Nos últimos dias, o presidente da República, Jair Bolsonaro, ampliou as declarações que colocam em dúvida o resultado da eleição que acontece hoje. Ontem, Bolsonaro disse crer que não espera nada menos do que ter 60% dos votos dos brasileiros. Para dar força ao que diz, afirma que sente o clima nas ruas, nas redes sociais e que é vencedor de enquetes.
O presidente não é tolo. Sabe que existe a bolha que cerca todos nós. E que está falando de sua própria bolha. Mas é um sentimento partilhado por seus eleitores. Eles também passaram meses não só negando as pesquisas como desqualificando qualquer método científico utilizado pelos institutos. Todos os institutos, inclusive os que colocavam Bolsonaro à frente, fecharam a semana dando Lula na frente. O petista pode, segundo as pesquisas, levar a presidência ainda no primeiro turno. Mas é dúvida.
Dúvida, na verdade, é o que o movimento bolsonarista tenta criar na lisura das eleições. Para isso, o partido do presidente, o PL, gastou mais de R$ 200 mil para fazer um relatório colocando as urnas eletrônicas sob suspeição. O instituto contratado para isso foi criado há apenas dez meses. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chamou o relatório de mentiroso, criado para tumultuar as eleições. Exigiu também que o PL se explique sobre suposto uso de dinheiro público para financiar o relatório.
Em toda sua vida política, Bolsonaro se colocou com uma pessoa contra o sistema. Em 2018, esse discurso colou ante o avanço da antipetismo, diante da prisão de Lula e do impeachment de Dilma. Desta vez, é difícil para um presidente da República dizer que é contra o sistema. Como presidente, ele é a encarnação do sistema. Por isso, elegeu um adversário mais importante do que Lula. O adversário é o Supremo Tribunal Federal (STF) e, por conseguinte, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em sua live, o presidente esbraveja contra o presidente do TSE, Alexandre de Moraes. “Seja homem”, diz o presidente, que se coloca como uma figura perseguida pela Justiça, pela imprensa e pelos poderosos.
Mas ele é o poderoso. É o presidente, tem a caneta e a máquina pública a seu favor. Conseguiu fazer medidas inéditas em período eleitoral, como a distribuição de dinheiro para os mais pobres. Grandes empresários estão ao lado dele, inclusive financiando sua campanha eleitoral, como podemos comprovar no site do TSE. Artistas importantes, atletas e boa parte do mercado aplaudiram e ainda aplaudem Bolsonaro. E, sobre a Justiça, não foi ele quem passou mais de 500 dias na prisão. Aliás, seu filho, Flavio Bolsonaro, conseguiu dessa Justiça medidas importantes que paralisaram investigações sobre ele. Rendido pelo orçamento secreto, o Congresso também está com ele, aprovando a maioria de suas iniciativas.
Logo, o presidente não pode dizer que há um sistema contra ele. Poder, não pode. Mas diz. E vai construindo a narrativa para que, em caso de derrota, alimente sua torcida sabe Deus para quê. Como mostrou a agência Pública e outras reportagens, o alto comando militar brasileiro não entrou nessa dança. Quem vencer a eleição vai levar, destacou o comando das Forças Armadas no Estadão.
Por isso, hoje, saia com tranquilidade para votar. Escolha seu candidato com cuidado e amor. Sim, porque a democracia é também um ato de amor. De amor pelo país, pelas pessoas e pelo futuro. Vote em quem quiser. Vote no presidente, vote contra o presidente, vote até no, como disse Soraya Thronicke, “padre de festa junina”.
E confie. Os resultados têm a lisura que sempre tiveram. Nunca houve fraude nas urnas eletrônicas. Mesmo em 2018, quando foi eleito um presidente que se dizia contra o sistema. E não se esqueça, a realidade brasileira é muito maior que a sua timeline nas redes sociais.