O aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp anunciou nesta terça-feira, 3, sua primeira grande iniciativa para combater as notícias falsas na plataforma. A empresa vai oferecer bolsas de estudo para pesquisadores que se dediquem a entender o fenômeno. O investimento se junta a outras pequenas iniciativas que o WhatsApp - que faz parte do Facebook desde 2014 - vem adotando para tentar minimizar o problema, que tem se ampliado em países como Brasil e Índia - neste último, o aplicativo foi responsabilizado por uma onda de linchamentos a partir da disseminação de notícias falsas.
A princípio, a empresa vai oferecer 20 bolsas de estudo no valor de US$ 50 mil. Para obterem o valor, os especialistas deverão investigar qual o impacto que o compartilhamento de notícias falsas no WhatsApp tem na sociedade. A empresa vai priorizar estudos que abordem fatores como as motivações para pessoas considerarem um conteúdo confiável e o compartilharem no aplicativo e o uso do WhatsApp durante eleições.
Há também a preocupação em investigar formas de detectar comportamentos problemáticos no aplicativo, uma vez que todas as mensagens trocadas por seus mais de 1,5 bilhão de usuários no mundo - 120 milhões deles no Brasil - são criptografadas de ponta a ponta. Na prática, isso significa que elas são codificadas antes de sair do aparelho do remetente, passando pelos servidores do WhatsApp, até finalmente serem decodificadas no destinatário.
Segundo apurou o Estado, o WhatsApp está tentando avaliar, com a ajuda desses pesquisadores, como minimizar a circulação de boatos na plataforma, sem prejudicar a privacidade dos dados, uma bandeira que sempre foi defendida pela companhia. A partir das conclusões das pesquisas, a empresa pretende testar novos recursos.
Fontes ouvidas pela reportagem afirmam que as áreas de maior preocupação da empresa hoje no Brasil estão relacionadas a saúde e eleições. Contudo, há o entendimento de que as medidas não devem surtir efeito em curto prazo.
A empresa, no entanto, já testa uma nova função que vai sinalizar aos usuários quando eles receberem uma mensagem encaminhada por um contato, mas não escrita originalmente por ele. Além disso, o aplicativo de mensagens ampliou o poder de moderação dos administradores de grupos no aplicativo recentemente.
Educação
Para os especialistas ouvidos pelo Estado, investir na educação e no esclarecimento de notícias falsas é um bom começo para o WhatsApp. "É uma estratégia que tenta reduzir o impacto do serviço nessa disseminação", avalia Jacqueline de Souza Abreu, advogada especializada em direito digital. Segundo ela, o esforço considera a complexidade do serviço. "Se o Facebook equivale a uma praça pública, o WhatsApp é a sala de estar", diz Jacqueline. "Não queremos que exista controle sobre o que uma família conversa."
Diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade, Carlos Affonso de Souza vai na mesma linha. "A empresa precisa trabalhar em outros meios de conter notícias falsas que não impliquem no controle do conteúdo", diz. Para ele, um dos maiores problemas do aplicativo é o fato de ser possível compartilhar qualquer conteúdo "sem fricção" e com alto alcance. "Na rede social, a mensagem é filtrada pelo algoritmo e não chega a todos os seus amigos; no WhatsApp, não existe isso."
Souza, porém, chama a atenção para um ponto importante: "Notícia falsa é um problema de quem manda, mas também de quem recebe", diz. "É um dever cívico, ainda mais hoje, mostrar por que aquele dado é falso. Só assim vão ocorrer mudanças."