Alçados ao segundo turno da eleição presidencial, os candidatos do PT, Dilma Rousseff, e do PSDB, Aécio Neves, têm esta segunda-feira para definir suas estratégias para a próxima etapa da disputa. A campanha recomeça no final da tarde de hoje, 24 horas após o encerramento da votação do último domingo.
A BBC Brasil ouviu analistas e assessores dos candidatos sobre como Dilma e Aécio deverão se comportar nesta fase. Agora, eles terão 14 dias para a campanha, período bem mais curto do que os 45 dias que antecederam o primeiro turno.
O prazo apertado, segundo analistas, dificulta mudanças de rumo na campanha. Portanto, dizem eles, candidatos têm pequena margem para erros nesta fase.
Uma questão central para o segundo turno é o destino dos votos de Marina Silva (PSB), ultrapassada com folga na reta final da campanha por Aécio. Analistas avaliam que, se o tucano obtiver o apoio formal da ex-ministra, suas chances de vitória aumentam exponencialmente. O rumo que Marina vai seguir nesta próxima etapa, no entanto, é incerto.
Embora durante a campanha a candidata tenha sinalizado que optaria pela neutralidade no caso de um segundo turno entre outras siglas – como fez na eleição de 2010 – alguns analistas identificaram no pronunciamento feito pela ambientalista após a divulgação dos resultados no domingo um sinal de que ela poderia apoiar Aécio Neves.
A expectativa é de que a candidata oficialize seu posicionamento ainda nesta semana. Caso ela permaneça neutra, dizem os analistas, Dilma será favorecida, já que Aécio precisaria herdar cerca de dois terços dos votos da ex-ministra para empatar a disputa com Dilma.
Pobres x classe média
Segundo o cientista político Jairo Nicolau, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Dilma tem como maior trunfo no segundo turno uma “conexão muito sólida” com os pobres brasileiros.
“Nas últimas seis disputas houve uma divisão entre os pobres de um lado e a classe média de outro. Os azuis (PSDB) ganham a classe média, e o vermelho (PT) ganha o povão. Esse padrão deve se repetir”.
Por outro lado, diz ele, das últimas eleições para cá a rejeição ao PT cresceu no País, e a estrutura do partido nos Estados está mais frágil neste pleito. “Uma ala grande do PMDB está com Aécio, e parte do PSB não volta mais (para a base governista)”.
Nicolau diz ainda que o mineiro conta com boa estrutura nos Estados e deve ser mais difícil de derrotar do que os últimos tucanos a disputar a Presidência, José Serra e Geraldo Alckmin.
“Ele tem uma atitude que tem sido bem avaliada nos debates, faz confronto direto com a Dilma e se protegeu das acusações mais óbvias, como as de que acabaria com os programas sociais e promoveria privatizações.”
Para o professor, o principal desafio do tucano é ganhar votos no Nordeste, região em que o PT venceu com grande vantagem.
Petrobras
Assessores de Aécio disseram à BBC Brasil que, no segundo turno, ele deve manter a estratégia de associar o governo federal a casos recentes de corrupção. A candidatura aposta em novas revelações do escândalo na Petrobras.
Nas últimas semanas, dois personagens envolvidos nas denúncias – o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa – depuseram em investigação sobre o suposto pagamento de propinas a políticos de partidos da base aliada do governo
Os depoimentos estão protegidos por sigilo, mas novos detalhes podem ser divulgados nos próximos dias. A presidente tem dito que seu governo está comprometido com o combate à corrupção na Petrobras, e que as gestões anteriores do PSDB acobertaram denúncias.
Para Antonio Flávio Testa, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), as denúncias de corrupção na Petrobras devem deixar Dilma na defensiva no segundo turno.
Para sair dessa posição, diz ele, ela tentará debater com Aécio programas de governo, detalhando as propostas para seu segundo mandato e se comprometendo a terminar as obras que não conseguiu concluir nos últimos quatro anos.
“No primeiro turno ela já mostrou tudo o que o governo fez, então agora deverá focar no futuro”, diz o professor.
Economia e comparações
Assessores tucanos afirmam que Aécio também continuará a criticar a política econômica do governo Dilma, que, segundo o tucano, teria provocado o crescimento da inflação, freado a expansão do PIB (Produto Interno Bruto) e afugentado investimentos.
Já assessores da presidente disseram à BBC Brasil que Dilma apostará na estratégia que o PT adotou nos últimos segundos turnos das disputas presidenciais, quando os candidatos petistas fizeram comparações entre os governos Lula-Dilma e a gestão FHC.
Segundo os assessores, a campanha preparou farto material de publicidade com comparações entre os governos para que fosse usado já primeiro turno, mas o conteúdo acabou engavetado quando Marina Silva entrou na disputa e tomou de Aécio o segundo lugar na disputa.
Para Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o primeiro desafio de Aécio será costurar uma aliança sólida com Geraldo Alckmin, que se reelegeu governador em São Paulo, e José Serra, eleito senador pelo mesmo Estado. São Paulo é o maior colégio eleitoral do país.
A missão não será fácil, diz ele, já que, segundo o professor, Alckmin e Serra atribuem à falta de empenho de Aécio o mau desempenho que os dois obtiveram em Minas nas eleições presidenciais a que concorreram, entre 2002 e 2010.
Romano afirma que a aliança costurada neste pleito em São Paulo entre Alckmin e o PSB – que indicou o vice da chapa, Márcio França – expõe a má vontade com Aécio entre os tucanos paulistas. “O PSDB paulista poderá aproveitar o segundo turno para se vingar de Aécio”.