os mapas: à esquerda, um mapa que vem sendo compartilhado nas redes sociais e, à direita, o mapa produzido por Thomas Conti
Foto: Facebook/Thomas Conti / Reprodução

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Fonte: Terra
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