Vices escolhidos por presidenciáveis não atraem voto novo nas eleições 2018, dizem analistas

Para cientistas políticos, maior parte dos nomes não abre diálogo com público em que presidenciáveis já eram influentes

6 ago 2018 - 10h26
(atualizado às 11h56)

A escolha dos candidatos a vice-presidente, definida em convenções partidárias nos últimos dias, serviu para reforçar o posicionamento da maior parte dos candidatos, agregou pouco eleitoralmente e, de maneira geral, não abriu diálogo com setores da sociedade em que os presidenciáveis já não tinham influência. A avaliação é de analistas políticos ouvidos pelo Estado na manhã desta segunda-feira, 6, um dia após a composição para todas as chapas à Presidência nas eleições 2018 estar definida.

Para o professor e cientista político da FGV Marco Antônio Teixeira, a escolha dos vices, que se deu no apagar das luzes, foi a "possível" e trouxe pouco em termos eleitorais. "De uma maneira geral, não agregou muito. Não há um vice que te leve a um lugar onde você não chega, que crie uma conversa com quem os candidatos já não conversavam", avalia.

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O professor Marco Aurélio Nogueira, coordenador do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais da Unesp, afirma que, como em qualquer pleito, a escolha dos vices busca uma ampliação dos apoios. "Todos tiveram essa preocupação, que não foi possível em vários casos por uma espécie de esgotamento das possibilidades", afirma.

Para analistas, escolha dos vices agrega pouco em termos eleitorais
Para analistas, escolha dos vices agrega pouco em termos eleitorais
Foto: Marcos Correa/Presidência da República / Estadão

Para os dois analistas, esse é o caso das candidaturas do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), que definiu o general da reserva do Exército Hamilton Mourão (PRTB), de Marina Silva (Rede), que escolheu Eduardo Jorge (PV), de Henrique Meirelles (MDB), que trouxe o ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto (MDB) e do senador Alvaro Dias (Podemos), que optou por Paulo Rabello de Castro (PSC).

Em menor escala, seria também o caso de Geraldo Alckmin (PSDB), que já tem relevância no Sul, de onde vem a senadora Ana Amélia (PP-RS). "Acredito que faltou estratégia eleitoral. O ponto fraco de Alckmin é o Nordeste, onde está 27% do eleitorado brasileiro e ele vai mal. Ele não tem nenhum apoio expressivo na região e foi buscar isso em outro lugar, onde já há um competidor expressivo (o presidenciável Alvaro Dias, do Podemos)", avalia.

Para Teixeira, a estratégia é mais de dividir o eleitorado do que de somar. "A Ana Amélia é alguém que consolida a relação com o Centrão (Solidariedade, DEM, PP, PR e PRB), traz o tempo que precisava, mas eleitoralmente o resultado me parece duvidoso. O ponto positivo é ser mulher", avalia.

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No caso de Kátia Abreu e Ciro Gomes, ambos do PDT, o cientista político acredita que Ciro "quebrou pontes" em suas tentativas de alianças com o Centrão e com o PSB e, isolado politicamente, optou pela solução caseira. "Do ponto de vista de recursos como tempo de TV e fundo eleitoral, não soma, apesar da notoriedade da Kátia. Além disso, é um perfil parecido, com língua afiada", diz. E, mesmo como uma representante do agronegócio, seu diálogo com o setor piorou depois do apoio a Dilma Rousseff (durante o período do impeachment).

Na avaliação de Cláudio Couto, professor de Gestão e Políticas Públicas da FGV-SP, o caso mais dramático é o de Bolsonaro, por ser um candidato que enfrenta dificuldades para dialogar com o público feminino. Para ele, a escolha de Mourão, presidente do Clube Militare, pode afastar segmentos que poderiam ser atraídos com um discurso mais flexível. "Essa decisão é um estreitamento do ponto de vista do perfil. É um vice que é 'mais do mesmo' e essa militarização da chapa é muito negativa. Não agregou nada e ainda pode tirar", afirma Couto.

Sobre a candidatura de Marina Silva, Cláudio Couto acredita que, dadas as fragilidades de tempo eleitoral, estrutura e dinheiro da Rede, a aliança com Eduardo Jorge foi positiva. "Por mínimo que seja, ampliar o tempo de TV é importante. Dá um alívio para a campanha", afirma.

No caso de Henrique Meirelles e Germano Rigotto, Couto acredita que a aliança não traz "nada". Para ele, um efeito prático da candidatura medebista é desviar o foco de Alckmin como sendo o candidato do governo. "Mas é uma candidatura que não apresentou capacidade de decolar e essa escolha não ajuda", diz.

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O caso do PT

Apesar de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estar potencialmente impedido de concorrer nas eleições após a condenação em segunda instância, o partido tem insistido em sua candidatura. O partido anunciou o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como "vice temporário" e Manuela D'Ávila (PCdoB) como eventual vice de Haddad, se Lula não puder ser candidato.

"Haddad e Manuela dão um ar de certa renovação por terem a imagem de jovens, não serem envolvidos em casos de corrupção. O obstáculo maior seria torná-los conhecidos nacionalmente", afirma Cláudio Couto.

O professor Marco Aurélio Nogueira, da Unesp, avalia que essa foi uma das escolhas que menos trouxe ampliação do eleitorado. "Haddad vem de dentro do partido e Manuela sempre girou em torno do PT", diz. Para ele, a decisão serviu para o partido colocar em prática a estratégia política do partido sem Lula.

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